Eu fiquei na calçada olhando para a casa um minuto antes de me virar e olhar para Sam. “O que?”
“Você está brincando?”
“O que?”
“Esta é a casa do seu amigo?” Eu estava atordoado.
“Sim, eu sei. Parece chique, certo?”
Chique era um eufemismo.
“A esposa de Dom faleceu, como eu te disse, e os pais dela o ajudaram a comprá-la. Acho que era algo que ela lhes pediu para fazer na carta que ela deixou, cuidar dele e essas coisas. Sua esposa queria que ele tivesse uma casa. Seus pais ainda o ajudam de vez em quando, enviando-lhe dinheiro, presentes, e faz sentido, sabe? Quer dizer, se você pensar sobre isso, ele é tudo o que realmente ainda resta de sua filha.“
Sua lógica parecia falha. “Os pais devem ser cheios da grana, Sam.”
“Não realmente, mas entre o que eles mandam e alguns investimentos inteligentes que Dom fez, foi o suficiente para a casa.”
Ele não tinha ideia do que estava falando. Ele não sabia nada sobre o custo das casas, eu sabia. De jeito nenhum um investimento, por melhor que fosse, mais o dinheiro de sogros bem-intencionados, renderia uma casa como a que eu estava entrando. Da escada que levava até um jardim, no momento dormente, até a porta de vidro, a enorme porta francesa que dava para a rua, a sala de estar rebaixada, os quartos enormes, o bar completo, o deck nos fundos, era uma obra de arte e não uma que um homem que recebia o salário de um detetive poderia pagar. Eu tinha espiado e olhado a folha de pagamento de Sam e eu sabia que ele e Dominic Kairov estavam ambos no mesmo nível. Eu imaginei de que forma Dominic estava preparando seu ninho que os outros não estavam, mas eu não me sentia confortável perguntando essas coisas a Sam. O que ele queria compartilhar sobre seu parceiro, eu era mais do que feliz em ouvir, mas eu tenho a sensação de que sondar estava fora de questão.
Dominic, ou Dom, Kairov tinha estado com Sam desde seus dias de academia de polícia. Eles foram designados para a mesma delegacia após a graduação e tinham passado por bons e maus momentos. Bons, como quando ambos se tornaram detetives aos 31 anos, e ruins, como quando a esposa de Dominic cometeu suicídio há dois anos. Seus pais, Sam tinha me confidenciado, o tinham culpado, não pelo ato em si, mas pela depressão que a levou a isso. Entre suas longas ausências, infidelidade, e distância emocional, ele tinha sido o oposto de um marido modelo, por isso fiquei surpreso ao saber que tinham saltado para bancar a metade de uma hipoteca de milhões de dólares. Não fazia sentido, e Sam deveria ter notado, mas ninguém, incluindo Sam, questionava como Dominic estava vivendo porque sua esposa estava morta. Se ele disse que a família o ajudava, lhe dava presentes, então deve ser verdade. Eu sabia que Sam acreditava em Dominic; o homem era, afinal, seu parceiro, irmão e amigo.
Enquanto eu seguia Sam através da casa, ele foi parado várias vezes por pessoas que queriam falar com ele. Ele apertou muitas mãos, abraçou alguns homens e beijou várias mulheres. Fui apresentado simplesmente como Jory, mas ele me manteve perto, a mão na parte de trás do meu pescoço enquanto me guiava à sua frente pela casa. No deck traseiro, sentado ao lado da lareira, estavam os amigos mais próximos de Sam, os detetives que trabalhavam com ele no dia a dia. Dominic foi o primeiro a ficar de pé, puxando Sam para perto para um abraço bem masculino antes de empurrá-lo para longe.
“Ah, você trouxe a testemunha.” Ele sorriu para mim antes de se virar para Sam. “é para isso que serve a casa segura, amigo,” ele provocou seu amigo. “Você não recebeu o memorando?”
Sam sorriu para ele enquanto gemia que precisava de uma bebida.
Dominic assentiu, passou um braço ao redor de seus ombros, e o levou embora. Ele falou sobre seu ombro que eu podia segui-los até o bar. Não me perguntaram se eu queria alguma coisa porque eu não era, relativamente falando, o par de Sam. Eu poderia me virar sozinho como qualquer um dos outros caras. Eu os olhei ir embora antes de me virar para olhar o cômodo. Eu não conhecia ninguém, não tinha sido convidado, e tinha acabado de ser abandonado. Parecia ser o início de uma ótima noite.
