O texto anterior estava apresentando problemas pra ser lido, mas já restaurei. Se não leu ainda, volta lá, lê, comenta, dá nota e etc, beleza? kk Obrigado, gente.
Ah, e, pra quem perguntou se o conto é real, é, em parte. A maioria dos fatos aconteceu sim, e me levaram pra onde eu estou hoje. Mas muito dos detalhes e das conversas eu complementei com criatividade, afinal, minha memória não é perfeita. Abraço.
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Foi aí que senti alguém deitar atrás de mim. Antes que eu pudesse virar pra ver quem era, senti ele me abraçar e colocar o nariz no meu pescoço, me fazendo arrepiar. Senti ele pressionando o pau duro contra a minha bunda, e a mão alisando minha barriga nua.
- Te amo...
Gelei ao reconhecer a voz.
- Danilo?
Ele não respondeu. Não tive coragem de virar, e, depois de um tempo, percebi que ele havia dormido. Sem conseguir entender o que aquilo significava, perdi o sono. Uma parte de mim queria acreditar que ele tinha falado a verdade e que me amava. A outra parte, menos ingênua, afirmava que ele estava bêbado demais pra ao menos saber o que estava dizendo.
Quando o céu clareou, levantei e me vesti. Deixei Danilo deitado na cama, ainda de lado, como se ainda estivesse me abraçando. Parei e fiquei olhando a cena, e pensei em todas as vezes que eu havia imaginado dormir ao lado dele. Em nenhum dos cenários que eu havia imaginado ele estava bêbado. E em todos eles eu tinha certeza que ele realmente queria estar deitado comigo.
Vaguei pela casa e encontrei Sabrina ainda dormindo no quarto de hóspedes. Não encontrei Rafael nos sofás, e me perguntei se ele teria subido pro seu quarto e visto como eu e Danilo estávamos. Acabei indo fazer café na cozinha, nervoso e confuso, sem saber se falava sobre o que tinha acontecido com o Danilo e – agora, também – com o Rafael. Enquanto pensava, escutei alguém entrando pela porta da área de serviço.
- Bom dia - Rafael falou, entrando.
- Bom dia – respondi, analisando o rosto dele, procurando qualquer sinal de que ele havia voltado ao quarto dele e visto Danilo me abraçando. Não havia, Rafael parecia o mesmo de sempre.
- Senti o cheiro de café e vim ver quem estava fazendo.
- Achei que você tinha dormido no sofá.
- Acordei umas seis, com um calor do caralho, daí fui dormir na rede da varanda.
- Hm. Não subiu pros quartos? – perguntei, tentando esconder o nervosismo.
- Não. Deveria ter subido? Sentiu minha falta? – falou, brincando.
- Foi, a cama tava muito vazia. – menti.
Ele falou alguma coisa com a boca cheia de pão e riu. Respirei aliviado, ele não tinha visto nada. Sabrina logo apareceu, tomou café e ligou pros pais irem busca-la.
- Luke, quer carona?
- Não precisa, meu pai disse que nove e meia vinha me buscar, daqui a pouco ele aparece.
- Pô cara – Rafael reclamou – fica até mais tarde.
- Minha mãe ia me matar, não apareço em casa desde as sete de ontem...
- Ignora ele, Lucas. Ele só te quer aqui porque precisa de alguém pra fazer o almoço – Sabrina implicou.
- Pra sua informação, eu ia levar ele pra comer. – Rafael rebateu.
- E posso saber porque só ele é o convidado? Você não falou um piu quando pedi pra virem me buscar. – Sabrina perguntou, de braços cruzados.
- Porque você é um pé no saco.
Ouvimos uma buzina, o pai de Sabrina haviam chegado.
- Olha, Rafael, você tá me devendo um almoço. – ela falou, me deu um beijo, e se dirigiu para a porta.
- Sai pra lá, garota, desde ontem te pago comida. – Rafael gritou.
- E eu te adoro por isso, amigo, me convida na próxima, tá?
- Eu sempre convido, não é? – Ele falou, mas ela já havia saído porta à fora.
- Ela não tem jeito mesmo – falei, rindo.
- Não, não tem. – Rafael concordou. – Mas e ai, onde quer comer?
- Rafael, eu não posso, meus pais...
- Por favor, Lucas – ele pediu, segurando meus ombros – te imploro, não quero comer só.
- Chama o Danilo, ele ainda tá dormindo lá em cima.
- Não quero...
Mas ele foi interrompido por outra buzina, meu pai havia chegado.
- Fica pra próxima, Fael.
- Beleza, quando, então?
- Não sei, fala com a galera...
- Nada disso, eu e você! Você tá me devendo.
- Desde quando?
- Desde agora, quando me deixou na mão pra ir pra casa fazer porcaria nenhuma.
Meu pai buzinou novamente, eu não tinha tempo pra discutir.
