Eu abracei Beto e comecei a chorar.
Berg- cade a chave do teu carro, mo? vou ti levar a um hospital.
Beto - eu nao lembro.
Berg - porra mano, e agora?
Beto nao respondeu nada, apenas escondeu sua cabeça em meu peitoral.
Beto estava em meus braços, encolhidos, aquele mesmo cara que ontem parecia um touro, hoje havia sido abatido.
Desci as escadas correndo, procurei pela chave nos cômodos mais improváveis, e quando ja estava quase desistindo resolvi procurar dentro do bolso da calça do Beto.
Berg - Filho da puta mano, como é que tu esconde essa porra dentro do bolso?
Beto não respondia nada, estava praticamente apagado, Peguei-o pelo braço e o levei ate o carro.
Berg - Pai...pai, eu preciso de ajuda. (liguei para o meu pai, assim que entrei no carro).
Pai - O que foi meu filho, que voz de choro é essa?
Berg - uma tragedia pai... uma tragedia.
Pai - então fala logo, ta me deixando preocupado.
Berg - é o Beto, ele ta aqui no carro desmaiado. (falava chorando).
Pai - desmaiado como?
Berg - desmaiado pai, desmaiado, sem reagir. (coloquei o celular no viva voz e dei partida no carro).
Pai - onde vocês estão? me explique essa historia melhor.
Expliquei a historia a meu pai. Apenas aquilo que ele podia saber, e em seguida ele pediu que eu me encaminhasse a um hospital de emergência que ele estaria me esperando la. Desliguei o celular e sai disparado, igual piloto de fuga. Estava no volante e o Beto deitado no banco de trás.
Berg - Mo, acorda mo, acorda, não dorme mo, pelo amor de Deus.
Beto não respondia, e varias coisas passavam pela minha cabeça.
Berg - Mo, fala comigo mo, tu tem que ser forte cara.
A todo tempo que eu parava em sinal vermelho, tentava mexer com o Beto pra ver se ele reagia.
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Assim que cheguei ao hospital, entrei pela emergência, e alguns enfermeiros providenciaram logo uma maca para o Beto, o levaram por uma porta e eu tive que ficar aguardando do lado de fora.
Meu telefone tocou e era o Rafa, eu tive que rejeitar varias vezes, precisava ficar com o celular disponível para o meu pai.
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Pai- Ta onde? (perguntou meu pai ao telefone).
Berg - Tou aqui dentro pai, próximo a sala de emergência.
Pai - me espera ae.
Assim que meu pai me localizou, eu expliquei mais uma vez toda a historia pra ele, e expliquei também que eu não tinha o número dos pais do Beto.
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Pai - e no celular dele não tem?
Berg - ja falei que esta descarregado pai.
Pai - a sim. (falou meu pai colocando a mão na cintura). Mas temos que comunicar alguém da família, vai que acontece alguma coisa com esse garoto.
Berg - não vai acontecer pai.
Beto - Mas é uma possibilidade meu filho.
Berg - para de falar assim pai, não vai acontecer... que inferno. (falei me descontrolando e caindo no choro, novamente).
Pai - Ta bom filho, mas fica calmo, sei o quanto vocês são amigos, mas temos que manter a cabeça.
Ficamos um bom tempo esperando, ate que veio a noticia.
Med - o rapaz ja foi medicado e a febre diminuiu, agora nos resta aguardar o resultado dos exames.
Pai - e o que ele tem doutor?
Med - a principio ele esta com uma anemia forte, mas vamos aguardar o resultado dos exames para um diagnostico mais preciso.
Berg - Posso ver ele doutor?
Med - ainda não, ele esta tomando soro, assim que for liberada a entrada eu comunico aos senhores.
Berg - Obrigado. (falei sentando em uma cadeira).
Pai - dos males o pior neh filho? (falou meu pai sentando a meu lado).
Berg - vamos aguardar pelo resultado neh pai!?