Fiquei vagando, olhando as obras de arte caras, as taças de cristal Baccarat na mesa da sala de jantar e os móveis luxuosos. Havia tapetes que custavam mais do que meu aluguel, e novamente eu me perguntei como Dominic Kairov conseguia. Ao me sentar nas escadas ao lado de algumas mulheres descansando em uma pequena área da sala, ouvi o nome de Sam.
“Então, quem é essa garota com Sam e Dom?”, perguntou um deles.
Outra riu. “Essa é a garota que Dominic arrumou para Sam naquele encontro duplo, lembra?”
“Ah, certo,” a primeira menina disse. “Ela era agradável. O nome dela é Maggie alguma coisa.”
“Sim, sim, Maggie, é isso mesmo. Maggie Dixon.”
“Então, nosso Sam já teve dois encontros com ela?” A primeira garota arqueou uma sobrancelha perfeitamente desenhada. “Bem, isso é um a mais do que o habitual.”
“Ela é bonita,” outra menina opinou. “O que ela faz?”
“Eu acho que ela é professora. Terceira ou quarta série, eu acho.”
“Awww, uma professora para Sammy? Que gracinha!”
“Olhe para eles, eles são adoráveis juntos.”
Margaret Dixon era uma morena com curvas sinuosas, covinhas profundas e grandes olhos castanhos. Ela tinha uma risada gostosa, era afetuosa, e, de qualquer maneira, muito simpática. Ela era uma dessas pessoas melosas, então ela basicamente estava com suas mãos sobre Sam toda hora, mas era charmoso em vez de atirada ou ousada. Com o cabelo cacheado até o meio das costas, ela tinha aquela pele de pêssego que você sempre ouvia falar, mas nunca viu na vida real, e a silhueta de ampulheta estava sendo bem realçada pelos jeans apertado e camisa transpassada decotada. Ela era o tipo de garota pela qual os homens faziam fila. Ela fazia o tipo de Sam, as meninas comentaram e, ao vê-los juntos, era difícil não concordar.
Ele parecia à vontade com Maggie. Seus olhos eram suaves quando ele olhava para ela e, quando ele se inclinou sobre ela para lhe mostrar como segurar o taco de bilhar, as garotas fizeram o aww em harmonia. Eu o vi pegar uma bebida para ela, a deixou colocar a cereja na boca dele, e, em seguida, o vi devolver o cabo no qual tinha dado um nó com a língua. Algum comentário foi feito porque Maggie corou um tom cor de rosa e Sam arqueou uma sobrancelha e sorriu maliciosamente. As gargalhadas da mesa atraíram o olhar de todos. Eu estava pronto para ir. Escapuli pela cozinha para ver se havia água engarrafada em algum lugar.
A música ficou mais alta conforme a noite avançava, mas não estava tão pulsante no segundo andar. Eu encontrei uma sala de estar entre dois quartos que estava tranquila e cheia de edições anteriores da revista Architectural Digest. Eu encontrei uma foto com uma foto de Dane de dez anos atrás e dei uma boa risada sobre sua roupa, assim como seu cabelo. Tirei uma foto dele com meu telefone e lhe mandei uma mensagem de texto, perguntando-lhe o que estava acontecendo com ele na década de noventa. Eu já estava esperando quando meu telefone tocou.
“Não tem nada melhor para fazer do que me aborrecer?” ele perguntou, irritado.
“Não.”
“Por que não?”
Expliquei sobre o que eu estava fazendo e onde eu estava e me arrependi instantaneamente. Ele não estava muito satisfeito com a minha decisão de passar um tempo com Sam, e perguntou como eu poderia ficar sentado na casa de alguém fingindo ser algo que eu não era. Eu disse a ele que era a minha vida e ele prontamente me corrigiu. Já que eu passava mais horas com ele, no trabalho, do que em qualquer outro lugar, tecnicamente era sua vida e, como tal, ele tinha direito de opinar sobre onde e com quem eu passava o resto do meu tempo.
“Eu só quero estar com ele,” eu me defendi.
“Ótimo. Você está?”
Não havia argumento para isso.
