Conserto de Corações - Parte 02

Um conto erótico de Puzzle
Categoria: Homossexual
Contém 2915 palavras
Data: 10/09/2014 17:11:11

Logo após minha mãe ter nos apresentado, cumprimentei ele que deu uma risada contida ao reparar na minha cara de surpreso ao vê-lo. Charlie comentou que nós éramos da mesma turma o que eu achei um pouco suspeito considerando que ele mal olhou para mim durante as aulas e raramente tirou os olhos do seu caderno. Ao menos eu não vi.

Rodrigo e minha mãe ficaram felizes por estudarmos na mesma escola pois assim poderíamos nos conhecer melhor e fazer amizade mais rápido. Sentamos na mesa de jantar e a Geni nos serviu com o seu rosbife que estava divino. E eu que achava que ela só sabia cozinhar arroz, feijão e carne moída. Porque era só isso que ela costumava fazer e de má vontade, mas como ela queria causar boa impressão, tratou te incorporar o espírito de um cozinheiro profissional em questão de minutos.

– Você gostou da escola nova Charlie? – Pamela perguntou.

– Eu só comecei hoje, mas já gostei de lá – Ele respondeu um pouco tímido.

– De estudar você gosta né? – Minha mãe quis saber.

– Dependendo da matéria, sim.

– O Vincent odeia todas as matérias. Sem exceção! – Ela revelou me envergonhando.

– Mentira mãe! Eu odeio todas fora filosofia, sociologia, biologia e literatura.

– Ano passado, você sabe o que ele inventou para não levar zero num trabalho de sociologia? – Minha mãe continuou – Ele inventou que o cachorro dele tinha fugido de casa com o trabalho. E nós nunca tivemos cachorro. Só que não adiantou nada, porque a professora deu um zero bem grande para ele do mesmo jeito. Isso porque gosta da matéria, imagine se não gostasse.

– Eu tenho um cachorro em casa. Já cansei de refazer trabalho várias vezes porque ele vive comendo. Eu refaço tudo, mas na hora eu fico morrendo de raiva dele – Contou o enteado dela.

– Não, eu não consigo ter raiva de cachorro. Porque não existe melhor amigo do que ele, que te ama sem querer nada em troca. O cachorro pode destruir os seus moveis, seu jardim...

– Menos o seu coração - Pamela completou.

– Acho que o único defeito deles é ter a vida muito curta – Charlie falou.

– Com toda certeza - Minha mãe concordou com ele – Eu só não tenho um em casa porque eu sei o quanto dá trabalho, eu sou uma pessoa muito ocupada e esses dois aqui não conseguem cuidar nem de um hamster. Tanto que teve uma vez que eu comprei um hamster sírio pro Vincent no aniversário dele de dez anos. No começo, eu não queria comprar porque eu sabia que ele não ia cuidar, mas ele insistiu tanto que eu acabei comprando....

– Aí num belo dia eu fui abrir a gaiola, o hamster mordeu o meu dedo e fugiu pela porta da frente levando um amendoim – Terminei de contar a história.

– E você acredita que todo ano ele ainda me pede um cachorro de presente no natal? Se ele não dá conta de um bicho que cabe na própria mão, imagine um que pode ficar maior e mais alto que ele... Vocês gostaram do rosbife que eu fiz?

– Meu deus, isso aqui tá bom demais – Rodrigo elogiou a comida.

– Tá bom demais para ser verdade, isso sim – Eu ri.

– Quer parar? Eu sei cozinhar muito bem quando eu quero – Geni se defendeu.

– E quando não bota fogo na comida – Pamela acrescentou.

Continuamos conversando entre si até que minha mãe serviu a sobremesa, que estava tão boa quanto o prato principal. Quando anoiteceu ela foi com o Rodrigo para o seu quarto, Pamela ficou falando ao celular com o namorado enquanto eu fiquei no sofá conversando com o Charlie.

Não pude deixar de notar o quão a voz dele era bonita. E não só a voz que era, ele também. Seus lábios avermelhados faziam uma combinação perfeita com os seus olhos verdes e mais ainda sua pele branca que revestia seu corpo sutilmente sarado devido as aulas de karatê.

Ele me contou um pouco mais sobre a sua vida, disse que seu pai tinha se divorciado há um ano e meio e que eles pretendiam comprar uma casa nova que ficasse mais próxima da escola.