Berg - vamos sim, mas vai da tudo certo.
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Ja era quase a noitinha quando liberaram as visitas. Meu pai ficou conversando com o medico e eu fui ver o Beto o mais rápido possível.
Berg - porra mano, que susto tu me deu cara. (falei sorrindo aliviado).
Beto - susto? quem é voce?
Berg - Como assim quem sou eu? Sou o Berg po!
Beto - não lembro.
Berg - brinca assim não mano.
Beto - eu não tou brincando, realmente nao lembro de voce.
Berg - não lembra de nada?
Beto - vagamente. Mas voce é o que meu?
Eu olhei para os lados, e no mesmo quarto que Beto haviam outros pacientes.
Berg - sou teu amigo mano, somos brother's.
Beto - não consigo lembrar.
Sai do quarto deixando o Beto sozinho e corri ao encontro do Medico. Meu pai ainda estava na sala conversando com ele.
Berg - Pai, pai, o Beto perdeu a memoria.
Pai - Xiii, meu filho isso aqui é um hospital. (meu pai pedia silencio).
Berg - Dane-se o hospital, o Beto perdeu a memoria o senhor ouviu?
Impossível (interrompeu o médico) - o que o seu amigo tem é um quadro de anemia e dengue.
Berg - e faz perder a memoria?
O medico sorriu e negou com a cabeça.
Berg - então por que sera que ele perdeu a memoria?
Med - aguarde um momento que eu vou vê-lo.
Berg - Obrigado.
O que seria de mim se o Beto me esquecesse para sempre?
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Então esse é o desmemoriado? (falou o medico entrando no leito do Beto).
Beto - Fala mano, blza?
Berg - Ta falando comigo?
Beto - Claro cabeção, com quem mais seria?
Berg - Mas tu num havia perdido a memoria?
Beto - Eu? tu ta é doido!
Berg - que doido pô? Tu falou que havia perdido a memoria.
Beto - quando que eu falei isso?
Berg - agora a pouco quando eu vim te ver.
Beto - Tu ta é doido, nem aqui tu veio.
Berg - filho da puta, tu ta tirando onda comigo? (parti pra cima do Beto e meu pai me segurou).
O Beto ria naquela maca.
Berg - brincadeira sem graça cara, faz isso não.
Pai - realmente Roberto, isso não é coisa que se faça, estávamos todos preocupados com você, principalmente o Berg, eu vi a hora ele infartar e vir aqui pra o teu lugar. (todos riam, menos eu).
Beto - desculpa tio, mas é que não resisti ver a cara de bobão do Berg.
Meu pai e o Beto continuavam a rir.
O medido se retirou e em seguida o enfermeiro comunicou o termino da visita e que apenas uma pessoa poderia passar a noite com o paciente, e eu me prontifiquei. Fui apenas em casa pegar roupas e algumas necessidades para o Beto.
Aproveitei e informei aos brother's.
Retornei ao hospital e encontrei o Beto dormindo.
Enfermeiro - Não pode comer nada de fora, a comida deles sera servida as 21 h. (disse o enfermeiro quando me viu com uma sacola de compras).
Berg - as 21? E daqui la como ele fica? sem comer?
Enfermeiro - eles tomaram um suco agora pouco. Não sei como voce conseguiu entrar com essa sacola.
Berg - veio na mochila.
Enfermeiro - mas nao pode entrar com ela não.
Berg - Ta. vou dar um jeito.
Assim que o enfermeiro se retirou, eu guardei as compras dentro da mochila novamente.
Sentei ao lado do Beto e ele dormia feito um anjo, as 20 horas ele foi acordado para medicação e depois disso ficamos conversando.
Beto - que dizer que voce ficou preocupadinho? quase morria, foi? (rs).
Berg - sufoco passamos hoje mano. Como isso aconteceu?
Beto - Nem eu sei, só sei que começou ontem a noite ainda.
Berg - e por que tu não me ligou?
