- Rômulo? – eu bati na porta do quarto. Ele não respondeu. – Olha, eu só tô tentando ser educado. Você sabe que vou entrar você respondendo ou não.
Ele continuou sem responder.
Eu então forcei a porta mas estava trancada.
- Se você não abrir eu vou dar um prejuízo de uma porta nova pro papai.
O trinco clicou. Eu entrei no quarto com ele ao lado da porta com uma cara de cachorro bulldog como costumo dizer.
- O que você quer? Vai pôr uma roupa, por favor.
Ah, é mesmo... Eu ainda estava de sunga já que tinha vindo da piscina. Olhei pros lados procurando algo e fui até a cama. Passei a mão embaixo do travesseiro e tirei o short que ele usa como pijama. O vesti.
- Menos pornográfico agora?
- Me deixa estudar César.
Eu sentei na cama.
- Desculpa.
Óbvio que isso não bastaria. Mas eu sabia como tratar com o Rômulo.
- Me deixa estudar.
- Eu sei que você se chateia. Eu sei que o papai se chateia. Mas é algo meu Rômulo. Não é algo que vocês vão conseguir impedir e é algo que eu iria acabar fazendo mais cedo ou mais tarde.
Ele continuava parado segurando a maçaneta da porta.
- Eu não vou abandonar vocês. Não é como se eu a encontrasse e fosse embora com ela. Eu só preciso saber quem ela é. Só saber quem ela é.
- Será mesmo que você não consegue pensar como eu? Eu só quero saber o depois disso. Depois que você a encontrar.
- Eu não sei!
- Pois deveria saber. Você não vai parar quando encontrá-la. Não vai! E você não precisa disso. Você teve uma mãe mais que maravilhosa.
- Não se trata de ter tido uma mãe. Eu amo a mamãe.
- Então não use a palavra mãe com outra pessoa que não ela! Só ela é a sua mãe. Nenhuma outra pessoa além dela merece ser chamada assim!
Rômulo ia chorar. Se ele chorasse todo o meu esforço iria por água abaixo, eu já sabia. O choro sempre faz o Rômulo ficar inacessível por qualquer pessoa, até por mim.
Levantei rápido e o abracei mesmo ele continuando com uma mão na cintura e outra na fechadura como se esperasse minha saída.
- Desculpa.
- Para com essa besteira. Por favor.
- Não posso. Você sabe que eu não vou.
- Que droga César... – ele disse com a voz vacilando.
Afaguei mais seus cabelos e repousei o queixo em seu ombro. Eu me sentia mal por fazer o Rômulo e o papai sofrerem mas eu não ia parar. Infelizmente.
Ele soltou a fechadura e fungando o nariz me abraçou.
- Se isso te machuca tanto eu prometo não tocar mais no assunto. Eu só queria conversar. Você sabe que sempre te conto as coisas.
- Tudo bem.
Dei um beliscão em sua bunda e me soltei já vendo um leve sorriso em seu rosto. Tarefa cumprida.
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César me deu um baita beliscão na bunda e eu me desvencilhei.
- Isso dói porra!
- É um beliscão. A intenção é que doa.
Ele foi saindo do quarto.
- Não precisa ir... – eu disse.
- Não. Vou voltar pra piscina. Fica aí... Estudando. – ele revirou os olhos continuando a sair.
Eu o acompanhei até a porta e ele se virou rápido com a cara que ele sempre faz quando quer contar algo importante.
- Advinha quem vai cair na night comigo?
- Quem? – eu perguntei rindo.
- Seu poodle!
- Ham?
- Romildo ele é muito lento pra entender as coisas e meu Deus... Só outro tapado que nem você pra ter paciência com ele. Como vocês conversam? Soletrando as sílabas? Mas eu convidei e ele aceitou.
- Espera, você chamou o Victor pra sair? – eu disse chocado.
- Sim. Qual o problema?
- Não era você que não gostava dele?
- É... Até que ele é legalzinho. Tenho meus motivos pra levar ele por aí...
- E seriam...
- Seriam... Interessantes. Ele vai se divertir.
