Um Sopro de Primavera - Parte IX

Um conto erótico de Luke
Categoria: Homossexual
Contém 1471 palavras
Data: 26/02/2015 01:55:33
Última revisão: 26/02/2015 01:56:27

Parte IX – Rotina

Os dias seguintes se tornaram uma espécie de rotina. Eu acordava cedo, algumas vezes tomava café na padaria da dona Eliza, ia para as minhas aulas, almoçava com meus novos amigos (é, acho que já dá pra chamá-los assim), voltava para as aulas, e retornava para casa. A carga de leitura começou a aumentar, então pelo menos duas horas do meu período em casa eram tomadas pelas leituras da faculdade. Depois que terminava todos os meus deveres, preparava alguma coisa para comer e, acompanhado de um filme ou algum outro programa de TV qualquer, relaxava um pouco. Sempre arranjava um tempinho aqui ou ali para os meus livros também, principalmente antes de dormir. Não para relaxar. Acreditem, ler não é um bom método para induzir o sono, ou pelo menos não se você estiver lendo algo em que esteja interessado.

Geralmente, como ritual, eu colocava os meus fones e ouvia música até o sono chegar ou eu adormecer por completo, o que acontecia várias vezes. Como sou extremamente eclético, eu costumo variar nos estilos musicais que ouço antes de dormir (ei, até funk eu consigo ouvir). Tudo depende do meu estado de humor. Mas o mais constante, para os dias comuns, é música clássica. Sempre gostei, e é algo extremamente relaxante. Claro, não só a clássica como também os pianistas atuais, e os instrumentais. Óperas são legais, mas está mais para o êxtase do que para o sono.

E é claro, entre tudo isso, eu pensava nele. Não o tempo todo, claro, tanto porque não tinha tempo para isso quanto porque ele ainda não tinha todo esse controle sobre mim. Não, ele vinha à minha cabeça nos intervalos entre os meus afazeres, enquanto tentava dormir, nos meus banhos (HÁ, não sou de ferro), e, é claro, enquanto o observava durante as aulas. Minha observação era tão detalhada que acabei por, inconscientemente, construir um relatório sobre ele.

Iniciava poucas conversas durante as aulas, mas não se recusava a conversar com ninguém; fazia anotações esparsas, do tipo que, provavelmente, só ele entenderia; tinha uma mania engraçada de se distrair, geralmente com movimentos aleatórios dos dedos na mesa ou mexendo nos cabelos da nuca; quando cochilava, deitava a cabeça no moletom, e seus cabelos cobriam sua testa; e mais um monte de comportamentos próprios dele. Tá, podem me chamar de obsessivo, mas continuo a defender minha posição, era apenas uma curiosidade. Do tipo que só se sente por algumas pessoas "interessantes", se é que me entendem.

E assim era minha semana. Exceto na sexta, quando não tinha aulas no período da tarde, e nos finais de semana. Nesses períodos livres, ficava feliz em assistir mais e mais filmes, ler meus livros (não os de Direito, a menos que fosse uma emergência), jogar Xbox, conversar com meus amigos no facebook ou telefone, navegar na Internet... enfim, de sexta depois do almoço até domingo à noite eu fazia o que bem entendesse. Também gostava de sair para caminhar um pouco, e estava enchendo o meu pai para que ele pagasse a academia, o que ainda não dera resultados. Estava com medo de engordar nessa vida parada, apesar de estar tomando cuidado para manter uma refeição saudável.

Tinha consciência de que muitos dos meus colegas de classe combinavam programas para os finais de semana, e fui convidado para muitos, principalmente por Andressa, mas tinha preguiça demais para ir a qualquer um deles. Também sabia que isso poderia complicar o processo de fazer amizades na minha sala, mas não estava ligando muito para isso também. Sentia falta dos amigos velhos, e amizades novas, sem contar as que já tinha feito, podiam esperar.

Andressa sempre reclamava que eu não podia continuar assim, que ia acabar ficando muito solitário. Aliás, estava me dando um sermão naquele exato momento, durante a primeira aula de quarta feira, na quarta semana de aula. E eu, como de costume, me encostava na parede e olhava diretamente em seus olhos, lhe dando a falsa impressão de que estava preso a cada palavra.

-... estou te falando, Lucas, você tem que sair um pouco daquele apartamento! Qual é, você já mora aqui há quase um mês, não acha que devia conhecer um pouco a cidade? E que maneira melhor do que saindo com seus colegas de sala?

- Dessah, eu só não me animo fácil – respondi, exaltado. - Simples assim. Se tivesse outra festa eu com certeza iria, você sabe disso. Sair para comer ou qualquer outro programa já é outra história. Eu juro que um dia saio com vocês, palavra. Ok?