“Então, a casa desse detetive é agradável?” Ele mudou de assunto. Foi legal da parte dele.
“A-ham.”
“Sim.”
“Sim,” eu repeti, revirando os olhos. “Na verdade é muito agradável.”
“Explique.”
“Eu acho que pode ter sido projetada por Peter Armand.”
Ele bufou. “Eu duvido muito que alguém que o seu detetive conheça more em uma casa do Armand.”
“Exatamente.”
“Vá para a frente da casa e tire uma foto, e eu vou poder dizer.”
“Tudo bem. Me ligue depois.”
“Pode deixar.” Ele bocejou e desligou.
Desci as escadas e saí pela porta da frente. Quando eu estava do outro lado da rua, levantei meu telefone para tirar uma foto. Ouvi o ruído de pneus assim que eu terminei de enviar a foto para Dane.
Havia dois Hummers negros e que despejaram pessoas na rua. Eu recuei enquanto observava os homens subirem as escadas, chutarem a porta da frente, e invadir. Os gritos eram podiam ser ouvidos da rua quando a música foi interrompida abruptamente. Eu ouvi fogos de artifício explodindo dentro junto com o show relâmpago. Abaixei-me atrás do Lexus ao meu lado e disquei 911.
Eu disse ao operador que estava na casa de um detetive da polícia e que estava são e conciso enquanto dei o endereço e li ambas as placas de cada Hummer. Eles não haviam deixado ninguém nos carros, então eu escapei até o mais próximo e peguei as chaves. Quase no mesmo segundo, eu ouvi alguém gritar o nome de Dominic. Não havia engano sobre quem eles estavam lá para ver. Pelo menos eu estava fora, onde eu poderia ajudar.
Tudo o que eu conseguia pensar era em salvar Sam, apesar de odiá-lo. Eu buzinei e quando três dos caras apareceram na porta francesa, eu acenei do Hummer antes de entrar. Tranquei as portas, dei a partida e estava esperando uma explosão feroz de velocidade, mas recebi apenas um rastejar lento. Vidro explodiu ao meu redor quando as janelas foram atingidas e o carro foi alvejado com balas. A regra de movimento se aplicava, porém, e quando peguei velocidade descendo a pequena colina, ouvi o ruído das sirenes. Eu consegui sair da estrada principal enquanto uma parede de carros de polícia passava por mim; contei dez ao todo e continuei, pegando cada rua secundária que eu conseguia encontrar. Não que alguém estivesse atrás de mim, mas um carro crivado de balas se destacava. Fiquei pensando que eu era mais furioso do que assustado. Chumbo voando deveria ser horrível, mas tudo o que eu via, o que não parava de retornar à minha cabeça, era a maneira que Sam estava olhando para Maggie. Eu queria que ele me olhasse daquela maneira.
Eu dirigi até seu apartamento e peguei minhas coisas porque eu não queria ficar entre ele e a promessa de seu final feliz para sempre. Ele, obviamente, achava Maggie Dixon encantadora e merecia a chance de ver aonde isso levaria, sem ter que se preocupar comigo. Ela era, provavelmente, a razão pela qual ele tinha insistido em ir à festa de Dominic em primeiro lugar. Sam não era do tipo que fazia qualquer coisa sem querer, assim essa saída deve ter tido mais a ver com a presença dela do que qualquer outra coisa. Perdido em meus pensamentos, quando eu finalmente olhei para o meu telefone, percebi que tinha 20 chamadas não atendidas. Eu não tinha nem ouvido o toque insistente.
“Jory?” Sam disse rapidamente, atendendo no primeiro toque. “Você está bem?”
“Eu estou bem.” Eu tremia, mas não de frio. O Hummer tinha assentos aquecidos. “Você está bem? Você não se machucou, não é?”
“Não, eu não me machuquei! Jesus Cristo, o que diabos você estava pensando ao fazer aquela manobra fodida?”
“Atraiu os caras para fora da casa, não foi?”
“Jory! Onde diabos você está?”
“Eu não faço ideia,” eu disse, me inclinando para frente, tentando ler uma placa de rua. “Mas acho que estou perto de Midway.”
“Jory, porra! Estacione e espere por mim. Eu...”
“Sabe, Sam, não é uma boa ideia. Passei na sua casa e peguei as minhas coisas. Eu...”
