Felipe - Qual era o nome do filho do Guilherme.
Miguel - Não me lembro, faz tempo.
Felipe - tenta lembrar cara.
Miguel - não sei, não lembro.
Felipe - era Bruno não era?
Miguel ficou calado.
Felipe - Era Bruno ou não?
Miguel - ...
Felipe - fala mano.
Miguel - era esse nome mesmo.
Não pode ser, Guilherme não pode ter matado um filho, mas ao mesmo tempo por que ele ficou tão nervoso quando eu perguntei sobre a tatuagem?
Miguel sentou a meu lado, na calçada.
Miguel - fica assim não. (falou ele passando a mão em minhas costas).
Felipe - e como eu vou ficar cara? Tu acabou de dizer que o Guilherme é um assassino e que ainda esta doente.
Miguel - só pra ti ficar alerta.
Felipe - Como foi isso? Como ele matou o filho? quantos anos ele tinha?
Miguel - são muitas perguntas, mas eu não tenho resposta pra nenhuma.
Felipe - Você acha que...?
Miguel - que o que? que voce ta correndo perigo próximo a ele? (perguntou Miguel sentando a meu lado).
Felipe - é.
Miguel - eu não sei se perigo seria a palavra certa, mas por que voce não passa um tempo no meu apartamento?
Felipe - Não. Primeiro eu vou falar com o Guilherme, quero que ele me explique essa historia e a depois eu vou procurar outro lugar pra mim ficar.
Miguel - Nós temos uma casa de campo, você quer ficar la por enquanto?
Felipe - Quero não, vlw. Eu vou procurar um lugar próximo a meu trabalho. (falei levantando do chão).
Miguel - O que tu tem contra mim?
Felipe - nada, ué.
Miguel - Tu nunca me perdoou pelo que aconteceu, essa é a verdade.
Felipe - Eu levantei muita expectativa a teu respeito, e depois eu quebrei a cara.
Miguel - eu sei que errei, mas me diz quem nunca errou nessa vida?
Felipe - Mas tu tem noção do que eu passei? Eu fiquei o dia todo numa cela de cadeia, perdi um dia de serviço, e a única coisa que eu queria era ganhar uma graninha.
Miguel - mas eu ja tentei me redimir, e voce não me dar uma oportunidade.
Felipe - e voce quer que eu faça o que?
Miguel - Deixa eu ajudar você. Estou te oferendo minha casa.
Felipe - Mas eu não quero, nada contra você, só que eu tenho que me virar sozinho, eu tenho que trabalhar, estudar, e no mais ainda tem sua namorada.
Miguel - A Wanessa não manda no meu apartamento, quem manda naquela porra sou eu.
Felipe - mesmo assim, eu sou só mano, vivo só, e já tou acostumado, mas valeu pela intenção.
Miguel - Mas se eu te ajudar vai ser tudo mais fácil, sera que voce não entende?
Felipe - Eu não quero, deixa eu quebrar a cara sozinho.
Miguel respirou fundo.
Miguel - tudo bem, eu não posso te obrigar, mas se um dia voce mudar de ideia, sabe aonde me encontrar.
Felipe - Obrigado.
Miguel - Bora? Vou te deixar no trabalho.
Felipe - eu vou de ônibus.
Miguel - ficou com raiva de mim depois do que eu falei?
Felipe - não, não, eu só quero pensar um pouco.
Miguel - pensa dentro do carro, não há motivos pra você ir de ônibus. Eu prometo que fico quetinho.
Felipe - o problema não é o teu barulho, é que eu preciso ficar só.
Miguel - e quem disse que dentro de um ônibus você vai ficar só? (falou Miguel com um largo sorriso no rosto).
Felipe - putz, verdade neh!? ( na realidade eu queria pegar o ônibus para decidir se eu iria voltar para casa do Guilherme ou para algum outro lugar, eu estava com medo do Guilherme ser um assassino frio e calculista).
Miguel - claro que é verdade, vamos logo comigo.
Felipe - Bora.
Saímos do posto de combustível e em seguida o Miguel me deixou na oficina.
xXX
Felipe - Bom dia Léo, bom dia piolho.