- Você me enrola com esse papo há dias, já chega! Até o Danilo anda saindo com a gente de vez em quando, e você nesse marasmo! Sexta feira nós vamos sair, e sem discussão! E eu falo sério quando digo que você vai se arrepender se não for.

Ok, aquele olhar e a voz sussurrada despertaram meus alertas defensivos. Obviamente, a paciência dela tinha acabado. É, parece que não teria outra escolha. Suspirando, disse:

- Tá bom, acho que dessa vez não tenho escolha - girei os olhos enquanto ela dava um sorriso triunfante. - Quem vai?

- Ahh, bastante gente. Parece que a galera quer ir num bar com música ao vivo. Vai ser bem legal, a Camila disse que...

E ela seguiu listando as qualidades do lugar, enquanto eu voltava para o meu torpor. Bem, acho que já estava na hora mesmo de largar essa preguiça e despertar meu lado social. Contudo, não conseguia deixar de sentir um certo receio quanto a isso. Meu sempre presente nervosismo quando se trata de situações novas. Porém, teria que passar por isso uma hora ou outra, então melhor que fosse logo.

Logo a aula acabou e seguimos para a próxima sala. Dessa vez, enquanto Danilo tirava um cochilo e Andressa conversava com algumas garotas que eu só conhecia de nome, apenas me encostei na parede e tirei meu livro da mochila. Estava tão entretido que quase pulei de susto quando alguém sentou na cadeira ao meu lado.

- Engraçado, toda semana você parece estar lendo um livro diferente. Toda vez que paro para falar com você tem um novo na sua mão - aquela voz era inconfundível. Ou pelo menos para mim.

- Ahh, oi, Brandon - disse, enquanto me recuperava do susto. - Você quase me matou do coração despencando assim na cadeira.

- Foi mal, cara - ele disse rindo -, não foi minha intenção. Hein, qual é o livro da vez?

- Já ouviu falar da Trilogia Millennium? Esse é o segundo - disse a ele, mostrando a capa de A Menina que Brincava com Fogo. - É um suspense policial sueco.

- Cara, ouvir falar até já ouvi, mas nunca tinha procurado saber mais sobre ele não...

E conversamos por alguns minutos, enquanto a aula não começava. Brandon era assim, sempre conversando com a maioria das pessoas da sala, então não havia nada de especial em puxar uma conversa comigo. Claro, para mim era sempre uma situação, digamos, diferente. Frequentemente desviava os olhos e evitava sustentar seu olhar. Aqueles olhos dele ainda me desconcertavam um pouco, e não tive tempo suficiente para trabalhar em como disfarçar isso. Era uma situação engraçada, o modo como eles pareciam me atrair de forma intensa e, no momento seguinte, fazer com que eu desviasse o olhar rapidamente.

- Mas então, você vai lá sexta à noite?

- O quê?! - Confesso, a pergunta me pegou totalmente desprevenido. Não tinha a menor ideia de que ele pudesse ir também.

- Você sabe, lá no bar, a Andressa provavelmente deve ter te chamado. É que eu não te vejo em nenhuma das vezes que a gente sai, então pensei que, talvez, nessa ela tenha conseguido te convencer - ele parecia esperançoso.

Não sei o que me deixava mais perplexo: meus amigos estarem, esse tempo todo, andando com ele, ou ele saber tanto sobre a minha relação com a Andressa. Claro, o segundo era explicado pelo primeiro, mas ainda assim foi meio surpreendente. Mas logo cheguei à conclusão de que não havia nada de mais nisso, já que a Andressa sempre disse que costumava ir bastante gente nesses eventos. De qualquer forma, ele estava esperando uma resposta, então tratei logo de responder:

- Ah, sim, ela me falou. Eu estava meio sem ânimo para fazer qualquer coisa nesses dias, mas dessa vez eu vou sim. Até porque ela não me deu muita escolha - disse, e abaixei a voz para um sussurro -, e acredite, ela pode ser assustadora quando quer.

- Não duvido nada - ele disse rindo também. - Mas pelo menos ela conseguiu te convencer, e você sabe, os fins justificam os meios.

- Muito maquiavélico você - disse, irônico, e logo estávamos rindo de novo.

Ele se despediu e voltou para seu lugar, parando para conversar com outras pessoas no caminho. Certo, agora o evento nem parecia tão desinteressante quanto antes.

Essa atraçãozinha estava evoluindo rápido demais para o meu gosto.


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Comentários

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Cara, vc foi o primeiro escritor dessa site que eu li um conto, e tu foi tão mau com quem gostava da sua história, terminou justamente quando os dois tinham se beijado, e isso eu acho que tem uns dois anos. Pelo amor de Deus, te imploro, termina essa história dessa vez é posta mais vezes

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