Capítulo 16-Um psicólogo pra lá de maluco.
Narrador:Daniel
Acordei e demorei um minuto para entender aonde estava.Então me sentei na cama e abracei minhas pernas.As lembranças do dia anterior,voltaram aos poucos a minha mente e foi despertando um furacão de sentimentos.
Um deles era...eu não sabia que nome lhe dar,simplesmente não conseguia aceitar que ele tivesse escondido de mim que tinha um filho.Poxa,nós tínhamos vivido um ano juntos,e ele não havia me dado inúmeras provas de que podia confiar nele?Então porque ele havia me escondido isso,se dizia que queria ter filhos,formar família?
Eu não conseguia encontrar uma explicação lógica e aquilo me perturbou .Rápido,uma nova pergunta surgiu em minha mente;Será que o Nick me escondia mais alguma coisa?
"Claro que não!...Eu sabia tudo sobre ele."-Pensei angustiado.
Não eu não sabia tudo,afinal ele tinha um filho com aquela Laura,não tinha?O que mais eu não sabia sobre ele?
Tentei não pensar nisso,mas essa dúvida era como veneno que toma conta aos poucos do seu sangue e vai envenenando sua alma,roubando suas certezas,manchando as lembranças.
Meus pensamentos foram interrompidos pela entrada de um rapaz branco,de cabelos pretos curtos e olhos também pretos,ele me olhou com um sorriso,e em seguida veio até a cama,se sentando,enquanto me encarava.Não sei porque,mas havia algo que nele que era familiar,como se eu já o conhecesse.
-Quem é você?-Eu perguntei curioso.
-Fernando Avilar,psicólogo em experiência,e seu médico hoje.-Ele respondeu com um sorriso.
-Você não é muito novinho pra ser médico,não?-Eu perguntei desconfiado.
-Não,não sou!...Mas vamos ao que interessa?-Ele respondeu com um sorriso amplo.
sorriso.
-Hum!...Tá bom!-Eu respondi receoso enquanto me sentava na cama.
-Então vamos!-Ele chamou se levantando e indo em direção a porta.
-Vamos pra onde?-Eu perguntei surpreso.
-Não achou que eu fosse te atender nesse quarto,né?-Ele respondeu pensativo.
Eu não me dei ao trabalho de responder,apenas o acompanhei pelos corredores.Parei surpreso quando percebi que ele ia em direção a entrada do hospital.
-Não vamos pra o seu consultório?-Eu perguntei agora o encarando.
-Não!-Ele respondeu desconcertado.
-Mas os psicólogos não atendem em um?...Aí eu me sento em um divã e você escuta os meus problema,minhas angústias...essas coisas.-Eu disse nervoso.
-Esse método é muito ultrapassado.-Ele disse com um sorriso.
-E qual é o seu método?-Eu perguntei surpreso.
-Na faculdade aprendi várias teorias e pensamentos de grandes pensadores e estudiosos da mente como Sigmund Freud.Mas a vida me ensinou que não podemos colocar o paciente dentro de uma teoria,e sim criar uma teoria para cada paciente...Pois cada paciente tem uma mente única e cada mente e um universo infinito.-Ele respondeu pensativo
-Então você vai criar uma teoria pra mim?-Eu perguntei incrédulo.
-Sim...E o primeiro passo é conhecer você,desde a sua história até a sua essência...Só assim poderei entender o que acontece aqui e aqui.-Ele respondeu enquanto tocava na minha cabeça e em seguida no meu peito.
-E depois?-Eu perguntei desconfiado.
-Depois?...Acredita que eu ainda não pensei no segundo passo?-Ele respondeu com um sorriso enorme.
-Você é maluco?-Eu perguntei enquanto dava um passo pra trás,o olhando com desconfiança.
-É provável!-Ele respondeu sem perder o sorriso.
-Têm algum psicólogo normal nesse hospital?-Eu perguntei surpreso.
-Temos dois eu acho...E você é normal?-Ele rebateu -Eu acho que sim!-Respondi confuso.