Bom dia - eles responderam ao mesmo tempo.
Leonardo - O chefe ta te esperando la em cima, e ele ta brabo.
Felipe - por que?
Leonardo - E ainda pergunta? Tu chega todo dia atrasado, uma hora ele ia cortas tuas asas.
Eu ignorei Leo.
Felipe - Blza, vou la falar com ele.
xXX
Felipe - Posso entrar?
Diogo - entra ae Felipe, blza?
Felipe - Blza.
Diogo - e ae, dormiu bem, comeu bem, ta disposto?
Felipe - Tou mesmo, pronto pra colocar a mão na massa.
Diogo - então vamos. (falou Diogo pegando as chaves em cima da mesa).
Felipe - mas antes eu quero falar contigo.
Diogo - Bora andando e voce fala no caminho, a estrada e longa mesmo!
xXX
E assim dentro do carro.
Diogo - Não fiquei brabo não, isso é coisa dos caras querendo por medo em você, mas tenta chegar no horário. Os caras que ja tão comigo a bem mais tempo chega cedinho.
Felipe - prometo não chegar mais atrasado, mas me diz, demora a chegar nessa fazenda?
Diogo - Um pouco, mas relaxa que na volta, retornaremos mais cedo.
Felipe - Blza.
Conversamos mais um pouco e eu acabei pegando no sono, quando acordei ja estávamos na tal fazenda do pai do Diogo.
Felipe - então é aqui?
Diogo - é sim.
Felipe - E os carros?
Diogo - são caminhonetes, devem estar todas la atras.
Felipe - a sim.
Diogo estacionou o carro e arrodeamos um acude para então chegar a casa grande da fazenda.
Diogo - olha ae as belezuras.
Felipe - caralho, tudo isso?
Diogo - é moço. Ta pensando em desistir?
Felipe - jamais. (falei tirando a blusa).
Diogo - calma, vamos comer primeiro, aqui na fazenda tem umas comidas caseiras que você vai amar.
Eu já tomei café, mano, mas vlw. (falei dando pouca importância ao que Diogo falava).
Diogo - vai me fazer essa desfeita mano?
Felipe - não não mano, é que realmente estou sem fome.
Diogo - então ta, mas vamos ao menos la dentro conhecer o povo.
Felipe - blza, bora sim. (falei voltando a vestir a blusa).
Diogo me apresentou a sua família, alguns amigos, e também a três homens que foram contratados para o serviço.
Diogo - alguma dúvida?
Felipe - Não não, ta tudo certo.
Diogo - blza, qualquer coisa é só me chamar, eu vou esta la no açude.
Felipe - ta bom.
O serviço desenrolou-se bacana, conseguimos lavar bastante caminhonetes para o primeiro dia, a tarde almoçamos e as 16 h o serviço foi encerrado.
Diogo - Felipe, vamos assar uma carninha e tomar uma cerva.
Felipe - vlw mano, mas eu não posso voltar muito tarde.
Diogo - eu vou te deixar em casa, relaxa.
Felipe - mesmo assim, a viagem é longa.
Diogo - agente come, toma um banho de açude e pegamos a estrada antes de o dia terminar, as 19 e 30 em ponto eu deixo voce em casa, que tal?
Eu pensei um pouco.
Felipe - Tudo bem, eu tou precisando mesmo dar uma relaxada.
Diogo - é isso ae.
Diogo estava molhado e bronzeado do sol, trajava apenas uma sunga preta, um óculos quadrado e um boné.
Comemos, bebemos um pouco, e caímos no açude para a água levar o álcool do corpo.
Diogo - sabe nadar Felipe?
Felipe -meu Deus! Melhor que peixe. (falei entusiasmado, esquecendo um pouco dos problemas).
Diogo - a é, esqueci que tu é filho de fazendeiro. (rs)
Felipe - Sou nada, eu sou é peão. kkk
Saí correndo por um caminho de madeira que dava acesso ao açude e virei um salto caindo direto na água. Diogo fez a mesma coisa, mas diferentemente de mim, caiu de facada.
Felipe - e os outros? (falei boiando na água).