- Com você? O Victor? Se divertir?
- Algum problema? Se ele não quisesse ir não teria topado. E ele vai sim se divertir.
- Só acredito vendo.
- Enfim, é na casa da Wanessa sexta que vem após as provas. Deve começar lá pelas 10h da noite ou mais, não sei. Você foi convidado?
- Não. Porque eu seria?
- Claro que não, que pergunta... Você é de outro bloco de salas. Vai ser legal, sinta-se convidado. Ela disse que cada um podia levar apenas uma pessoa mas eu levo você e ele. Ela não vai dizer nada, eu tenho certeza.
- O Victor não vai se enturmar.
- Se ficar chato eu vou embora com ele. Vou tomar de conta do seu poodle. Trago ele e volta tosado e pintado de rosa se você quiser.
- César!
- Ok, desculpe. Apaga isso aí que eu falei. Mas e aí, você vai? Eu preciso confirmar pra galera.
- Não sei... Depois eu aviso.
- A questão é se depois eu ainda vou querer te levar.
- Depois César.
- Tá bom... Tchau... – ele se virou com cara de tédio e saiu pelo corredor.
- Depois me devolve o short. Eu durmo com ele.
- “Depois me devolve o short” – ele me imitou – “Depois, talvez, mais tarde”... Tudo com você é assim... Aff... Você precisa ser mais imediato, sabia?
Ele tirou o short no corredor e jogou pra mim. Saiu caminhando calmamente como se não estivesse semi nu em casa.
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- Advinha quem está há uma semana mais perto das férias???? – minha mãe perguntou animada.
- Eu? Porque minhas provas acabam na próxima segunda?
- Exato! – ela festejava como se as férias fossem dela.
Eu continuei comendo enquanto via ela terminando de pintar um quadro. Era um índio aquilo?
- Isso é um índio? – eu perguntei.
- Não. Apenas o chapéu.
- Cocar?
- Isso aí mesmo. Porque você não festeja pelas suas férias?
- Mãe, eu adoro a faculdade. Não viajo nas férias, não gosto de ficar em casa sem fazer nada... Prefiro o período de aulas.
- Mas um diadia tudo vai mudar. Eu vou ter dinheiro pra viajar e tudo mais... Eu já sei.
Fui pro chão da sala brincar com Fellow e Muphin.
- E as provas da faculdade?
- Todas estudadas. Não tem com o que se preocupar.
- É muito importante. Terminar um período na faculdade é um fechamento de um ciclo. Temos que agradecer.
- Hum... – eu não estava tão animado pro fechamento desse ciclo.
- E o Rômulo?
- Oi?
- E o Rômulo?
- Estava bem da última vez que chequei.
- Não te chamou mais pra sair...
- Ele também está em período de provas finais. Não tem tempo. Eu vou sair é com o César.
Ela parou de pintar e me olhou.
- Trocando a caça?
- Não tem graça!
Ela riu.
- Desculpe... Ele não era o metido de nariz empinado?
- Sim. Mas ele é levemente legal e como é no fim das provas eu pensei em... comemorar.
- Hum... Eu espero que seja legal. O Rômulo vai, é claro.
- Não.
Ela me olhou impressionada.
- Não sei, na verdade. O César não disse.
- Vocês dois, é?
- O que que tem?
- Não disse nada... Nada.
Que mal havia em eu sair com o César, ora mais... Levantei irritado pela insinuação da minha mãe e fui beber água tentando parecer normal.
E continuei tentando após o quinto copo.
Meu Deus, eu ia sair só com o César!
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DIAS DEPOIS
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- Cadê o papai hein? – César perguntou sentado em minha cama enquanto eu saia do banheiro no roupão.
- Não sei. Você já percebeu que tem dias que o papai chega da clínica, só toma banho e sai de novo? Que nem hoje?
- Sim. Será que ele tá saindo com alguém?
- Papai? Impossível.
- Hum... O que eu vou ganhar? Fala logo que eu vou sair.
- Você vai sair em plena quarta da semana de provas? Nós acabamos de chegar da faculdade.
