Oi, galerinha animada, tudo bem com vocês? Pois bem, eu estou muito melhor. Não estou pronto pra outra, mas estou 100%. E animado para escrever. Mas, também, um pouco triste para dizer que esse é o penúltimo capítulo. Entretanto, de certa forma não acho ruim em acabar. Para um conto que era só de um capítulo e de repente conseguir ter 12, é fascinante. E ter vocês seguindo e comentando, e dando suas opiniões, e criticando, e achando pequeno, e achando bom, simplesmente fantástico. Obrigado a todos. E se serve de consolo (quase que com duplo sentido kkkkkk), pretendo escrever mais contos em capítulos como esse. Aliás, "O vizinho" foi só o início.
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Um beijo na pontinha do nariz de vocês.
Conto anterior
— Isso foi sincero, Victor, pode acreditar, mas você pode me dar um tempo?
Victor passou as costas da mão no meu rosto e disse:
— Você é tudo que eu mais quero, Lucas, se pra você eu não puder dar um tempo, como posso te merecer?
O resto da tarde passou voando, e naquela noite eu tive um sonho. E nele eu tentava esquecer um pessoa, e num quadro branco eu desenhava outra.
...
E então eu comecei a gostar do Victor. Mas não foi com aquele desejo louco e libertino como foi com o Pedro. Com o Victor foi diferente porque ele era diferente. E ele merecia minha atenção. Quando nos encontrávamos, o primeiro olhar que me entregava era acompanhado de um sorriso tão meigo quando singelo. Ele gostava de me ver. Eu retribuía com um sorriso recatado. E Victor acariciava meu rosto de um jeito suave. Antes eu simplesmente percebia que Victor gostava de mim. Agora eu eu podia ver o seu carinho. E sentia-o também.
Durante uma semana não demos nenhum beijo, sequer roubado. O tempo que eu pedira a Victor estava sendo incrivelmente respeitado, e isso me fazia sentir ainda mais estima por ele. Nos nossos encontros apenas conversávamos e trocávamos ideias. Às vezes eu me encostava em seu ombro, quando não havia perigo de alguém nos ver, e ficávamos mais à vontade. Ele nem fazia transparecer seus anseios.
— Você está achando ruim me esperar? — Com a cabeça em seu peito eu podia sentir seu coração.
— Nem ansioso — disse ele. — Olha para essa cena, eu estou contigo agora, estou sentindo seu calor no meu corpo, ouvindo sua voz bem perto de mim. Mesmo se você disser não, valeu cada segundo esse momento.
E por dentro eu só consegui pensar como podia existir alguém como o Victor e porque eu não o enxerguei mais cedo. E também porque eu o estava enrolando. Todas essas questões apertaram meu peito e me deram um nó na garganta. Me deu vontade de chorar por eu estar ali e feliz. Me deu vontade de sair correndo mundo afora e só parar quando todos soubessem que o Victor existia e era uma pessoa adorável. Eu só queria dizer o quanto ele era especial.
Então, endireitei-me o corpo e segurei sua mão. Aproximei meus lábios do seu ouvido e disse baixinho:
— O que acha da espera acabar?
Seu sorriso transpareceu demasiada alegria. E quando eu o beijei, Victor se entregou intensamente.
O beijo teve uma energia quase tangível. Não fora como o primeiro, aquele lá no meu quarto. Esse teve desejo de ambas as partes, teve fogo incontrolável. E por instantes parecia sermos um só, eu e ele. Dois jovens despreocupados se entregando a um prazer natural que é o beijo de paixão.
— Eu te amo, Lucas. Eu te adoro. Eu te quero pra sempre.
Essas palavras me arrepiaram dos pés a cabeça. Naquele momento não importava onde estávamos. Não importava quem visse ou se alguém reclamasse. Os lábios não paravam, agiam por conta própria. Seu toque suave e molhado no meu rosto, no meu pescoço, nas minhas bochechas. Tudo era tão bom que parecia um sonho. Mas ao mesmo tempo era tão real que me deixava confuso.
— Me desculpe por ter sido um trouxa, Victor. Você é...simplesmente...
— Não diga isso, Lucas. Eu te pressionei e você não sabia o que fazer. Não tinha sentimentos por mim. Mas não importa o passado. E não importa se somos apenas jovens. Você me aceita pra estar contigo?
"Ai, meu Deus", meu coração disparou. Meus dentes estavam cerrados com tamanha força. Minhas mãos, trêmulas.
— Não tenho outra palavra pra dizer, senão aceito.
Nos beijamos outra vez.
— Posso te fazer um convite, Lucas?
Eu balancei a cabeça.
— Passe a noite comigo hoje — E de repente fez uma cara de quem ponderara alguma coisa — Mas não estou pensando em nada, Lucas. Não estou pensando naquilo...
E de fato nem eu mesmo estava. Se não tivesse dito isso, teria passado desapercebido.
