Num gesto de companheirismo, amor, solidariedade, Alex quis fazer o exame junto comigo, e se eu já amava aquele homem ,passei tambem a admirá-lo.
- Se for para passar vergonha, vamos passar juntos_ disse ele antes de sairmos para a consulta.
Apesar disso, me senti muito constrangido com as perguntas do médico que, num tom formal, quis saber de toda minha vida sexual: se eu era exclusivamente homossexual, quantos parceiros tivera no ultimo ano, se praticava o sexo passivo ou ativo. Eu respondia a tudo em voz baixa, vermelho de vergonha, tendo a meu lado Alex me encorajando com o olhar.
- O parceiro dele sou só eu_ ele disse ao medico.
- Sim, mas isso agora_ o medico nos fitou por tras dos óculos de lentes grossas_ E antes, foram quantos? Cinquenta? Mais de cem?
Fique atônito, meio indignado. Não achava que eram tantos assim, mas nao sabia ao certo o número.
- Eu nao sei_ balbuciei.
Depois ele fez as mesmas perguntas a Alex, que sem hesitar, confessou sua vida quase celibatária antes de mim, uma ou duas transas por ano, no máximo, sempre com camisinha. O medico fez um gesto afirmativo, anotando algo na ficha, e passou ao exame fisico. Apertou meu nódulo no pescoço, perguntou do meu peso, me pesou ali mesmo, examinou minhas costas e tórax, a sola de meus pés, tomou minha temperatura corporal, examinou meus pulmões.
- Excetuando o linfonodo, que é essa íngua no pescoço, o resto parece em ordem_ disse o medico, voltando à mesa e escrevendo na minha ficha_ Mas vou requerer o exame imediatamente.
Fez o mesmo em Alex, e me pareceu mais rapido, como se houvesse já uma convicção formada na cabeça dele sobre nós dois. Como éramos um casal, aceitou em nos receber juntos, e quando a consulta terminava, perguntou há quanto tempo estavamos namorando.
- Ainda não fez um mês_ respondeu Alex.
- Será prudente continuar com o uso do preservativo_ disse o doutor, nos olhando por um tempo_ Só pra garantir.
No laboratório colheram nosso sangue, preenchemos outra ficha e fomos informados da data que provavelmente sairia o resultado. Voltamos entao para casa, de táxi, e para me agradar, Alex comprou no supermercado um pote de sorvete de chocolate e bombons. Ficou comigo o dia todo em casa, mesmo precisando estudar, me paparicando, consolando quando me via triste, comentando os programas de televisão para me distrair.
No outro dia chegou cedinho com seu material de estudo, umas revistas variadas para eu ver, e um disco do Tears For Fears que eu conhecia pouco, mas adorei. A companhia dele evitava que eu me sentisse muito pra baixo, que pensasse muito na doença e na quase certeza que eu tinha de estar infectado. Havia aparecido outro carocinho no meu pescoço, do outro lado, tambem indolor, embora o medico tenha dito que isso desapareceria espontaneamente no prazo de até três meses. Porem era constrangedor, e as vezes as pessoas ficavam olhando indiscretamente.
Por minha vontade, transamos à tarde no quarto, de janela aberta por conta do calor. Ele se mostrou tão carinhoso, tão devotado a mim quando me amava. Eu nunca vi nada igual em outros homens, aquilo devia ser mesmo muito raro.
- Se voce ficar sem esperança, sera muito dificil, meu anjo - disse ele nesse dia, deitado sobre meu peito, ambos ainda nus e suados.
- Ja esta dificil, Alex - falei baixinho, acariciando a cabeça dele - Me ajude a ter esperança, cara. Nao estou conseguindo.
Ele se virou sobre mim, me olhando de perto, passando devagar o dedo polegar por meu rosto, labios, nariz, sobrancelhas.
- Se eu fosse um cara de desistir facil, de nao ser teimoso ou sem esperança, agora voce nao estaria comigo - sussurrou ele - Caso minha passagem por sua vida um dia se mostre insignificante, aprenda pelo menos isso comigo: nao desista, por pior que seja a situaçao.
- Voce esta longe de ser insignificante pra mim - falei sorrindo e o abraçando - Estou te amando cada vez mais... Meu melhor amigo, namorado e companheiro...
Senti que ele me abraçou mais forte, decerto comovido pois notei um pouco da quentura molhada de suas lagrimas em meu pescoço. Alem de tudo, era emotivo. E eu começava a admirar isso nele.
Voltei ao trabalho no outro dia, precisava ocupar minha cabeça com aquilo, ficar em casa pensando besteira nao ajudaria em nada. À noite fui à faculdade, estudei com dedicaçao, em total silencio, e em certo momento notei Vitor me observando. Ele me conhecia, decerto percebeu meu semblante sério e preocupado, e devia estar se perguntando o que tinha havido. Mas nao veio falar comigo.
Alex nao veio naquela noite, achava que a mãe poderia desconfiar caso ele passasse muitas noites fora de casa. Ficamos conversando no telefone por longo tempo, ele sempre me motivando, falando que daria tudo certo, que eu era um vencedor, que tinhamos coragem de sobra para o que viesse. Ele estava com medo do resultado do exame, percebi isso ,e fiquei com pena, cheguei a chorar sozinho ali, em frente à televisão, pensando no futuro sombrio que nos aguardava.
Foi a partir daquela noite que passei a suar horrivelmente durante o sono. Acordava empapado de suor, chegando a molhar a camiseta e umedecer lençol e travesseiro. Precisava tomar um banho e mudar de roupa toda madrugada, e apesar do intenso calor achei aquilo muito estranho e exagerado. Talvez o doutor tivesse uma explicaçao para isso.
Afinal, numa quinta-feira, avisaram o Alex por telefone que os nossos exames estavam prontos. Ele nao perdeu tempo, me pegou de táxi no serviço, e seguimos para o laboratório apanhar os envelopes e levar ao doutor. Embora eu tivesse quase certeza do resultado, estava num nervosismo insuportavel, e via que Alex tambem seguia calado, tenso, muito mais por mim do que por ele, isso eu sabia.
Pegamos os papéis e levamos ao consultorio. O médico leu atentamente cada resultado, sem nos olhar uma única vez. Fechou entao um dos envelopes.
- Alexandre, segundo o exame voce nao tem nada_ falou e não vi a tensão diminuir no rosto de Alex.
Minhas mãos começaram a tremer e Alex segurou uma delas, com força. Cravei o olhar no rosto do médico que fechou meu exame e me olhou sem expressao.
- O seu resultado, Marcos, deu positivo .
Mesmo sabendo que seria isso, doía, e não consegui me segurar, chorei ali em frente ao médico, abaixando a cabeça com a mão nos olhos, sendo imediatamente amparado por Alex que se agachou ao meu lado e me abraçou apertado, chorando tambem, mas em silêncio.
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