- Qual o problema?
- Você deveria estar estudando. Não já vai sair na sexta com o Victor?
- Eu já estudei e estou indo muito bem nas provas. Saio o dia que eu quiser. Anda, o que eu vou ganhar?
- Gostava do tempo que você fazia isso de graça pra mim.
- Não tenho mais 8 anos e se acha meu preço caro deveria ir pra um spa e perguntar o preço da sessão.
- Eu comprei um presente pra você.
- Vou fingir que não sei o que é.
- Mas você não sabe.
- Claro que sei... Anda. Vai logo.
Eu tirei o roupão e exibi o peito com a cera. Deitei na cama.
César mordeu o lábio inferior de felicidade. Ele adorava me ver sofrer.
Pegou as folhas e colou por todo o meu peito.
- No três? – ele perguntou já segurando a primeira folha pronto pra puxar.
- Devagar. – eu insistia em pedir.
- TRÊS!!!! – ele puxou a folha com tudo e eu gritei. Claro que gritei.
- FILHO DA MÃE! FILHO DA MÃE! AHHH! MEU DEUS... ERA PRA CONTAR PRA EU ME PREPARAR!
- Foi a Mel que me ensinou fazer assim...
- MEL? QUEM É MEL??
- Ai a Mel... Ela trabalhava no spa que a gente foi em Nova York, lembra? Era brasileira.
- MEL?
- Claro que não a viu... Ela estava ocupada demais comigo na sala de depilação masculina.
- Você comeu a depilad...
- TRÊS!! – ele puxou a folha com o sorriso enorme nos lábios.
- AAAAHHHH! – eu chorei.
- Não grita... Que coisa chata. Você é uma mariquinha... – Ele dizia enquanto preparava outra folha e eu me debatia. – Posso?
- César, devagar... – eu pedi com a água nos olhos.
- Seja homem! Aguente firme! TRÊS! – ele puxou com tudo.
Aquilo era uma tortura.
Eu comecei a chorar enquanto ele ria solto.
- Nem chora que ainda falta muuuuito pra terminar.
E assim foi até o fim da próxima hora. Muito choro meu e muito riso dele.
No fim eu estava todo vermelho porém sem pelos enquanto ele jogava as folhas de depilação usadas no lixo do banheiro.
- Cadê meu presente?
- Meu Deus, você é um mercenário cara... – eu dizia ainda sem fôlego me recuperando sentado.
- Na próxima vez o pagamento é adiantado.
- Abre o closet.
Ele abriu e tirou de lá o pacote vermelho com o presente dele. Era um estetoscópio de uma determinada marca caríssima que ele insiste em usar mas que eu não entendo a diferença dos demais mais baratos que haviam lá em casa. Ele estava terminando o período e no próximo já iria começar a usar os aparelhos médicos.
- Obrigado Romildo! Eu queria mesmo esse aparelho. Tchau. – ele disse contente enquanto eu sofria com os olhos inchados e com a ardência no peito. Ele saiu batendo a porta sem se importar e eu voltei a chorar dolorido pelo o que aquele maníaco havia feito com meu peito. Sempre assim. A porta voltou a abrir.
- Ah... Olha, toma um banho gelado agora que melhora a ardência, tá? Agora tá horrível mas deve ter ficado ótimo é só esperar o vermelho passar. E não sei que hora volto. Se vira aí. – bateu a porta de novo.
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- Como eu tô? – eu perguntei sem muita fé em frente ao espelho.
- Tá um gato! – minha mãe colocou as mãos nos meus ombros e os ergueu.
- Sério?
- Tá lindo Victor. Vá, conheça gente nova, faça amizades...Hoje é sexta. Segunda você vai estar de férias, só há motivos pra comemorar.
- Tudo bem.
Meu celular tocou, era o César. Ele estava atrasado, só podia ser mal de família. Apesar disso não era tanto quanto o Rômulo da última vez.
- Oi César!
- Fica logo aí na porta que eu não confio de parar muito tempo na sua porta não.
- Não vou ficar na porta feito um poste.