-Odeio os normais...Eles vivem a mesma rotina,idolatram atrizes e cantores como se fossem deuses e a noite param para falar da vida da vizinha ou do que o filho dela anda fazendo escondido a noite.-Fernando disse enquanto caminhava.
-Você não tem nenhuma banda ou ator favorito?-perguntei enquanto o acompanhava.
-Não!-Ele respondeu dobrando a um corredor.
-Entendi!-Eu disse sem querer estender aquela conversa.
Chegamos ao estacionamento e entramos em um carro preto que estava perto da entrada.
-Pra onde você vai me levar?-Eu perguntei após entrar e fechar a porta.
-Também não planejei isso.-Ele respondeu dando partida.
Eu estava surpreso,e me perguntava a cada minuto que raios de psicólogo era aquele.Ainda preferia o Alberto e não entendia porque tinham me dado esse.Decidi seguir viagem calado,esperando o que iria acontecer.
Depois de algum tempo dirigindo ele estacionou em um lugar e descemos.Ele fechou o carro e saiu caminhando,e em seguida o acompanhei.Andamos alguns minutos e paramos em frenteAo Zoológico?-Eu perguntei decepcionado pois imaginava outro lugar.
Ele me deu um sorriso e entrou.Pagou duas entradas e me fez um sinal para segui-lo.Entrei a contra gosto,mas logo relaxei.Fernando era divertido,e a cada animal que víamos,ele fazia um comentário engraçado.
Depois de um longo tempo,chegamos a área dos pinguins.Fernando pareceu interessado e falou:
-Há uma espécie de pinguim conhecido como imperador,que após a fêmea colocar o ovo,as reservas nutricionais dela se esgotam e ela retornar ao mar para se alimentar por dois meses seguidos.Isso deixa a responsabilidade de manter o aquecimento do ovo durante o inverno antártico para o pai...Você acredita que ele fica até sem comer para que o bebê possa nascer em segurança?
-Legal...Eu acho eles bonitinhos!-Eu respondi tentando observa-los melhor.
-E os seus pais?Como eles são?-Fernando perguntou naturalmente.
-Meu pai era autoritário e meio controlador,queria as coisas do jeito dele.Ele era farmacêutico,sabe?...E vivi entre fórmulas,parecia até que era casado com elas...Já a minha mãe era comum,meio fria e distante,submissa e odiava discutir.Nunca reclamava de nada,mas não era uma muito amorosa.-Eu respondi estranhando a facilidade com que aquelas palavras saíram.
-Com país assim você devia se sentir muito sozinho.-Ele disse com um sorriso.
-E muito carente também...Nunca tive nenhum carinho deles e nunca ouvi meu pai ou minha mãe dizendo que me amava.-Concordei enquanto observava os pinguins.
-Você tinha irmãos?Eram amigos?-Ele perguntou agora parecendo curioso.
-Só um irmão,e apesar de nos gostarmos e conversarmos,éramos muito distantes.Ele era do tipo calado,de poucas palavras e como a minha mãe,odiava brigas.-Eu respondi sentindo um aperto no peito ao falar dele.
Fernando fez uma piadinha boba e eu dei uma sorriso.Continuamos o passeio por entre outros animais,alguns até estranhos.
Caminhamos até a praça de alimentação e escolhemos o que comer e nos sentamos na calçada para devorar aquele lanche que diga se de passagem,não era muito saudável.Eu já tinha contado pra o Fernando como conheci o Nicolas e que quando o conheci já sabia que não gostava de meninas,apesar de nunca ter ficado com homens.
-Como seu pai reagiu?-Ele perguntou entre uma mordida e outra em seu lanche.
-Como você acha que ele reagiu?...Meu pai nunca me apoiou em nada,sempre me criticou e queria decidir por mim,o que eu devia fazer...Nós brigamos feio no dia que ele descobriu que eu era gay,me disse coisas que eu não quero lembrar.-Eu respondi parando de comer.
-E o Nicolas?Como ele era?-Fernando perguntou
-Ele era perfeito sabe?...Um príncipe!...Doce,meigo,gentil e lindo.Me compreendia melhor que qualquer um,sem críticas ou ordens.-Respondi emocionado.