“Você o quê?”
“Eu acho que cometi um erro e nós dois sabemos que você também acha.”
“Eu não sei do que você...”
“Assistir você flertar com Maggie Dixon a noite toda não está no topo da minha lista de coisas divertidas para fazer.”
“Jory! Deus, ninguém me deixa tão furioso como você! Não sei como você sobreviveu todo esse tempo!”
Eu grunhi, acenando para o outro carro no cruzamento, aquele que eu tinha quase batido. Eu não estava prestando atenção ao que eu estava fazendo, o que era perigoso quando você estava pilotando a Enterprise. Inclinei-me para fora da janela a gritar para eles.
“Desculpe, carrão – não te vi! Minha culpa.”
“Jory!”
Merda. Sam. Mudei o telefone de volta para onde eu conseguia falar. “Então, eu acho que talvez eu devesse apenas deixar você ir em frente com sua vida e...”
“Jory... Jory...”
Nova voz, mais calma, um pouco mais profunda. “Jory.”
“Sim?”
“Jory, aqui é Dominic. Onde está você, amigo?”
“Você está bem?”
“Eu estou bem. Onde está você?”
“Alguém se machucou?”
“Jory, você...”
“Fui eu quem ligou para a polícia.”
“Eu sei que você ligou, companheiro e eu – todos nós agradecemos – mas...”
“Você tem certeza que está bem?”
“Jory... amigo... você está em estado de choque, não está?”
“O que?”
Ele suspirou profundamente. “Jory, você salvou a vida de todos nós. Deus sabe o que teria acontecido se você não tivesse feito o que fez. Mas você os atraiu para longe de todos e... merda. Primeiro você ligou pedindo reforço como uma porra de um profissional e fez com que cada um desses desgraçados fossem presos. Isso foi incrível, e você – você precisa deixar Sammy ir te buscar e te levar para a casa dele.”
“Eu não acho que isso vai dar certo.”
“Por que não?”
“Simplesmente não vai.”
“Bem, então vamos colocá-lo em uma casa segura, onde...”
“Talvez eu devesse ir embora, não?”
“Não, não, não, Jory, apenas...”
“Eu não quero dizer que eu não iria depor. Eu me certificaria de que – oh merda, espere,” eu disse a ele, desconectando para falar com Dane. “Oi.”
“Essa é uma casa de Armand. Como é que alguém que recebe um salário de policial...“
“Eu não posso falar agora.”
“Por que não?”
“Eu meio que estou com problemas.”
“Que tipo de problemas?”
“Você nunca acreditaria em mim.”
“Oh, eu tenho certeza que acreditaria em você. Você ainda está na casa do amigo do detetive?”
“Não.”
“Então, onde você está?”
“Eu não sei exatamente.” Eu o enrolei.
“Você está enrolando. Diga-me.”
Então eu expliquei sobre o Hummer e as balas nele e como eu estava dirigindo a esmo. Quando terminei só havia silêncio em sua extremidade. “Dane?”
“Você está brincando?”
“Não.”
Ele limpou a garganta. “Eu estou no Valentine Lounge, no centro. Eu quero você aqui em 20 minutos.”
“Não.”
“Não?”
“Chefe...”
“Dane,” ele me corrigiu.
“Ah, sim,” Eu balancei a cabeça para mim mesmo. “Sinto muito.”
“Jory, eu quero você aqui.”
“Mas o que eu vou fazer com o Hummer?”
“Estacione em algum lugar.” Ele respirou. “Em qualquer lugar.”
“Você deveria ter visto as armas e tal. Foi loucamente assustador.”
“É mesmo?” ele disse secamente. “Loucamente assustador.”
“Sim.” Eu suspirei porque estava desabando, minha adrenalina deixando meu corpo, e sua voz do outro lado da linha soou como meu lar por algum motivo. Eu estava delirando.
“Ouça, Jory,” disse ele, deixando escapar um suspiro profundo. “Eu preciso falar com você sobre uma coisa, então preciso que você venha me ver. Não me faça esperar.”
Desliguei meu telefone para que Sam não pudesse me encontrar, e fui encontrar Dane. Eu me perguntei vagamente quando minha vida iria acalmar. Qualquer momento seria bom.