- Aff... Eu já estou vendo sua casa! Anda logo!
Eu sai do quarto e dei um tchau pra minha mãe que se despediu sorrindo animada.
- Já estou na porta. Cadê você? – eu disse saindo na calçada.
O mesmo Corolla branco que eu entrei pela primeira vez com o Rômulo chegou muito menos romântico cantando pneu. Toda a vizinhança nos olhou.
- Que cheiro horrível! – eu disse me aproximando do carro com cheiro de borracha queimada. Entrei e sentei. Assim que ia pegando o cinto na lateral ele arrancou.
- Segura aí.
- Podemos chegar vivos na festa, por favor?
- Deixa de ser fresco... Não tá tão rápido assim. Como foi nas provas?
- Fui bem. Mas só terminam na segunda.
- Pois eu terminei hoje e quero comemorar! É sexta!
- Porquê eu tenho medo quando você fala assim?
- Porque você é como um poodle. – ele revirou os olhos.
- E você é como um... Pit bull!
- Isso! – ele sorriu – Gostei! Já havia pensado nisso mesmo.
- Olha, por favor, não beba muito. Você está dirigindo e eu não sei nem pegar no volante.
- Vai me controlar é?
- Não. Mas você me chamou pra sair deveria saber que eu não sou de gandaia.
- E você aceitou sair comigo, deveria saber que eu gosto de curtir.
Eu me calei preocupado.
- Aff... Relaxa. Não vamos exagerar. Eu sei que tô com você e hoje eu sou responsável por você. Vou te devolver inteiro pra sua mãe, não se preocupe. Só não me chame de tio, por favor.
Eu ri.
- O que foi? – ele perguntou rindo.
- Eu te chamar de tio...
- Olha, eu vou te dar umas dicas que nem o Romildo fez contigo lá em casa. Não entre em grupos de pessoas que eu não esteja. Não converse demais sobre faculdade, cursos e tudo mais. Tudo o que o pessoal quer é se livrar dessas coisas. Não beba nada que não tenha sido eu que tenha te oferecido. Não deixe seu copo sozinho. Se for ao banheiro, por exemplo, quando voltar pegue outro. Dance mas não demais. Não acompanhe pessoas sozinhas... A casa é enorme e é capaz de eu não te achar de novo. Se você quiser ficar com alguém não tem problema. Só me diga quem antes pra eu poder te passar uma ficha criminal e aprovar ou não o sujeito. Na casa da Wanessa, quando ela dá festas, há determinados quartos que normalmente são onde as pessoas se pegam. Se você quiser ir com alguém pra lá me avise antes pra que ela me dê a chave.
- César, eu não sei quem você acha que chamou pra sair mas...
- São recomendações pra marinheiros de primeira viagem. Cala a boca e escuta. O que acontecer lá, o que você ver, o que escutar, o que flagrar, fica lá! Entendeu! Porque se você sair por aí comentando vai ficar feio pra mim que te levei.
- O Rômulo não vai?
- Muito provavelmente não.
- Sua namorada vai estar lá?
- Quem te disse que tenho namorada?
- O Rômulo.
- Não tenho mais.
- Ah... Sinto muito.
Ele revirou os olhos e sorriu.
- Olha, relaxa. Você tá tímido agora mas vai ser legal. Vai conhecer alguém, vai tirar o Rômulo da cabeça e tal...
- O que você disse???? – meu coração parou.
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- Você acha que o Rômulo não comentou comigo?
Ele me olhava boquiaberto.
- Victor... – ele suspirou – Não se preocupe. Vai ter vários caras gays lá... Se você quiser ficar com algum deles, tudo bem. Tem uns bem legais! O Rômulo me falou do beijo e tal... Parabéns, você foi o único que conseguiu o beijar. E eu sei que meu irmão é super demais e irresistível. Ele é mesmo! Só é um pamonha, lento, meio lesado. Mas ele é gatão mesmo. Só que não, ele não é gay! Você cometeu um tremendo erro o beijando.
- O que mais ele disse.