Beto - como que liga com o celular descarregado?
Berg - tu é muito vacilão mano, era pra andar prevenido, puta que pariu, como é que tu anda sem carregador?
Beto - Não briga comigo, eu tou doente.
Berg - desculpa mano, tou nervoso demais.
Beto - ja passou, eu não vou morrer agora.
Eu olhei para ele serio.
Berg - avisei aos caras, mas teus pais ainda não estão sabendo.
Beto - tem que carregar meu celular. Na agenda tem o numero deles.
Berg - teu celular não veio.
Beto - tu esqueceu de trazer?
Berg - eu só me preocupava contigo e nada mais.
Beto - Obrigado mano.
Passei a noite ao lado do Beto, mas não consegui dormir, mesmo que quisesse, era muito desconfortante.
Na manha seguinte ele tomou café e foi medicado, o Kadu ficou pela manhã com ele, e eu fui ate a obra buscar o celular, precisava informar aos pais dele.
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A tarde os pais do Beto vieram visita-lo e o encherão de mimos. Antes da noite ele ja havia sido liberado,e estava em casa.
Guga - E ae parça, queria abandonar o mundo dos vivos era?(rs)
Beto - A dor veio de com força mano.(rs) -respondeu Beto deitando na cama.
Guga - Tou sabendo. Desculpa não ter ido te visitar, é que passei o dia enrolado com a Cecilia.
Beto - Fica tranquilo, eu passei a maior parte do tempo dormindo mesmo. (rs)
Guga - tu precisa de alguma coisa?
Beto - queria comer carne, faz duas semanas que eu não como carne. (rs)
Guga - ele pode comer carne? (guga perguntou olhando pra mim).
Berg - acho que póde, o Medico não falou nada.
Beto - ouviu o que meu enfermeiro disse? Agora vá la passar uma carninha pra mim.
Guga - ta folgado hen mano!? vou fazer porque tu ta arriado.
Guga saiu do quarto e Beto me chamou.
Beto - senta aqui do meu lado.
Sentei ao lado dele na cama, e ele passou a mão por meu rosto.
Beto - Obrigado. (falou ele começando a lagrimar).
Berg - Não precisa agradecer mo.
Beto - eu pensei que fosse morrer, senti tanta dor cara, tanto frio. Foi a pior noite da minha vida.
Berg - ja passou, agora é só tomar os remédios que o medico receitou.
Beto - meu melhor remédio é voce, eu gosto tanto de você mano, voce é o irmão que Deus mandou pra cuidar de mim.
Berg - Só irmão? (perguntei com a cara de menino sem vergonha).
Beto - muito mais que isso, você é meu viadinho. (e me puxou para um beijo).
Beto estava mental e fisicamente abalado, estava visivelmente mais magro, abatido, ate pra beijar fazia pouca força.
Beto - Você vai dormir aqui hoje?
Berg - não posso, nem tomei banho ainda.
Beto - toma aqui ué.
Berg - mas tou sem roupa.
Beto - Usa uma minha.
Berg - Não da mo, mas amanha depois da aula eu venho direto pra cá.
Beto - e eu vou ficar sozinho durante o dia?
Berg - Não. Tua mãe vem pra cá ficar contigo.
Beto - Hum. (Beto fez careta)
Eu mais uma vez me aproximei da boca de Beto para dar um beijo, dessa vez um pouco mais intenso que o primeiro.
Gustavo entrou no quarto, acelerado, e não deu tempo de disfarçar o beijo.
Guga - mano, você vai querer... que porra é essa ae cara, vocês viraram viados?
♫♫♫
Ya no sé que hacer
Para que estés bien
Si apagar el sol
Para encender tu amanecer
Falar en portugués
Aprender a hablar francés
O bajar la luna hasta tus pies
Yo solo quiero darte un beso
Y regalarte mis mañanas
Cantar para calmar tus miedos
Quiero que no te falte nada.
♫♫♫
Continua...