Cap.3
NARRADO POR PAULO CABRAL
Eu não sei direito se aquilo foi certo. Eu não gostei de nada que aconteceu em nenhum momento na cama dele. Mas eu precisava de dinheiro.
-Aqui está – falou ele, me dando os 500 reais.
-Valeu- dizia, vestindo minha calça novamente.
-Posso te ligar, para fazer fotos e... pedir ajuda ?
-Pode... - falei, deixando o meu número anotado num canto da mesa. Vesti toda a minha roupa, arrumei o meu cabelo e sai daquele apartamento.
MINUTOS DEPOIS
Quando cheguei em casa, me deitei. Cansado, confuso, sem rumo. Não sabia direito o que fazer. Mas uma coisa que eu não queria era continuar fazendo aquilo. Precisei de um longo banho para tirar toda a sujeira que eu estava sentindo depois de ter feito sexo com ele sem querer, por dinheiro, sem prazer.
-Ai Gabriel... - o pequeno Gabriel apenas me olhava, já arrumado para dormir- se eu não tivesse você, eu nem ligaria muito para isso. Agora você só tem a mim, eu tenho que criar você bem... Eu vou fazer de tudo para dar tudo para você, como se você fosse meu filho de sangue.
DIAS DEPOIS
Estava saindo do banheiro quando de repente meu telefone toca.
-Alô ?
-Oi, é o Paulo modelo ? - uma voz desconhecida falava do outro lado. Era de homem.
-Sim, sou eu...
-Queria saber se você tá livre hoje.
-Livre para quê ?
-É que... O Jorge disse que você é bem bonito e nos dá uma noite maravilhosa... - logo entendi o que ele queria.
-Eu não estou mais fazendo isso não...
-Te dou 1000 reais para você ficar comigo uma noite – a minha necessidade falou mais alto, e eu acabei aceitando.
E assim começei a carreira de Garoto de Programa. Não como os comuns, que saem toda noite e ficam no relento da rua atrás de clientes. Formei uma base de clientes com muito dinheiro, todos da alta, que pagavam caro para passar a noite comigo. E continuei fazendo os trabalhos de modelo, ganhando dinheiro. E dessa forma, consegui sair da Zona Norte e me mudar para um apartamento da Zona Sul. Escondia de todas as pessoas que eu fazia esse tipo de coisa. Eu achava vergonhoso. Porém, ninguém queria me contratar. E apesar de tudo, fazer aquilo me proporcionava um retorno financeiro estável. Enfim eu podia dar tudo o que o Gabriel precisava. E assim segui durante mais alguns anos.
QUATRO ANOS DEPOIS
-Ai, que maravilha ! - dizia um cliente, jogado na cama da casa. Imediatamente quando fiz aquilo, apenas recuperei o fôlego e começei a me arrumar novamente – você já vai ?
-Já, tenho um irmão para cuidar...
-Mas eu nem matei a saudade de você ainda...
-E você quer mais que isso ?
-Queria que você dormisse aqui comigo... - ri
-Se apaixonando por um garoto de programa ? Desencana... - falei, pegando o dinheiro
Tinha um amigo, que ficava com o Gabriel sempre que eu precisava. Em troca, eu o pagava.
-Cheguei meu lindo – dizia, jogando as minhas coisas no chão.
-Paulooo ! - ele gritava, e vinha correndo me abraçar...
No início de tudo aquilo eu era meio egoísta. Esse é o principal problema que os pais de primeira viagem enfrentam. É necessário deixar de ser egoísta, parar de pensar só em você e pensar também nos seus filhos. E apesar do Gabriel não ser meu filho de sangue, eu assumi a responsabilidade por criá-lo, como um pai. Ele só tinha a mim no mundo, assim como eu só tinha a ele. E se eu tinha que transar com alguns homens ligeiramente desprezíveis e que apesar da beleza, me davam nojo, fazia aquilo apenas por causa dele. Eu não me importaria de ter continuado em Madureira, me matar de trabalhar e me sustentar apenas com um pequeno salário, se fosse sozinho. Mas eu não queria que ele passasse pelo que eu e minha mãe passamos. Queria que ele crescesse bem, tendo tudo que precisasse. E é por isso que eu me prostitui durante todos aqueles anos.