Diogo - O que tem? (Diogo estava a meu lado).
Felipe - não vão tomar banho?
Diogo - não sei, talvez mais tarde, eles vão ficar pra dormir.
Felipe - tou ligado.
Pouco tempo depois os caras apareceram com um isopor com cerveja e gelo na beira do açude.
Felipe - esses caras vão conseguir trabalhar amanhã?
Diogo - São figuras, bebem, mas não caem. Tu vai ver, amanha eles vão ta fogo puro pra trabalhar.
Nós rimos.
Nos aproximamos dos caras e ficamos em uma roda de conversa, ate que eu vi o sol se esconder e chamei o Diogo, já era hora de voltar.
xXX
Tu quer uma roupa pra trocar? (perguntou Diogo dentro do banheiro).
Felipe - tem?
Diogo - tem umas, acho que cabem em tu.
Diogo me emprestou uma roupa e eu a vesti.
Diogo - ficou meio folgada ne!?
Felipe - tão boas, melhor que molhado.
Diogo - deixa eu só ajeitar aqui atras.
Felipe - ta.
Diogo se aproximou de mim e pressionou seu corpo nas minhas costas.
Felipe - hey véi, que tu ta fazendo?
Diogo - Dando uma ajeitada aqui atras, não curtiu?
Felipe - claro que não, nem te dei liberdade po.
Diogo - qual é, Felipe, vai fazer joguinho comigo?
Felipe - joguinho não, só não quero que tu faça isso em mim.
Diogo - mas eu pensei que tu quisesse isso também.
Felipe - pensou errado.
Diogo - ta, então me desculpa, só acho estranho, geralmente todo mundo me quer.
Felipe - mas eu sou comprometido, e eu levo isso a serio.
Diogo - Mas com alguém aqui da cidade ou do campo?
Felipe - aqui da cidade mesmo.
Diogo - é aquele mané da lanchonete?
Felipe - não chama ele assim po.
Diogo - mas é ele?
Felipe - é sim.
Diogo - eu ja desconfiava, se ver que ele gosta muito de você.
Eu já não tinha tanta certeza.
Diogo - Felipe, me desculpa por isso, eu realmente achei que você também quisesse, mas agora que sei que esta namorando, eu vou ficar na minha.
Felipe - vlw.
xXX
Voltamos para a cidade e as 19:30 em ponto o Diogo me deixou em frente ao condomínio onde o Guilherme morava.
Diogo - amanhã a mesma hora?
Felipe - Vou tentar chegar mais cedo.
Diogo - blza, vou ficar te esperando.
Felipe - e tuas aulas na faculdade?
Diogo - Tirei folga pra mim por esses dias. (rs).
Felipe - e póde?
Diogo - não, mas depois eu me viro.
Felipe - entendi, então ate amanha.
Diogo - ate.
xXX
Cheguei na porta do apartamento do Guilherme e fiz uma pausa, entrar ou ir procurar outro lugar para ficar?
Depois de um tempo pensando, eu resolvi tocar a campainha.
Chegou tarde hen!? (guilherme veio me atender apenas de toalha).
Felipe - hoje teve muito serviço. (respondi entrando porta a dentro).
Guilherme - hum, e ta tudo bem?
Felipe - ta. Por que? O que aconteceu?
Guilherme - nada. Só quero saber como você esta, parece assustado.
Felipe - apenas cansado.
Guilherme - Descansa um pouco, mas antes pede alguma coisa pra gente jantar.
Felipe - pode ser pizza?
Guilherme - Vamos dar uma variada hoje.
Felipe - ta certo, vou olhar as opções na lista.
Guilherme - confio no seu gosto.
Guilherme voltou para o banho, eu fiz o pedido e depois deitei no sofá. Fiquei ali estudando a melhor forma de abordar o tema do filho do Guilherme.
Passaram-se quase uma hora, e nada da comida chegar. Guilherme voltou a sala, apenas com um short curto.
Guilherme - então, o que você pediu?
Felipe - comida japonesa, tu gosta?
Guilherme - não muito.
Felipe - então vamos pedir outra coisa, ainda da tempo.