- Tinha mais coisa pra dizer? Olha, depois que a gente conversou ele decidiu que ia atrás de você pra fazerem as pazes e ia me levar junto pra que eu... Pra eu também dar uns sorrisos pra você. Tipo esse. – eu sorri.
- Eu tô morrendo de vergonha... Foi por impulso. Eu pensei que ele estivesse a fim e nós estávamos conversando uma coisa meio íntima...
- Íntima tipo o que? O modo como se depilam? Porque o Rômulo usa cera e isso é tremeeeeendamente gay! Se você viu o peito liso dele, percebeu que tira com cera e por isso pensou que ele fosse gay, tudo bem. Eu não te culpo.
- Não... – ele riu.
- Tipo o que então? Qual o sabonete íntimo de vocês? Qual a cor da cueca preferida? O nome do primeiro amor do colégio? A melhor posição no sexo?
Eu falava de propósito. Era muito bom ver a cara de assustado dele.
- Não. Era sobre você... Sobre você ser adotado.
Meu sorriso de desfez.
- O que ele disse?
- Só que você estava procurando pela sua mãe biológica e que ele não se sentia bem vendo isso.
- O que mais?
- Só isso.
- O que mais ele disse Victor? – aumentei o tom.
- Nada. Eu juro.
Passei uns 20 segundos em silêncio. O Rômulo é um idiota completo. Meu Deus!
- Ok. Eu sou adotado. Estou procurando a minha mãe e estou muito perto de encontrá-la.
- O que você vai fazer quando encontrá-la?
- Mas será possível que todo mundo quer me fazer essa pergunta?? Eu não sei... – eu disse impaciente.
- Mas você precisa saber. Não pode ficar travado em frente a ela. Precisa falar algo, fazer algo.
- É claro que vou fazer.
- Mas não pode decidir na hora. Você precisa se preparar pro que vai encontrar.
- Podemos não falar disso, por favor. Vamos a uma festa.
- Eu sei que é delicado... Se você quiser conversar depois eu posso te dar uma força.
Continuei escutando a tentativa dele de ser amigo.
- Sabe, eu sei que não é fácil. Eu tive a melhor mãe que poderia ter... E eu sou a favor sim que você encontre a sua mãe. Então se você quiser conversar... As vezes tudo o que a gente precisa é de um ombro amigo pra desabafar.
- Ok. Obrigado.
Fui curto e grosso. Por culpa do Rômulo agora tinha uma pessoa estranha, que eu ainda estava conhecendo sabendo do maior drama da minha vida e querendo ser íntimo o suficiente pra ouvir desabafos melancólicos meus. É brincadeira... Aff.
Chegamos na casa da Wanessa.
- Chegamos. – eu disse.
- É. Tô vendo.
Haviam muitos carros na porta estacionados pela rua toda. Descemos e eu já cumprimentei algumas pessoas na calçada.
- Fala galera! Esse é o Victor, meu amigo, veio curtir com a gente.
- Oi.
Oi? Só isso? Aff...
O pessoal o olhou e sorriu. Eu o puxei pelo braço e entramos na casa.
A casa da Wanessa era muito maior que a minha, não era à toa que ela dava festas.
- Nossa... Que casa linda. – Victor disse.
- É. Bem legal. Como sempre a piscina está dividida. Olha só... Não vá, em hipótese alguma, pro fundo da piscina.
- Eu não vou entrar na piscina.
- Escuta... Não vá pra área de serviço. O lado direito da piscina, está vendo?
- Sim.
- Não vá pra lá. Aquelas pessoas não são legais. Tá vendo o jardim ao fundo?
- Sim.
- Não vá pro fundo do jardim. Fique onde a luz bata. Não esqueça de tudo o que eu já falei no carro.
- E eu vou pra onde?
- Pra onde eu for.
- Tudo bem sargento.
Eu ri.
- Gostei disso. Bora.
O levei pra varanda da casa. Perto da porta de entrada. Uma área coberta com cadeiras enormes e estofadas. Eram quase espreguiçadeiras.