* * * * *
Deixei o Hummer em um lote vago, e minhas roupas e coisas no terminal do trem – usei três armários – antes de ir ao encontro de Dane no Valentine Lounge. Era um lugar muito chique que tocava principalmente bossa nova e servia muito martini com azeitona. Eu tinha estado lá uma vez em um encontro com Rafael Soto. Ele gostava de me vestir e me levar para sair, me exibir e depois me levar para casa. Após o terceiro encontro em que ele nem sequer me tocou porque não queria que eu amassasse, eu lhe disse para cair fora. O que eu tinha achado charmoso e cavalheiresco tinha sido realmente louco. Mas eu sabia onde o lugar era por causa dele, de modo que tudo, de fato, sempre acontece por uma razão. Às vezes, demorava um longo tempo para descobrir o porquê.
Dane estava sentado quase no meio do local em um sofá cercado por pessoas. Eles eram seus amigos, mas havia duas mulheres que eu não conhecia, uma de cada lado dele. Quando ele me viu, fez um gesto com a mão para que eu me apressasse e eu me movi tão rápido quanto consegui. Eu me senti estúpido ali de pé com as mãos enfiadas nos bolsos de meu jeans, parecendo meio fora de mim, com certeza. Ele se levantou e pegou um punhado da minha camisa e me puxou para frente em seus braços. Fiquei rígido porque ele nunca me abraçava, mas a mão no meu cabelo me segurando contra ele, a outra esfregando círculos em minhas costas era demais. Eu tremia muito e meus braços envolveram sua cintura. Ele me deu um último abraço apertado e me empurrou para que pudesse me ver.
“Dane?” uma das mulheres perguntou. “Quem é...”
“Esse é o irmão dele, Jory,” Jude ofereceu e eu me virei para olhar para ele.
Ele sorriu e acenou com a cabeça e eu olhei nos olhos de Dane.
“É sobre isso que nós vamos conversar,” disse rispidamente, a mão na parte de trás do meu pescoço enquanto ele me levava a alguns metros de distância dos outros. Quando ele se virou, as duas mãos foram para os meus ombros. “Eu estava ia ter uma longa conversa com você no escritório, mas, em primeiro lugar, você pode não estar vivo até segunda-feira se continuar assim, então eu tenho que intervir agora; em segundo lugar, não há mais nenhuma formalidade entre nós então eu posso muito bem lhe contar o meu plano aqui no Valentine Lounge.“
Fiquei em silêncio, esperando.
“Jory, nós vamos mudar seu sobrenome de Keyes para Harcourt, eu vou fazer de você o beneficiário de meu patrimônio, e você vai ter acesso a muitas coisas que não tem agora.“
Fiquei em silêncio e ele apenas olhou nos meus olhos. “O que?” Eu disse finalmente.
“Eu não estou adotando você, eu não vou cuidar de você... você ainda tem que trabalhar e trilhar seu próprio caminho e tudo mais, mas você não precisa ter Keyes como sobrenome e não precisa dizer não a mim.“
“Eu não posso viver com você ou sustentado por você ou...”
“Quem está pedindo isso? Eu não viveria com você por nada,” ele se virou para mim. “Aí mesmo você estaria morto em uma semana, porque eu o atiraria para fora da varanda de minha casa.”
“Mas...”
“E, a propósito, você está demitido.”
Fiquei espantado enquanto olhava para ele.
“Seus olhos estão enormes,” ele riu.
“Você não pode me demitir.”
“Ah, não?”
“Mas...”
“Só... fique quieto.”
Eu fiquei em silêncio e esperei.
Ele tomou uma respiração profunda. “Você trabalha para mim há cinco anos, e nesse tempo você já passou de meu assistente para meu amigo, a pessoa que eu imagino em minha vida sempre. E eu posso dizer tudo isso porque você ser gay não tem nada a ver comigo. Quero cuidar de você, mas estar na cama com você não é minha ideia de diversão. Você é simplesmente o irmão que eu nunca tive e que eu quero manter. E por essa razão, eu não posso trabalhar com você. Eu consegui uma entrevista para você na segunda de manhã, às nove, na Barrington com David O'Shea, para uma posição em seu departamento de design gráfico. É bem nível inicial e você vai ganhar menos do que ganha agora, então se precisar de alguma coisa, venha até mim para um empréstimo que você vai ter que me pagar. Isso é o que a família faz. Você pode manter seu AMEX também. Já tem seu nome nele. “
“Dane, eu...”