-Ele nunca fez nada de errado ou escondeu algo de você?-Fernando perguntou com delicadeza.
-Não...Claro que não.-Respondi imediatamente.
-Não?-Ele pressionou me encarando.
-Bem...ele me escondeu um filho que tinha com uma moça...Eu só descobri ontem que esse menino existia.-Respondi após alguns minutos em silêncio sem conseguir sorrir.
-Você deve ter se perguntado porque ele mentiu pra você,e...-Ele disse enquanto me analisava.
-Me fiz essa pergunta inúmeras vezes e em nenhuma encontrei resposta...O pior é que surgiu uma dúvida,mas não quero aceita-la...Afinal ele me fez tão feliz,deu tantas provas que me amava,porque eu duvidaria dele?...Mas não consigo afastar isso do meu peito e as vezes me pego,me perguntando se ele não mentiu outras vezes pra mim.-Interrompi pensativo o que ele ia dizer.Falando aquelas palavras mais para mim do que ele.
-E isso nunca aconteceu?...Pequenas mentiras que ele contou e depois você descobriu que não eram verdades?Pequenas coisas que ele escondeu e você descobriu sem querer?-Ele perguntou após uns minutos em silêncio.
-Não...claro que não...eu acho que não.-Respondi nervoso.
-Daniel eu só posso te ajudar se for sincero comigo.-Ele disso como quem da uma bronca.
Desviei o olhar do dele e refleti sobre a pergunta que ele me fez.Lembranças há muito esquecidas,foram voltando aos poucos.Cada uma que surgia em minha mente,era como um filme que despertava em mim vários tipos de sentimentos que só me deixavam mais pra baixo,pior do que estava mais cedo.
-Uma vez,o Nick chegou em casa todo machucado e com o rosto roxo e inchado.Eu perguntei o que tinha acontecido,e ele me disse que tinha sido uma briga com o Vitor...Mas eu acabei descobrindo que Vitor,tinha viajado um dia antes pra passar uma semana fora.-Eu contei após um longo tempo em silêncio,sentindo uma antiga mágoa ser revivida.
-E?-Ele pressionou.
-Outra vez ele disse que ia estar em um lugar,mas eu sai mais cedo do trabalho e quando passei por esse lugar...Ele não tinha nem aparecido lá...O pior é que ele só chegou em casa...tarde.-Eu disse sentindo meus olhos encherem d'agua.
-Continue!-Ele pediu
-Não...eu não consigo.-Eu disse após uns minutos sentindo as lágrimas escorrer pelo meu rosto.
Essas lembranças trouxeram junto com elas feridas que ainda não tinham cicatrizado.A dor dentro do meu peito estava pior do que antes e eu chorei,mas do que já havia chorado.Eu queria gritar,mostrar ao mundo a minha dor,mas eu sabia que não ia adiantar,ela era só minha e ninguém poderia senti-la por mim.
-As lágrimas são o único bálsamo que pode anestesiar as feridas de um coração partido.-Fernando disse enquanto passava o braço sobre o meu ombro e me fazia descansar a cabeça sobre o ombro nele.
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Narrador:Vitor
-Eu não confio nele.-Eu disse impaciente.
-Fernando vai se sair bem.-Alberto disse tranquilo.
-Porra eu estaria mas calmo se você estivesse cuidando do Daniel.-Eu disse irritado.
-Estou com a agenda cheia.-Alberto disse sem olhar pra mim.
-Caralho,ele é apenas um estudante que acabou de sair da faculdade...Não sabe de porra nenhuma e vai colocar tudo a perder.-Eu tentei convence-lo.
-Ele está em experiência com o Danilo,tenho certeza que já aprendeu bastante pra resolver o caso do Daniel.-Alberto disse com um sorriso.
-Nossa,estou bem mais tranquilo.-Eu disse sarcástico.
-Danilo é um dos melhores psicólogos que temos.-Alberto disse agora me encarando.