Guilherme - deixa queto, eu como da japonesa mesmo.
A campainha tocou e ele foi atender.
Guilherme - Felipe, pega a minha carteira, a comida chegou.
Felipe - aonde ta?
Guilherme - la dentro do quarto.
Felipe - ta bom, eu busco.
Fui ate o quarto do Guilherme, e não demorou muito para eu achar sua carteira, que estava em cima da cama, ao lado vi algo que me chamou a atenção.
Felipe - o que o Guilherme quer com essa espingarda em cima da cama? (pensei)
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Miguel - ele matou o próprio filho.
Miguel - ele matou o próprio filho.
Miguel - ele matou o próprio filho.
Miguel - ele matou o próprio filho.
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O Miguel tinha razão, e o Guilherme ja sabe que eu descobri e vai querer me eliminar também.(pensei, começando a ficar nervoso).
- Rápido Felipe, o entregador esta esperando. (gritou Guilherme da porta da sala).
- Já vai. ( eu gritei de volta).
Fui ate as janelas do quarto do Guilherme e abri o vidro, olhei para baixo, mas eram altas demais para pular. Eu não tinha saído do campo para morrer na cidade, não mesmo. Tranquei as janelas novamente, respirei fundo e tentei ser racional, peguei a carteira do Guilherme e voltei a sala.
Guilherme - porra, que demora pra achar uma carteira.
Eu me aproximei do Guilherme e quando ele estendeu a mão para apanhar a carteira, eu o empurrei, e sai correndo em alta velocidade. cheguei ao elevador, e ele demorou a abrir.
Felipeeeee - ouvia a voz do Guilherme me chamar.
Olhei para trás e o Guilherme corria atras de mim, dei socos e pontapés no elevador, que continuou fechado, decidi ir pelo modo tradicional e desci pelas escadas, minha lingua ja estava saindo pra fora da boca.
Quando cheguei a recepção, o maldito elevador se abriu e Guilherme saiu só de short de dentro dele.
Guilherme - segura esse garoto ae. (gritava ele com os outros moradores).
Eu consegui sair do condomínio e me embrenhei pelas ruas. Quanto mais eu corria, mais próximo via Guilherme de mim.
Guilherme - Felipe, para ae, Felipe.
Felipe - me deixa em paz, Guilherme, eu vou embora.
As poucas pessoas que passavam pela rua, não conseguiam entender o que estava acontecendo.
eu atravessei a rua e por um triz não fui atropelado por um carro, comecei a correr sentido ao lago, minha intenção seria nadar nele, acho que o Guilherme iria desistir. Porem existia uma diferença muito grande entre eu e o Guilherme: eu passei o dia lavando carros abaixo de um sol escaldante, enquanto que ele passou o dia no escritório, e estava com uma disposição maior que a minha.
Guilherme - para Felipe, mandei parar porra. (falou ele me dando uma rasteira e fazendo eu cair no chão).
Quando eu pensei em me levantar para voltar a correr já não podia mais, o corpo do Guilherme estava todo em cima do meu, embaixo de uma arvore no parque do lago.
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Guilherme - que diabos tu pensa que ta fazendo cara?
Felipe - eu só quero ir embora e esquecer tudo isso.
Guilherme - mas ontem estava tudo bem, pra que voce quer esquecer, agora?
Felipe - eu quero começar minha vida em outro lugar.
Guilherme - voce aceitou morar comigo, eu não te fiz nada, o que ta pegando?
Felipe - me deixa em paz, eu só quero ir embora. (me debatia no chão, em vão).
Guilherme - para, para, para porra. Que merda, como é que tu muda de opinião assim de uma hora pra outra?
Felipe - me solta cara, eu não quero morrer, eu não quero morrer, eu só quero ir embora daqui.
Guilherme - e quem disse que tu vai morrer?
Felipe - eu já sei de tudo.
Guilherme - tudo o que? Eu não estou entendendo nada.
Felipe - Eu já sei que tu matou um filho. (falei selando meu final).
Guilherme - cala a boca, cala a bora porra, não fala isso nunca mais. (falou Guilherme tentando tapar minha boca com as mãos).
Continua...