“Foi o que me fez pensar sobre tudo isso. Naquele dia fomos à Macy e eu estava pegando o meu cartão e você pagou com o seu. Pensei, ele tem um cartão de crédito que eu pago com o nome dele. Eu sei é só para o trabalho, mas ainda assim, é como se nós estivéssemos ligados de alguma forma.“ Ele suspirou e olhou em meus olhos. “Eu pensei, é assim que eu quero que seja. Eu não quero apenas guiar sua vida no trabalho, eu quero ter uma palavra em todo o tempo. E mesmo como amigo, eu não tenho poder suficiente... então eu comecei a pensar e foi isso que eu decidi. Você vai ser o meu irmão.“
“Você não pode simplesmente...”
“Eu já falei com o meu advogado,” ele acenou. “Eu posso fazer tudo. Amanhã de manhã você vai assinar os papéis comigo no brunch que nós vamos ter, juntamente com meu advogado, e você vai passar de Jory Keyes para Jory Harcourt. Você precisa tirar uma nova carteira de motorista e um cartão de segurança social, mas além isso, está feito. Jory Keyes deixará de existir e Jory Harcourt nascerá.“
“Eu não quero ser um...”
“Sim, você quer.”
“Eu não estou dizendo que não quero ser um Harcourt, eu não quero ser um designer gráfico.”
“Sim, você quer.”
“Não, eu não quero!”
“Sim ... você quer. Eu sei que você quer. Eu observo você. E ser meu assistente não te satisfaz. Você precisa de uma carreira, não um trabalho, e dessa forma você pode ficar perto de mim e encontrar o emprego dos seus sonhos. Nós dois sabemos que a única razão pela qual você ainda não pediu demissão é porque você estava preocupado em me perder. Preocupação resolvida.”
“Você pode ser mais convencido?”
“Como assim?”
“Você acha que a única razão para eu ficar é para estar perto de você?”
“Sim. Eu sei que é. Você acha que se você for embora eu vou desaparecer da sua vida.”
Eu olhei para ele.
“Eu não vou.”
Eu limpei minha garganta. “Quem você vai contratar para ser seu assistente?”
“Eu contratei uma mulher maravilhosa esta manhã. Ela é mais velha do que eu e parece muito simpática e extremamente profissional. Gostei dela na hora em que a conheci.”
Eu olhei para ele. “Você me substituiu.”
“Eu contratei um assistente novo, mas vou manter você.”
Tentei processar em meu cérebro tudo o que ele disse.
“Para começar, o lugar onde você vive... a partir de agora você faz os pagamentos para si mesmo. Você está comprando de mim. Uma vez quitado, você pode comprá-lo ou fazer o que quiser.”
Foi difícil. Eu não era um caso de caridade. “Eu não mereço tudo isso.”
“Você merece cada parte,” disse ele solenemente. “E quem pode dizer o que a pessoa merece ou não? Nós nos encaixamos e eu quero que você seja minha família. Não precisa fazer disso um grande negócio. Nós ainda somos nós, você ainda é você – só que agora você tem a mim para cuidar de você.“
Fiz uma careta para ele. “Você quer cuidar da minha vida.”
“Eu acho que foi o que eu acabei de dizer.”
Minha mente estava correndo. “Como você pode me dar o seu nome?”
“Eu fui adotado e ganhei o meu nome. Meus pais se foram, você sabe disso, e havia apenas o meu pai, ele não tinha irmãos ou irmãs e ambos os seus pais morreram antes de eu nascer. Não há outro Harcourt com quem eu seja relacionado, por isso sou apenas eu... e agora você. Nós vamos fazer a nossa própria história. “
Eu olhei para os olhos cinzentos que eu conhecia tão bem. Engraçado que, um pouco antes, eu estava pensando no homem como meu lar. Acontece que ele realmente era.
“E eu vou me casar um dia e você vai estar lá comigo. Depois que eu tiver filhos, você vai ser um tio e vai nos visitar a cada feriado de Ação de Graças e Natal e virá jantar com sua família nas noites de domingo. Você trará o seu parceiro junto com você e, um dia, eu tenho certeza... seus próprios filhos.”
