/ / COMO APRENDI A VIVER A VIDA / /
Chegamos ainda cedo em SP, pegamos um taxi e logo estávamos em casa, minha mãe ligou perguntando por que eu não fui me despedir dela, inventei uma desculpa qualquer... A verdade era que eu não queria ver meu pai.
- Gusta vou pro meu quarto descansar, estou sem fome se quiser fazer comida pode fazer só pra vc...
- Ok! Hoje vou falar com o Junior, precisamos acertar de como vai ficar a divisão das coisas: Casa, carro e o dinheiro na conta.
- Espero que dê tudo certo. – falei me retirando e indo até o meu quarto
Quando entrei no quarto vi uma camisa que tinha feito pro meu avô no dia dos pais, eu fiz uma camisa pra mim e outra para ele, a minha tinha a foto dele estampada e a dele tinha a minha. Me agarrei a camisa e não pude conter as lágrimas que se esforçavam para sair, dormi agarrado com aquela camisa, acordei pelo meu telefone tocando.
- Alô?
- Paulo? Já está em SP?
- Júlio?
- É sou eu rs, então já chegou? Tava pensando em darmos uma organizada no trabalho hoje, comecei a fazer algumas coisas e queria mostrar pra você para saber o que você acha.
- Cheguei sim, pode ser... Nos encontramos na Universidade?
- Faz assim, eu tou saindo agora e passo ai na sua casa e te trago aqui pra casa.
- Ok! Pode ser, vou tomar um banho e organizar meus materiais e fico te aguardando.
Desligamos e assim eu fiz, logo ele buzinou, eu sai e ele estava na SW4 preta.
- Oi – falei entrando.
- Oi, tudo bem?
- Na medida do possível.
Ele deu partida no carro e fomos todo o trajeto em silêncio. Entramos em um condomínio fechado, casas grandes que ostentavam luxo. Ele entrou na garagem de uma dessas casas, descemos e entramos na casa, era enorme, tudo era branco... desde o porcelanato aos móveis, alguns empregados andavam por entre a casa, eu fiquei desnorteado com o tamanho e a ostentação do lugar.
- Bem, seja bem vindo a minha casa.
- Nossa é...
- Grande? Também acho um exagero. Vem quero te apresentar a uma pessoa.
Segui-o até a cozinha.
- Rosa, trouxe ele...
- Olá... você deve ser o Paulo!
- Olá, sou sim! – falei meio seco
- Rosa não leve a mal, ele é sério assim, mas é muito legal.
- Hmmm, menino o Julio passa o tempo todo falando de você... Paulo pra lá, Paulo pra cá...
- Uai Julio?! – falei sem entender.
- Rosa! Sem exageros ta? Então Paulo... Rosa é como uma mãe pra mim, ela sabe de tudo na minha vida, mais do que a minha mãe.
- Prazer Rosa rs, desculpe pelo temperamento, espero que Julio não tenha falado coisas feias a meu respeito.
- Só estava louca para conhecer você rs, meu menino voltou a ser feliz, desde que...
- Rosa... – falou Julio a interrompendo.
- Vamos subir Paulo?
- Vamos sim!
Subimos até o quarto dele, era enorme...e tudo o que tinha lá também, tinha uma sala de estudos com uma mini biblioteca, computador varias outras coisas.
- Nossa! Amei sua sala de estudos.
- Meu pai me deu de presente.
Ele me mostrou o que ele tinha organizado do trabalho, eu modifiquei algumas coisas e ele só observava.
- Acho que ficou melhor assim!
- Concordo! Você consegue ser perfeito até pra fazer um trabalho.
Eu corei na hora e perguntei onde era o banheiro, ele me ensinou e eu fui até lá. Entrei e respirei fundo, às vezes é difícil entender os caminhos que a vida nos faz percorrer, as vezes tudo parecia desabar ao mesmo instante as coisas andavam e logo depois desandavam novamente.
Estava perdido em meus pensamentos quando Julio bateu a porta
- Desculpa! Estava pensando na vida.
- Preocupado com alguma coisa?
- Não rs, Só pensando nos rumos que a vida nos dar.
Voltamos até a sala de estudos, ele agora digitava algumas coisas e eu só observava. Pela primeira vez parei observando o Julio: Ele era um rapaz negro tinha uns 1.80 de altura, não era malhado, mas tinha o corpo definido, cabelos pretos lisos, uma barba aparada, às vezes usava óculos, às vezes lente.
- Julio? Sem querer sem intrometido, mas já sendo... Por que você interrompeu a dona Rosa naquela hora?
- Que hora?
- Julio! Não se faça de sonso, se não quer falar tudo bem, mas não venha bancar a pêssega pra cima de mim!
- Eii, você é estressadinho hein... – falou ele virando pra mim e me olhando nos olhos.
- É uma longa história... Há uns seis meses atrás eu namorava uma garota e ela é linda, sempre fui muito apegado ao meu primo... Ele vivia aqui em casa e eu na dele, ele também namorava com uma garota... Certo dia nós saímos para a balada e fomos para a casa dele bêbados, os pais dele tinha viajado e no meio da noite eu acordo como ele tentando me beijar... Acho que ainda pelo efeito do álcool, nós acabamos transando. Na manhã seguinte ele contou tudo a minha família e a minha namorada, ele disse que eu o embebedei e me aproveitei dele, resumindo todos se voltaram contra mim, perdi minha namorada... Foi por isso que eu tranquei a faculdade, passava o tempo trancado no meu quarto, todos na faculdade zombavam de mim, na rua do mesmo jeito...
- Nossa! Que tenso!
- E você? Agora me conta sobre sua vida...