Os cumprimentos de sempre começaram eu tentei ao máximo apresentar o Victor pra todos mas ele era muito tímido. Muito mesmo! Era uma tarefa muito difícil.
Alguma coisa tocava ao fundo. Eu não sabia que música era mas era meio rock, sei lá. As bebidas estavam alí e eu me servi um pouco de whisky.
- O que você quer? – perguntei já que o Victor estava do meu lado o tempo todo.
- Tem Coca-cola?
- Vou na cozinha ver. Fica com meu copo.
Saí e entreguei o copo na mão dele. Peguei uma coca na geladeira e trouxe pra mesa. Servi um copo pra ele e entreguei recebendo meu copo de volta. Joguei meu whisky na grama.
- Por que você fez isso? – ele perguntou.
- Porque eu deixei o meu copo aqui e voltei agora.
- Eu cuidei do seu copo!!
- É aí que tá. Alguém cuidou do copo! Não importa o quanto você confie em alguém, não receba o copo de volta. Regra número um em qualquer festa. Se o Rômulo me devolvesse o copo eu jogaria fora do mesmo jeito.
- Você é paranoico!
- Eu sou desconfiado, é diferente.
Continuei tentando enturmá-lo mas a tarefa estava cada vez mais exaustiva. O Victor só falava comigo. Eu o puxei pelo braço pra dentro da casa.
- Victor, você precisa falar com as pessoas. Falar! Rir! Conhecer gente nova! Se divertir!
- Você tá falando que nem minha mãe.
- Nós estamos em uma festa! Eu te trouxe pra você tirar o Rômulo da cabeça.
- Hãm??
- Para de ficar aí sofrendo por ele. Rômulo não vai te dar uma chance.
- Eu não tô sofrendo por ninguém.
- É óbvio que está. E isso está te prejudicando. O que o Rômulo faz com você e com todos os outros caras que gostam dele é pura maldade. Você se apaixona e depois ele pula fora do barco “Ah eu não sou gay...”
- Mas ele não é gay mesmo não!
- Que se foda! Por isso ele pode andar arrasando os corações por onde ele passa? Óbvio que não ajuda você e todos os outros gays se apaixonarem tão fácil mas o Rômulo também dá espaço, vamo combinar. Você se achou tão confiante que o beijou.
Ele baixou o olhar.
- Ei! – eu levantei o queixo dele. – Para de se diminuir por isso. Atitude cara! Seja pelo Rômulo, seja por qualquer pessoa. Ninguém nasce pra sofrer por ninguém não. Dá a volta por cima, pega um cara bacana aqui, hoje, ou amanhã, sei lá e vai curtir.
Ele começou a rir.
- Do que você tá rindo? Eu tô fazendo piada? – eu perguntei irritado.
- Você fala muito engraçado. E eu não entendi metade do que você disse. Você fala muito rápido.
Eu revirei os olhos.
- Vem!
Eu o levei pelos cômodos e paramos na segunda sala. A música tocava alto e mesmo sendo relativamente cedo já haviam copos jogados e comida sendo desperdiçada. Pessoas que eu não conhecia brincavam com o Xbox na sala.
- Tá vendo aquele cara meio careca?
- De branco?
- Sim. De branco. Aquele é o Thiago.
- De todos os gays daqui ele é o único super legal. Thiago é muito legal mesmo. Se você quer tirar o Rômulo da cabeça, conhecer alguém que te trate bem, que tenha um papo interessante e tudo mais você deveria ficar com ele.
- Como que eu vou ficar uma pessoa assim?
Meu Deus, esse menino era muito lento! Por isso ele se deu tão bem com o Rômulo. Eu suspirei reunindo toda a minha paciência. Mas o lado bom é que pela pergunta que ele fez então ele considerava a hipótese de ficar com alguém. Pelo menos isso, né?
- Espera aqui. Aqui!
Eu saí procurando pela Wanessa. A achei recebendo mais pessoas na porta. Quantas pessoas entrariam alí?
- Wanessa, uma mesa.
- Ei gatinho! – ela segurou no meu pescoço.
- Preciso de uma mesa.
- Na área de serviço tem umas empilhadas.