O ar tinha sido sugado do quarto e eu senti meu coração batendo no meu peito.
“Isto é o que eu quero.” Ele sorriu para mim, a mão do lado do meu pescoço. “Tudo bem?”
Eu não conseguia falar.
Ele soltou uma respiração rápida. “Desta vez,” ele sussurrou com voz rouca e vi os músculos de sua mandíbula trabalhando quando ele apertou os lábios. “Eu quero que você seja meu irmão. Eu – você sabe. Eu quero que você fique. Apenas concorde.”
Finalmente eu entendi, e a simplicidade chegava a ser impressionante. Ele me amava. Ele não conseguia dizer porque as palavras foram demais, elas pesavam muito entre nós, mas eu vi em seu olhar firme, senti no calor da mão no meu rosto, e ouvi a maneira que ele estava segurando a respiração. Esperando por mim. Ele esperaria para sempre se eu pedisse. Eu assenti porque eu não conseguia falar.
Seu braço deslizou em volta do meu pescoço quando ele me puxou para perto, me abraçando apertado, com o queixo apoiado em minha cabeça enquanto ele me agradecia.
“Sou eu quem deveria agradecer ,” eu resmunguei.
“Não,” ele disse, empurrando-me para longe. “Vamos.”
“Para onde vam...”
“Eu vou te levar para casa, para minha casa. Eu não confio em você para estar seguro em qualquer outro lugar.”
“Mas você não precisa deixar seus...”
“Onde estão as suas coisas?”
Expliquei sobre o terminal de trem.
Mão na parte de trás do meu pescoço. “Vamos pegar as suas coisas. Você está desabando, mal consegue ficar de pé. “
“Isso não é....” Comecei a falar e quase tropecei em meus próprios pés. “Merda.”
Ele riu quando me guiou de volta para os outros. Quando ele anunciou que tinha que ir embora – emergência familiar – a alegria em seu tom não poderia ser ignorada. Seu amigo Jude sorriu para mim e eu fui parabenizado por uma escolha bem feita.
* * * * *
Dane morava em um edifício muito exclusivo, no centro, perto da torre de água. Havia um guarda de segurança que ficava sentado atrás da mesa quando você entrava e outro perto dos elevadores. Eram homens de médio porte, muito legais, nem um pouco ameaçadores, o que era, de algum modo, mais pavoroso do que se fossem grandes e assustadores. Você via que eles poderiam se tornar ameaçadores muito rapidamente. O fato de que ambos estavam carregando armas não mudaria a imagem. Se você tentasse ferir alguém no prédio de Dane, você poderia ser morto. Devia ser reconfortante para os moradores, mesmo que desse arrepios em seus visitantes. Provavelmente, esse era o objetivo.
Por dentro, o apartamento de Dane tinha dois andares. O primeiro andar era uma sala gigante onde a sala de estar, sala de jantar e a cozinha meio que se misturavam. A escada de aço subia do primeiro andar para o segundo onde ficavam seu escritório, quarto e banheiro, dois quartos de hóspedes e outro banheiro. Ele tinha uma sala do sol onde ficavam a piscina e a sauna e que levava à varanda que dava para o Lago Michigan. No primeiro andar, havia outra sacada com vista para o outro lado, em direção à cidade. Era um lugar deslumbrante para se viver, e ainda mais emocionante porque ele podia simplesmente descer e estar no centro da cidade onde toda a vida noturna e os melhores lugares para se fazer compras estavam. Eu sempre adorei e ficava realmente animado quando ele saía da cidade e eu ficava cuidando da casa. Enquanto eu estava na sala de estar olhando para a varanda, ele passou e me passou um conjunto de chaves e o cartão para o elevador.
“Eu tenho as chaves da sua casa,” ele me assegurou, bocejando enquanto subia as escadas para o segundo andar. “Vou preparar o outro quarto para você. Só me dê um minuto.”
Ele estava me assustando, agindo como se tudo estivesse normal. E, para ele, provavelmente era. Como o meu novo status tinha sido sua decisão, ele teve tempo para assimilar tudo em sua mente. Era eu quem havia acordado na Twilight Zone . Quando meu telefone tocou, eu atendi sem sequer verificar o número.
“Jory.”
“Oi.” Eu suspirei. “Você está bem, Sam?”
“Diga-me onde você está.”