— Eu quero muito. Mas seus pais...Como fica? Onde eu vou dormir?
— Você fica no meu quarto. Direto vem uns colegas de escola dormir aqui, meus pais não ligam.
Nessa hora eu fechei o semblante e entreguei um olhar furioso a Victor. Mas apesar da minha ira, não pude deixar de ter um lapso de descontração e perceber que tudo estava sendo tão sincero da minha parte que havia agora até ciúmes. Eu não acreditei, mas de fato era ciúmes. E por dentro eu me sentia mal.
— Não quis dizer que acontece alguma coisa, Lucas. Eles vêm muitas das vezes só pra fazer trabalho de escola. Ou quando marcamos de sair e fica muito tarde pra eles irem embora. Entende? Não acontece nada, não.
Eu sorri meio sem jeito.
— Então, você vem?
— Vou falar com a minha mãe. Mas acho que ela vai deixar.
Essa hora era mais ou menos quatro da tarde de uma sexta-feira.
— Que horas eu venho?
— Já quer ficar aqui? — Victor riu.
— Entendi — Disse eu.
Saí ansioso e corri para casa. Cheguei depressa e fui até minha mãe. Não fiz rodeios e já perguntei.
— Mas, hoje, filho? — Respondeu ela.
— Hora, é sexta, mãe. Se fosse meio de semana é que seria ruim.
Ela ficou uns instantes pensativa e depois respondeu que tudo bem. Eu agradeci e já dei as costas.
Fui ao quarto, peguei uma toalha e outro conjunto de roupas e depois corri para o banheiro. Tomei um banho depressa, daqueles até meio mal, e me vesti com a mesma rapidez o novo conjunto. Disse um "xau" para a mãe e saí. Ouvi-a dizer que estava indo cedo demais, mas não dei bola.
Bati no portão do Victor e um tempinho depois ele apareceu.
— Ela deixou? — Perguntou ele.
Balancei a cabeça.
— Que bom. Entre. Só tá minha mãe aqui. Meu pai não chegou ainda. Vem.
Entramos.
Quando cheguei na sala, o que mais me chamou a atenção foi um quadro pendurado na parede. Era o Victor quando ainda bem criança. E era lindinho como depois de grande. Mas não fiquei encarando ostensivamente, para não constranger ou deixar alguma coisa passar. Desviei o olhar. E foi bem na hora que a mãe do Victor vinha da cozinha.
— Oi, Luca, como vai?
— Vou bem, e a senhora?
— Bem, obrigada.
Os cumprimentos foram rápidos e, terminados, já segui o Victor até seu quarto. Quando entrei, estava quase igual como quando da ultima vez que eu vira, em seu aniversário há um tempo. Sentei-me na cama.
— Seu quarto é legal — Disse eu.
— Obrigado.
No quarto havia a cama, um criado-mudo, um guarda-roupas de quatro portas e uma escrivaninha grande com um computador e uma televisão. Era tudo muito bem organizado e não havia desordem como é natural ter nos quartos dos jovens. Mas isso não significa nada.
— Então, o que você quer fazer, Lucas?
— Na verdade, eu não sei. Diz você.
— Quer ver tv? Assistir a um filme? Jogar alguma coisa?
Não, eu não queria.
— Podemos conversar?
E de repente o semblante do Victor mudou. Ficou assustado.
— Não é nada de mais — disse eu —, só quero fazer um pergunta. Tipo, o que fazemos agora? Não agora nesse momento. Quero saber...já estamos nos dando bem...
Victor deu um suspiro de alívio.
— Pensei que fosse outra coisa. Ainda bem que não é. Mas, você quer dizer sobre namoro, é isso? Se vamos namorar?
Eu disse sim com a cabeça.
— Na verdade eu desejo muito isso, Lucas. Mas, sinceramente, não sei como fazer. Assim, vamos ter que esconder, e é difícil. Seus pais não sabem e nem os meus. E se descobrirem...a gente morre.
— Mas você gosta mesmo de mim?
— Você ainda pergunta, seu bobo — Victor deu duas voltas na chave da porta e sem pensar duas vezes pulou em cima de mim. Eu fui jogado de costas para o colchão. Era macio. — Será que eu gosto mesmo de você? — Segurou minhas mãos acima da minha cabeça e me entregou um beijo de tirar o fôlego. — Soltou minhas mãos e meteu as suas por debaixo da minha camisa. Acariciou minha barriga como se fossem passos de formiga. — Eu gosto muito, muito, muito mesmo de você, Lucas. E você, gosta de mim?
Victor saiu de cima do meu corpo e se deitou ao meu lado.
— Eu também gosto muito. Você faz eu me sentir alegre e amado. Além disso você é um gato.
Victor corou as bochechas.
— Não fala assim que eu me derreto. Você que é um gatinho fofinho. O meu gatinho fofinho.
Ficamos ali deitados por um bom tempo. E não falamos nada nesse período. Eu refletia e Victor parecia estar também refletindo.