Eu tentei sair de seus braços mas ela me segurou.
- Que pressa é essa? Tá curtindo a festa?
- Sim. – Não. Não estava. Larguei-me dos seus braços e fui procurar pela mesa rápido.
De alguma forma eu sentia medo de deixar o Victor sozinho. Ele era um poodle no meio de um monte de pitbulls. Se algo acontecesse com ele eu seria responsável. Rômulo ia me matar. Rômulo podia até não ser gay mas tinha sim um carinho a mais pelo Victor.
Peguei a mesa e saí no meio das pessoas com ela erguida sobre a cabeça. A levei pro lado esquerdo da piscina e avisei para as pessoas alí perto que a mesa era minha. Voltei caminhando rápido pra sala.
Victor continuava de pé e parado. Ao seu lado estavam Thais e Carla. As mais putas daquele cômodo. Elas eram tão mal faladas e rodadas que só o fato de mencioná-las já me faz querer fazer um teste de DST. Óbvio que eu fiz quando fiquei com a Carla no início da faculdade. Erro de novato. Esqueçam.
- César, seu amiguinho é um fofo! - uma delas disse quando eu me aproximei.
- Demais, não é? Um fofo mesmo. – eu ironizei.
Victor sorria inocentemente.
- Victor, vem comigo aqui fora.
- Vamo sim. Venham com a gente! – ele chamou.
- Não... Preciso levar um papo contigo. As meninas vão se divertir aí no Xbox, não é meninas? – eu perguntei já o puxando pelo pulso.
- Que papo? – ele perguntou.
- Nenhum papo! Você estava sendo rondado por duas cobras e não percebe.
- As meninas? Elas são legais. Elogiaram minha roupa, me acharam fofo, são tão lindas...
- Meu Deus... – Não podia estar escutando aquilo.
O levei até a mesa.
- Fica aqui que eu não demoro.
Voltei pra sala e fui falar com o Thiago. O chamei pra minha mesa. Ele disse que iria mais tarde.
Voltei pra mesa e Victor mais uma vez já estava rondado de pessoas estranhas. De quantas faculdade a Wanessa tinha chamado aquele povo?
Cheguei na mesa e cumprimentei as pessoas. Victor já estava com o mesmo sorriso.
Ok. Não eram pessoas ruins no geral. Não fui cortar o barato dele.
Começamos a conversar e tudo mais. Eram duas meninas e dois meninos. Dois casais pra ser exato, pois estavam se pegando.
Um dos casais trocavam beijos e carícias mais quentes na nossa frente. Victor me olhava com o copo de coca impressionado. Eu me divertia com aquilo.
Cuidei de sempre deixar o refrigerante do Victor na mesa pra que ele pudesse se servir. As meninas estavam com seus pares. Thiago chegou e eu tratei de apresenta-lo ao Victor.
Thiago é muito simpático. É muito gente boa. Além dele cuidar de não isolar o Victor ainda conseguia dar atenção a todo mundo da mesa. Uma garota chamada Beatriz chegou e demonstrou estar a fim de mim. Estávamos bebendo, apesar de eu pegar leve preocupado com o Victor.
Victor e Thiago estavam entrosados. As meninas haviam saído com seus parceiros sabe-se lá pra onde. Eu não estava a fim da Beatriz. Ela começou a perceber mas ainda assim não desgrudava de mim. Eu observava Victor e Thiago cada vez mais entrosados mas ainda sem rolar.
- Eu não demoro. – eu disse e saí pra pegar mais bebida.
Na cozinha eu peguei umas garrafas de vodka e voltei pra mesa. Fui beliscando de leve. Victor já não bebia mais coca. Até que Thiago colocou um copo pela metade de vodka e ofereceu a ele.
- Eeei! – eu falei alterado pela bebida. – Thiago ele não pode beber!
- Qual o problema? – ele perguntou rindo.
- Tudo bem. – Victor disse. – É só um pouquinho.
- Ham?? – eu perguntei indignado. Ele ia beber?? – Você? Bebendo?
- Só vou experimentar... Tá tudo bem, eu acho.