-O Danilo é...esquisito!-Eu disse sério.
-Alguns psicólogos não são muito normais.-Alberto disse com um sorrisinho.
Respirei fundo e decidi não teimar com ele,senão íamos acabar brigando.
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Narrador:Daniel
Eu e o Fernando conversamos bastante enquanto passeavamos pelo zoológico.Aos poucos fui me sentindo melhor e apesar de aquela dor,ter apenas diminuído,eu já não me sentia tão angustiado.
Depois de várias horas juntos,voltamos ao carro e ele me levou de volta ao hospital.Quando chegamos a garagem,percebemos que o Vitor e o Alberto estavam lá.Descemos do carro e fomos até eles.
-Você demorou!-Vitor disse sério encarando a Fernando.
-Fizemos duas sessões em uma.-Ele se justificou com um sorriso.
-Como sente Daniel?-Alberto perguntou me encarando.
-Tô bem melhor.-Respondi tentando sorrir.
-Fernando vamos conversar com o Danilo,sobre o seu primeiro caso.-Alberto chamou enquanto fazia um sinal pra ele.Fernando me deu um sorriso e o acompanhou.
-Você está bem mesmo?-Vitor perguntou enquanto me encarava,após eles saírem.
-Eu percebi que tava guardando muita coisa e o Fernando foi a pessoa certa pra desabafar.Não vou mentir e dizer que não dói,mas tô me sentindo mais leve.-Eu respondi pensativo.
-Então agora você percebeu que ele não valia nada?-Ele perguntou com um sorriso.
-O Nick contou algumas mentiras pra mim,mas era um bom homem e eu tenho certeza disso...Se você quer falar mal dele,eu não sou a pessoa certa pra ouvir.-Eu respondi irritado por ver que nem com a morte do Nick ele tinha mudado.
-Tudo bem,não tá mais aqui quem falou...Mas não tá afim de jantar comigo?-Ele perguntou sério enquanto me encarava.
-Pra quê Vitor?...Nós nunca fomos amigos e nem nada disso.-Eu respondi me sentindo exausto.
-Eu só quero conversar com você,e...-Vitor disse parecendo desconcertado.
-Não Vitor,as últimas vezes que ficamos sozinhos,você acabou me magoando com palavras...E não vou mentir...eu gosto dos seus beijos,dos seus abraços,da sua companhia...Mas é duro saber que sente nojo de mim.-Eu interrompi enquanto o encarava nos olhos.
Vitor tentou falar alguma coisa,mas sai antes que ele conseguisse.Eu caminhei pensativo até o quarto que haviam me dado,e não olhei pra trás um minuto sequer.Não estava a fim de ouvir o Vitor me chamar mas uma vez de qualquer apelido,eu queria apenas ficar sozinho.
Continua...
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Olá pessoal,tô melhor e pronto pra outra...Mas esses últimos dois dias tão fodas.Tenho que colocar em ordem a minha rotina e tudo que deixei de fazer nos dias em que tive doente.Tirei um tempinho e tô aqui com mais um capítulo pra vocês,espero que gostem.
Edu19>Edu15,FlaAngel,Kevina,Regi1069,Digos2,K-elly,e Well26 obrigado pelos votos de melhoras,pelos comentários,vocês me incentivam muito a voltar aqui pra postar,mesmo estando com vontade de dormir kkkkkkkk
Minha flor Cintia C eu e que agradeço por me acompanhar e pelo querido autor.kkkkkkk
Martines você não gosta de um dos protagonistas da história?kkkk Quanto ao título,ele vai se encaixar na história um pouco mais pra frente....Senão eu mudo de novo!kkkkkk
marc01CL quando temos uma paixão desse nível por alguém,e difícil enxergar a realidade.Mas nos próximos capítulos,o Daniel vai rever um personagem que ou fará ele pensar um pouco ou chorar mais ainda!kkkkkkk
denil1245 quando o Nicolas se revelar,cuidado pra não apaixonar e querer um também!kkkkkkkk
Uma ótima madrugada pra todos e um bom feriado...Até a próxima pessoal.