Eu desabei sobre o sofá de couro. “Estou seguro, não se preocupe.”
“Como não me preocupar? Eu...”
“Sam,” eu disse suavemente. “Você já reparou que nós fazemos uma trégua e depois nos separamos de novo?”
“Do que você está falando?”
“Eu quero dizer que temos esses momentos de felicidade seguidos de merda total.” Eu estava cansado e podia ouvir em minha voz. “É cansativo, não é?”
“O que você está tentando dizer?”
“Eu não estou tentando dizer nada, estou sendo direto. Você não está preparado para mim.“
“Do que diabos você está falando?”
“Eu vi você com aquela garota, Sam. Eu vi como você estava olhando para ela. Você não pode mentir e me dizer que você não estava interessado nela. Eu vi você. Maggie Dixon lhe interessa.”
“E daí?”
Não houve negação, só uma resposta defensiva. Eu atingi um nervo. “Então, vá em frente – veja onde te leva.”
“Você acha que eu preciso de sua permissão, seu pedaço de merda arrogante?”
“Eu acho que o que você disse naquela noite no carro era tudo verdade. Você quer o que os seus pais têm, mas também quer ir para a cama comigo. Você não pode ter ambos.“
“Você não tem o direito de me dizer o que eu posso ou não posso ter.”
“Eu sei, mas nós continuamos fazendo isso e o resultado não muda nunca. Nós nos separamos ao primeiro sinal de problemas.”
“Nós não rompemos, você foge. Você sempre foge.”
“Eu não me encaixo em sua vida, Sam. Você me deixou esta noite na festa porque teria parecido estranho se você me mantivesse ao seu lado. Maggie se encaixa perfeitamente. Eu não.”
“Você não sabe de nada.”
“Negue que você me abandonou.”
“Jory, era o aniversário de Dom – era a festa dele, não sua.”
“Então, querer você comigo ou querer que você me incluísse, isso foi egoísta da minha parte.”
“Por que você não se entrosou com meus amigos?”
“Por que você não me manteve ao seu lado?”
“Eu tinha que fazer o que, segurar a sua mão a noite toda?”
“Eu não esperava isso... Eu só esperava ser incluído.”
“Você é incapaz de pensar em mais ninguém além de si mesmo.”
“É mesmo?”
“É, é verdade.”
Nós estávamos falando em círculos. Eu pensava que ele estava errado, ele achava que eu estava errado, não havia meio termo, nunca chegaríamos a nenhum entendimento.
“Você vai contar a Dom sobre mim, Sam?”
“Você disse que esperaria por mim...”
“Vamos lá, seja honesto, você não consegue e sabe disso. Sua vida não funciona com um parceiro, só funciona com uma mulher. Por que lutar?” Esperei apenas alguns segundos por uma resposta. “Seus pais vão adorar Maggie.”
“Sabe, Jory, é engraçado que você ache que, de todas as pessoas, você saiba o que é bom para mim. Você não consegue nem ao menos cuidar de si mesmo, mas acha que sabe o que é melhor para mim.”
“Negue que seja verdade.”
“Eu acho que talvez seja uma coisa boa que você vá embora. Você, obviamente, não sabe nada sobre dar apoio através dos tempos difíceis. Você foge ao primeiro sinal de problemas. Você desiste fácil e deve saber disso sobre si mesmo.“
“Só se não houver realmente nenhuma maneira de vencer.” Suspirei profundamente.
“Você não pode se enganar e pensar que as coisas vão funcionar quando os fatos estão bem na sua frente.”
“Você é realmente estúpido.”
“Ok.”
“Vai estar acabado dessa vez, sabe? Eu não posso continuar correndo atrás de você.”
“Claro,” eu disse quando meus olhos se encheram de lágrimas. “Eu sei.”
“Você ao menos se importa?”
Eu me importava mais do que poderia expressar. Eu nunca, nunca tinha sido mais louco por qualquer outra pessoa. Sam Kage era o homem dos meus sonhos; pena que estar com ele sempre se tornava um pesadelo.
“Cuide-se,” ele disse, e desligou.
Eu caí de lado no sofá. Choraria por ele e pelo fim do nosso caso no café da manhã. Estava muito cansado no momento, não conseguia manter meus olhos abertos. Eu não me lembro de ter ido para a cama.
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Bjs