Cap.8
NARRADO POR FABIO
Sai de lá arrasado. Como ele podia ter feito isso comigo, brigado comigo, que sempre fui amigo dele, pra todas as horas, sempre o apoiei em todos os momentos. Cadê o Wil pelo qual eu me apaixonei ?
NARRADO POR WIL
Estava de cabeça quente. Tentava entender o porquê de Fábio ter inventado aquele mentira. Ele não tinha motivo. Marcelo não dava razão para que aquilo fosse verdade. Aquilo só podia ser uma mentira. Minha cabeça estava prestes a explodir. Eu sabia que Fábio não era mentiroso, mas eu não conseguia acreditar que o que ele tinha acabado de me dizer era verdade.
- Amor ?- escutei a doce voz de Marcelo do outro lado da linha
- Oi Marcelo
- Você quer sair comigo hoje ?
- Pra onde ?
- Posso fazer uma surpresa ?
- Claro. Mas qual tipo de roupa devo usar ?
- Qualquer tipo amor.
- Ok
- Até a noite, te amo- toda vez que ele falava isso, meu coração acelerava.
NARRADO POR MARCELO
Toda vez que eu falava isso, sentia ânsia de vômito. Eu nunca amaria um homem. Acho que eu nunca amarei ninguém. Eu só amo a mim mesmo. Também, quem não amaria. Eu sou lindo, sou maravilhoso, e sei disso. Estava chegando a hora. A hora de eu colocar aquele viado encubado no lugar dele. De eu acabar com a vida dele. Deixar ele sem chão. Assim como um dia, meu tio gay fez comigo.
NARRADO POR FÁBIO
Os dias que se seguiram foram torturantes. Ele estava me evitando de todos os modos possíveis. Sim, doía no fundo do meu coração. Algumas outras vezes, vi ele e o crápula do namorado dele andando juntos. Aqueles momentos eram os piores. Via eles rindo, enquanto eu chorava. Eu sabia que ele faria um mal para o meu amigo, e isso era o que mais me doía. E isso aconteceu.
NARRADO POR WILLIAM
Estava saindo da escola. Marcelo mais uma vez estava ao meu lado. Fábio apenas nos observava. Desde aquele dia eu não habia falado com ele. E estava cada vez com mais certeza de que ele havia mentido pra mim. Eu só tentava descobrir o motivo. O motivo pra ele ter tentado mentir pra mim.
- E ai, você vai me levar pra casa hoje ?- perguntei, olhando pra ele, que sorria.
- Não. Vou te levar a outro lugar, mas é surpresa.
- De novo, da última vez essa surpresa me rendeu 3 quilos- ele riu
- Não reclama, que eu sei que você gostou- agora quem riu fui eu. Entramos no carro, e saímos andando.
TEMPO DEPOIS
Estávamos andando por uma estrada de terra, fora da cidade. Metade do meu corpo estava com medo, outra metade se sentia segura, por causa da sua presença.
- Você não vai me dizer aonde está me levando ?
- Calma, tá chegando- andamos mais alguns minutos, até pararmos frente a uma cabana- chegamos- desci do carro e o segui. Entramos naquele casebre. Era um lugar sujo e fétido, até ali não tinha entendido o porque dele ter me trazido ali
- Porque viemos aqui ?
- Eu te trouxe aqui para contar uma história- ele riu.
- Uma história ?
- É, uma história- imaginei logo que seria algo romântico, apesar de estarmos naquele lugar imundo- era uma vez um adolescente. Um adolescente cheio de sonhos, com os hormônios a flor da pele, louco de amores por seu tio e ingênuo ao extremo- que papo mais esquisito !- uma vez, ele contou tudo para o tio. Que o amava, apesar de ser seu tio, que queria viver com ele, que era dele para sempre. Sabe o que o tio fez ?
- Não- eu estava com medo
- Ele bateu no sobrinho- ele se virou com os olhos cheios de lágrimas pra mim. Estava com um olhar diferente, um olhar de raiva- ele bateu tanto no sobrinho, o xingou e o humilhou de tantas coisas, o feriu tanto, que o sobrinho ficou paraplégico. Demorou anos pra se recuperar.
- Porque você está me contando essa história ? Porque essa cara Marcelo- por impulso, comecei a me afastar. Vi ele vir na minha direção, com ainda mais raiva.
- Sabe o que vai acontecer agora ?- neguei com a cabeça- vamos brincar. Eu vou ser o tio, você o sobrinho- arregalei os olhos- você é um idiota mesmo !- ele ria, sadicamente
- O que ? O que você disse ?
- Você achou mesmo que alguém como eu ficaria com você ?- meus olhos encheram de lágrimas.
- Como é que é ?
- Eu nunca ficaria com alguém como você, eu não sou viado, eu não te amo- e então senti uma forte dor no meu rosto, ele havia me dado um soco. A dor foi tão intensa, que eu imediatamente cai no chão.
- Você mentiu ? Você brincou com os meus sentimentos ? Você me fez brigar com meu melhor amigo ? Você é louco ?
- Estou apenas reproduzindo tudo o que o meu tio me ensinou a fazer- seu sorriso e seu olhar faziam eu ter ainda mais medo. Parecia que eu estava vendo um diabo, e não um humano. Senti um chute, agora nas minhas costas. Foram repetidos xingamentos, chutes, socos, pontapés, que me arrancaram sangue, a minha dignidade, e destruíram o meu coração. Nenhuma daquelas pancadas doeram mais que a dor emocional que eu sentia. Tentava me defender, mas ele era bem maior que eu, me antigia facilmente. Comecei a ver tudo mais escuro. Imaginei estar morrendo. Pensei em todos aqueles que me importavam. Em minha irmã, meus pais, e logo veio a figura de Fábio em minha cabeça. Se eu morresse ali, seria de mal com meu melhor amigo. E talvez com a única pessoa que me amava e me queria bem de verdade. Apaguei
NARRADO POR FÁBIO
Estava deitado na minha cama, as lágrimas. Meu coração doía como nunca. Eu amava demais meu amigo, e agora ele estava com raiva de mim. Ele não me amava, e nem sua amizade eu tinha mais. De repente comecei a sentir algo ruim. Um pressentimento de algo terrível tinha acontecido. Algo que mudaria minha vida.
NARRADO POR MARCELO
Mais uma vida destruída. Mais uma vingança completada. Eu me sentia tomado por uma força sobrenatural, que tinha triplicado minha força e minha raiva. O corpo estava imóvel. Ele devia estar morto.
- Que as formigas te devorem, sua bicha !- sai dali suado. Entrei no carro e parti. Sem olhar pra trás. Entrei na estrada, de volta pra cidade. Parecia estar mais leve. Sorria. Tinha certeza que era um louco. Mas eu não ligava. Talvez aquela minha loucura estivesse fazendo eu ver 200 km marcados no ponteiro do carro. A mesma loucura fez eu ver o carro rodopiar na pista. A mesma loucura fez eu ver sangue escorrer pela minha perna. E como num passe de mágica, tudo ficou escuro pra mim. Um calor tomava conta do meu corpo. Eu não estava mais vivo.
NARRADO POR FÁBIO
Tomava um banho pra ver se aquela sensação ruim passava. Até que ouço meu telefone tocar. Por algum motivo, saio do banheiro correndo pra atender.
- Alô ?
Continua
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