NARRADO POR MARCOS SILVA
Sim, ela estava aos beijos com um desconhecido na nossa cama. Ali, aonde a nossa filha foi concebida. Aonde ela dormia de vez enquanto conosco. Aonde eu me reconfortava depois de um dia massacrante. Ela me traiu ali. Quando percebeu que eu estava ali, saiu de cima dele imediatamente e os dois ficaram brancos igual a um papel.
-Que merda, você não disse que seu marido só ia voltar de manhã ? - olhei para eles dois, sem acreditar. Olhei para ela, inteiramente corado.
-Você tá me traindo Flávia ?
-Calma Marcos...
-Calma ? Você me pede calma ? Depois de seis anos de casamento, uma filha, você vem botar os cornos em mim ? Quem é esse mané aí ?
-Mané não...
-Cala a tua boca seu vagabundo ! Antes que eu mate vocês dois aqui dentro ! Ele é o primeiro ? Ou você me botou mais chifres na testa ?
-Quem manda não comer direito, engravatado. Ela já tá dando pra mim há muito tempo – juro, se eu tivesse uma arma teria matado os dois ali, a sangue frio. O ódio tomava conta de mim.
-Caiam fora daqui ! - falei, pegando os lençóis e jogando em cima deles.
-Mas a essa hora ? Pra onde é que nós vamos ? - ela falou.
-Não sei. Paga um hotel. Eu vou sair... E quando eu voltar não quero mais ninguém na porcaria desse quarto !
TEMPO DEPOIS
Nunca imaginei que ela fosse capaz de fazer algo assim. Mesmo com a esfriada que o nosso casamento deu, em nenhum momento eu pensei em trai-la. Eu sempre fiz tudo pensando nela e na Leandra. E agora ela faz isso ! Me trai com um malandro de quinta categoria... No inicio, a raiva me dominava. Mas logo em seguida, a tristeza me dominou.
-Porquê Flávia ? - me perguntei ao volante. Eu amava aquela mulher... Apesar de tudo, eu a amava. Foram 6 anos da minha vida dedicados aquela família, fazendo tudo para elas duas, e de repente tudo isso caiu por terra, a partir do momento em que ela resolveu me trair. Quando voltei pro apartamento, não tinha ninguém. Olhei nos armários, não tinha nada, além das minhas roupas. Não tive coragem de me deitar naquela cama, compraria outra no dia seguinte. Fui para o quarto de hóspedes. E quando me deitei lá, chorei. Só isso. Fui o homem mais chorão do mundo. Doeu no meu peito aquela traição...
TEMPO DEPOIS
Aquilo me desestabilizou. Alguns dias depois, fui saber que ela tinha voltado para a casa da mãe. Leandra ficou comigo, óbvio. E eu faria de um tudo para ficar com a guarda dela. Troquei a cama do quarto, rasguei diversas fotos nossas. Porém, nem aquilo foi capaz de amenizar a dor que eu sentia. Durante alguns dias, fiquei muito desatento no trabalho. Ligeiramente mal humorado. Minha cabeça parecia que ia explodir.
-Aonde você vai me levar papai ? - Leandra perguntava...
-A gente vai visitar a vovó filha... - dizia, estacionando o carro.
Entrava na casa da minha mãe...
-Marcos, Leandra ? O que vocês estão fazendo aqui ?
-Preciso que você fique com a Leandra uns dias, leve ela para escola...
-O quê ? Mas porquê ?
-Ah mamãe, eu não estou conseguindo ficar em paz com o que aconteceu. Não estou conseguindo trabalhar, tô muito extressado, não quero que ela me veja assim.
-Tudo bem filho... Mas você precisa retomar a sua vida. Não deixe que isso interfira na sua vida...
TEMPO DEPOIS
Mais eu não conseguia. Aquilo me marcou muito. Olhar para o lado e não ver mais ela, me entristecia. Apesar do que ela fez, eu já estava acostumado com ela. E amava ter alguém para me esperar todo dia. Começei a beber vinho em casa, na varanda. Quando vi já tinha bebido uma garrafa, estava enxergando mal e meio tonto. Foi quando me lembrei de um desejo antigo meu. Durante a adolescência, além de reparar nas mulheres, reparava nos homens também. Exatamente por isso, sempe me considerei Bissexual. Mas, depois que me casei suprimi os meus desejos antigos. Até que esse retornou a minha mente. E eu iria cumpri-lo, nada mais me impedia. Iria transar com um homem...
Continua
E ai ??? Gostaram ??? Comentem e votem por favor. Beijos