- Tá bom, Rafael.
Ele riu, beijou o topo da minha cabeça e me empurrou. Peguei minha bolsa no sofá da sala, e saí. Em casa, deitei na minha cama e pensei sobre tudo o que havia acontecido no dia anterior. Danilo uma hora demonstrando nojo da ideia de ao menos beijar um cara. Depois, deitando na cama onde eu estava, me abraçando por trás – de pau duro – e dizendo que me amava. Fiquei feliz de não ter encontrado com ele. E se ele lembrasse do que tinha feito? Será que ele teria coragem de perguntar se eu estava acordado também? E se ele perguntasse, eu teria coragem de dizer que sim? Eram tantas perguntas, e nenhuma resposta.
Na segunda, obtive algumas respostas. Danilo agiu normalmente, e parecia não lembrar de nada. Criei coragem de perguntar:
- Não lembra nem como foi parar no quarto do Rafael?
- Juro que não – falou, rindo – Só lembro de acordar com o cheiro de café vindo da cozinha.
- Porque você bebeu tanto, afinal? – Sabrina questionou – Você nunca bebe.
Observei uma rápida troca de olhares entre Danilo e Rafael, que tinha um sorriso na boca. Me perguntei qual o segredo que os dois continuavam guardando.
- Pra tudo tem uma primeira vez – Rafael saiu em defesa dele.
Quando a aula terminou, acompanhei Danilo até a saída.
- E seu pai? Melhorou?
- Melhorou. – ele respondeu, aliviado. – Se quiser, pode ir visitar.
- Vou sim, amanhã à tarde, pode ser?
- Pode sim. Quer ir almoçar lá?
- Beleza, vou sim. – respondi, sorrindo. A possibilidade de almoçar só com ele e passar a tarde juntos me animava.
Chegamos ao portão e me despedi dele. Não havia nem virado a esquina e senti um abraço por trás e alguém falando no meu ouvido.
- Aceita um almoço grátis?
- Não, Fael – respondi, rindo. – Tenho que ir almoçar em casa, minha mãe fez comida.
- Que tal amanhã?
- Não posso, fiquei de ir almoçar com o Danilo.
- Ok, então. – e saiu, sem se despedir. Me incomodava o quanto o Rafael podia ser carente.
À noite, fui até a casa da Alice, e dessa vez dividi minhas preocupações com ela. Ela não pareceu surpresa ao ouvir a história, o que me incomodou. Ela só me encarou com uma expressão estranha.
- Olha, Lucas, é tudo muito estranho mesmo, mas pensa só: ele tava muito bêbado, você viu. E o Danilo nunca bebe, então é ainda mais fraco pra álcool. Acho que ele tá falando a verdade: ele não lembra de nada.
- Mas se ele não lembrar de nada, como eu vou saber se ele tava falando aquilo pra mim?
- Você não vai! Esquece o Danilo, Lucas...
- Eu já tentei...
- Não, Lucas! Você precisa mesmo esquecer isso. – ela falou, de um jeito mais urgente.
- Porque isso? Você... Alice, você gosta do Da...
- Claro que não – ela me interrompeu. – Não é isso.
- E o que é, então? – ela ficou calada. – Alice... – ela não me olhou. – Alice! – exclamei, segurando o rosto dela. – O que você sabe, que eu não sei?
- Olha – ela começou – O Rafael não chamou vocês pra dormirem lá à toa...
Eu lembrei da rápida troca de olhares entre o Danilo e o Rafael quando questionei nos separar em quartos diferentes e, de novo, o mesmo olhar pela manhã, quando Sabrina questionou o fato de o Danilo ter exagerado na bebida.
- E porque foi?
- O Danilo pediu pra ele, ele achou que à noite, no quarto, depois de beber, ficaria mais fácil...
- Mais fácil o que?
- Pra ele... que ele teria coragem...
- De que?
- De falar o que ele realmente sente, saber se é recíproco, e quem sabe...
- É isso então? Ele realmente tava sóbrio na hora? Porque ele fingiu dormir? Porque ele finge que não lembra de nada? – perguntei, confuso – Foi porque eu não respondi nada?
- Lucas, você não entendeu – ela me olhou de um jeito estranho.
- Não entendi o que?
- Quando o Danilo subiu pro quarto, ele não estava te procurando. Ele foi parar no quarto do Rafael por engano, por causa da bebida. Ele exagerou, Lucas, bebeu demais. Por isso acho que ele, sinceramente, nem lembra. – o olhar estranho no rosto dela continuava lá – Mas quando ele chegou no quarto, ele achou que tava no lugar certo, no quarto de hóspedes, com a pessoa certa, que estava dormindo lá... Lucas, quando o Danilo falou aquilo pra você, ele pensava que você era a Sabrina.
E, finalmente, eu identifiquei o olhar estranho no rosto dela: pena.