- Vai com calma. – eu disse.
Ele bebeu e fez uma cara horrível. Thiago sorriu. Beatriz saiu do meu lado e sumiu, graças a Deus.
Fui beliscando a vodka e me senti meio zonzo. Deveria ter jantado. Beber de estômago vazio dá nisso. Já havia tomado whisky, agora com vodka não ia dar certo. Que droga.
Thiago e Victor riam muito juntos e eu observava sem entender o que estavam conversando. A música estava alta e as pessoas conversavam muito. Eu não conseguia escutar o que tanto conversavam. Era como se eu não existisse na mesa.
De repente muitos gritos animados. A música ficou ainda mais alta.
- O que foi que aconteceu? – Victor gritou.
- Não sei! – eu levantei preocupado olhando pros lados sem entender.
As pessoas corriam arrancando as roupas feito loucas.
Jogaram três caixas de 1kg de sais de banho cada na piscina. Resultado? A piscina encheu de bolhas de sabão. Era muita espuma e as pessoas pulavam feito loucas. Quem não havia entrado na piscina começou a entrar. Tivemos que levantar e puxar a mesa porque estavam jogando água na gente.
- Meu Deus! – Victor sorria animado.
- Nem pense em entrar. Isso é quase como fazer uma suruba! – eu avisei.
- Ah não... Mas deve ser tão legal!
Ele só podia estar bêbado!
- Victor, você não vai entrar na piscina!
- Tudo bem. Ele vai comigo. – Thiago disse já tirando a camisa e exibindo um físico muito bonito. Victor mordeu o lábio inferior.
Eu havia o endiabrado, era isso?
- Victor, não é uma boa ideia. Lembra? – eu o olhei pra ver se ele lembrava de alguma recomendação minha.
- Tudo bem. Eu entro com o Thiago e saio rapidinho. Não vamos demorar. Ele disse já tirando os sapatos.
- Vocês vão entrar como?
- De calça, ué. – Thiago disse já puxando Victor pelo braço e cara... Como aquela puxada no braço me chateou.
Ele o puxou da mesma forma que eu o puxava quando queria leva-lo de alguém indesejável. Naquele instante toda a festa acabou pra mim. Eu queria ir embora imediatamente.
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Esse é oficialmente o maior capítulo que já escrevi. São dezesseis folhas em fonte doze. Espero que estejam satisfeitos. O final da festa acontece no capítulo seguinte.
Drica (Drikita): Eu estranhei. Eu lembro do username de todos os leitores que costumam comentar. Sempre que alguém não comenta eu sinto falta na hora. Mas tudo bem, espero que esteja melhor.
Drica Telles(VCMEDS): Pois é. Mas quando você começa um comentário como o anterior eu já penso que você tá odiando o conto. POrque a forma como você escreve me transparece isso. Mas eu entendo que você odeia o César, não o conto. Tô certo? Já a sua teoria deles serem irmãos é super interessante. Seria coincidência demais.
LUCKASs,Edu19>Edu15, Jardon e Malévola : Vou postar com mais frequência.
Monster: Concordo. Acho que todo mundo precisa de um pouco de sal sim.
Yami: :O Meu Deus! Será?? Eles são completamente opostos.
LiloBH: Adorei o feriado! Já quero juntar com os próximos! kkkk Grandes autores é ótimo. Nada... Eu só gosto de escrever. Se eu pudesse escrever tudo mesmo que vem até minha cabeça eu teria um arsenal de contos enorme! Porque eu crio durante todo o dia as mais diversas situações pra se começar um ponto. É como um vício. Está em toda parte, em todos os lugares. É uma ótima teoria o fato do Victor ter se abalado com o César porque sempre esteve na dele só que sem saber. Os capitulos saindo em dois dias na semana é o que eu planejo. Vai depender dos comentários. Porque quando o número é pouco eu penso que o pessoal ainda não leu e vão comentar em alguma hora. SOu muito ingênuo e esperançoso kkkk Daí evito postar, mas eu vou acelerar.
Abraço pessoal. Até mais.