Eu contei a ele sobre a minha vida, tudo o que tinha me acontecido até sobre o Ricardo, não sabia o porquê de ter coragem e estar ali contando tudo aquilo a ele, mas senti segurança e confortável para me abrir.
- Nossa! Quase chorei rs. Sabe o mais intrigante é que eu nunca tinha ficado com nenhum homem, ele foi o primeiro e o pior é que eu gostei não que tenha gostado dele, não! Eu sinto raiva da molecagem que ele fez, mas eu gostei da experiência, nunca mais fiquei com nenhum cara, mas as vezes me pego observando eles, as vezes me pego observando você.
Nesse momento eu corei novamente.
- Vamos? Já está tarde! – falei levantando e tentando sair daquela indireta.
- Fica pra jantar conosco? Meus pais estão quase chegando da empresa. Você vai gostar muito deles.
- Não sei... Meu primo já deve estar preocupado comigo, e até eu chegar a casa com esses ônibus lotados.
- Por favor, Paulo! Eu te levo em casa, não deixaria você ir de ônibus.
- Tudo bem então... Você é insistente hein...
- Sou persistente! Uma coisa que aprendi com dona Rosa é que temos que ser persistentes para atingirmos o nosso alvo.
- aah ta e no caso o alvo sou eu?
- Digamos que sim! Rsrs
- Seu cara limpa rsrs!
- Meninos com licença, Seu Juan e dona Cassandra já estão lá embaixo, o jantar já está servido!
- Oba! Obrigado Rosa, Vamos Paulo?
- Vamos sim!
Chegamos à sala e lá estavam os pais dele: a mãe era negra também, tinha um Black Power e era linda, o pai era branco tinha os cabelos negros e lisos e era um coroa bonito também. Daí vi a mistura dos dois em Julio.
- Boa Noite! – falei meio tímido.
- Olá, tudo bem? Você deve ser o famoso Paulo! – falou a mãe de Julio que parecia ser bem legal.
- Boa Noite rapaz, sente-se – falou o pai dele que já era mais sério.
- Pai, mãe esse aqui é sim o Paulo. Meu colega de curso! Nós estamos fazendo um trabalho juntos então se acostumem ele vai freqüentar muito essa casa!
- Seja sempre bem vindo Paulo! É bom ver que meu filho voltou a ter brilho no olhar.
- Obrigado senhora!
- Cassandra ta? - falou a mãe dele
- Minha mãe não gosta dessas formalidades...
- Desculpe!
Ficamos conversando por um tempo, eu subi peguei minha mochila me despedi de Rosa, dos pais de Julio que me receberam bem, entramos no carro e seguimos.
- Seus pais são legais!
- Eu disse que você gostaria deles.
- Eles sabem que eu sou pobre?
- Nossa cara! Você parece que tem preconceito consigo mesmo! Nem todo mundo é como você pensa! Meus pais vieram debaixo Paulo, nós podemos morar numa casa bacana, mas sabemos dar valor ao que temos e nunca tivemos diferença com ninguém por causa disso. Sim! Eles sabem que você é pobre e isso não mudou em nada.
- Desculpa! É que sei lá...
- Tudo bem, só não toca mais nesse tipo de assunto comigo ok? Não gosto de ver você se rebaixando assim.
- Ok!
Chegamos até minha casa e ele parou o carro de frente.
- Está entregue mocinho!
- Obrigado Julio! Gostei muito de conhecer sua família.
- Preciso te confessar uma coisa! O brilho que minha mãe falou... é por sua causa... desde que te vi que vi que você era diferente e quando me aproximei de vc, pude perceber que você era muito alem do que eu imaginei.
- Nossa nem sei o que falar...
- Não precisa dizer nada... Apenas me deixa ficar perto de você.
Nesse momento ele se aproximou de mim tentando me beijar, mas eu desviei o rosto.
- Desculpa cara, mas eu tenho medo, medo de...
- Medo de eu ser a versão André 2.0? Paulo eu nunca te machucaria... eu te levei até minha casa, te apresentei para as pessoas mais importantes da minha vida! Me da uma chance de te provar que existem pessoas boas.
- Sabe é tudo muito novo, você é especial, mas eu preciso de um tempo... Por favor.
Ele olhou pra mim e sorriu.
- Obrigado pelo especial, eu esperarei o tempo que for...
Dei um beijo em seu rosto e sai do carro, ele esperou até que eu entrasse em casa e se foi.
- Hey garoto! O que é isso? Um dia é uma Range Rover, outro dia é uma SW4?
- Gusta pare de show! Já expliquei pra vc, esse ai é o Julio, estamos em dupla para fazermos um trabalho. Fui para casa dele, acabei jantando por lá e como está tarde ele me trouxe. Mas como foi lá com o Junior?
- Foi péssimo, eu não consegui nada, o carro não estava no nome do desgraçado e o dinheiro da conta ele torrou tudo, não tinha nada lá. A única coisa que restou foi essa casa e temos que colocar placa de venda para dividirmos o dinheiro.
- Eita, as coisa vão estreitar agora, não terei mais ajuda do vovô, o Junior não esta mais aqui, acho que vamos ter que arrumar alguma coisa.
- Eu amanha mesmo vou procurar algo, você não se preocupe... seu curso é muito puxado, um trabalho agora pode não ser muito bom, pode te atrapalhar.
- Nem pensar! Não vou deixar tudo encima de você! Vamos trabalhar e vamos segurando as pontas até onde conseguirmosCONTINUA / / /
Olá pessoal, preciso dar contexto para algumas coisas (se forem espertos... deixei algumas "senhas e pistas" nesse capitulo do que virá por ai), algumas surpresas irão surgir... muito amor e claro muita dor também. Para quem está com saudades do Mauricio no próximo capitulo ele aparece!