Minha mãe saiu do quarto com o Rodrigo e ouviu nossa conversa. Ela comentou que tinha uma casa a venda na mesma rua que a nossa e o pai do Charlie disse que iria pegar o número do anunciante e que ligaria para ele assim chegasse em casa. Geni pediu que eles dormissem conosco, mas ele optou em ir embora pois tinha que resolver alguns assuntos de manhã bem cedo e se despediu de nós agradecendo por tudo.

Num dia eu descubro que a minha mãe estava namorando há dois meses, no outro ela marca um jantar com o meu novo padrasto e eu descubro que o filho dele na verdade era o garoto que eu fitava no colégio há algumas horas atrás. Coincidência? Para muitos, pode até ser. Mas não para mim que sempre acreditei que se alguém entra na nossa vida é por algum propósito. Fui para o meu quarto pensando nessa reflexão e na resposta para a seguinte pergunta: Se ele me reconheceu da escola, era um sinal de que ele também tinha reparado em mim, certo?

Talvez... Talvez eu deva parar de me iludir tanto...

Deitei na minha cama e fiquei encarando o teto praticando o nadismo enquanto ouvia a minha mãe e a Pamela brigando porquê aquela não queria que a minha irmã continuasse namorando com o rapaz que ela estava. Minha mãe sempre fora uma mulher muito controladora, ela queria sempre que nós fizéssemos aquilo que ela achava ser o certo. Meu pai largou ela quando eu ainda era um recém nascido, e acho que por isso ela sempre implicava com a maioria dos namorados da Pamela pois esta tinha um fraco enorme por bad boys conquistadores, e minha mãe dizia conhecer bem esse tipo. Já quando ela aprovava algum namorado dela, a minha irmã terminava com ele só para contrariar.

Sei que não era uma boa hora, mas naquela mesma noite eu pedi dinheiro a minha mãe para comprar algo novo para usar na festa do Jordan e ela começou a reclamar dizendo que eu ainda nem tinha usado as roupas que ela tinha me comprado, disse que já tinha me dado mesada, que eu precisava aprender o valor do dinheiro e Blah Blah Blah.

Ela vivia falando isso mas sempre dizia não quando eu só pensava na hipótese de arranjar um trabalho. O quê tinha de errado em querer ser independente? Absolutamente nada. Mas ela vivia dizendo que isso me atrapalharia nos estudos. Só que daquela vez eu acabei convencendo ela de que estava mais do que na hora de eu ter o meu próprio dinheiro:

– Já que você quer tanto procurar um trabalho, eu deixo mas contanto que não seja em nenhum Fast food. Nesses lugares, para você ser contratado é só escrever "Me dá um emprego?" no seu currículo, mandar e pronto, já te contrataram e na próxima semana você começa a ser escravizado.

– Pode deixar, mãe. A Thais me falou que daqui a alguns dias ela vai vai começar um período de treinamento numa livraria e que ela pode me indicar para participar junto com ela. Eu fiquei sabendo que eles estão precisando de funcionários e oferecem um salário razoável.

* * *

Entrando na escola no dia seguinte, vejo o Jordan do lado de fora da sala conversando algo com a Leona que eu não consegui entender bem o que era, mas também não dei muita importância. Se ele queria amarrar seu burro na calcinha daquela vagabunda, eu não tinha nada com isso. Uma hora ou outra ela ia ter que trocar de calcinha e o burro dele ia fugir mesmo, então dane-se.

– Vincent – Ele me chamou antes que eu entrasse na sala e logo depois que a Leona se afastou dele e de mim para ir ao banheiro – E aí, beleza?

– Tudo bem, e você? – Me virei para falar com ele.

– Sim. Você vai na sexta né?

– Se eu não for, a Bianca e a Thais vão enfiar meu dedo na tomada.

– E eu faço questão da sua presença.

– Com você insistindo tanto assim, fica difícil para mim recusar.

– Da mesma forma, também é muito difícil para mim não te chamar – Ele disparou me deixando totalmente sem palavras. Lhe-dei um sorriso tímido para tentar disfarçar o meu nervosismo. E sem responder o que ele disse fui pra sala contar para a Bianca e a Thais as novidades. Começando pelo meu novo irmão postiço que estava presente na sala.

– Olha, até que ele é gostosinho hein? – Thais comentou olhando para o Charlie sentado na mesma carteira do dia anterior, sozinho desenhando e mascando um chiclete enquanto a vampira ao meu lado jogava um jogo de zumbi no celular – Se ele for na festa, eu quero que você me apresente.

– Deixa de ser gulosa, Thais. Você já tem um morcego na sua caverna. E eu não sei se ele vai na festa, mas adivinhem quem acabou de falar comigo para confirmar se eu vou?

– Jordan – Bianca adivinhou folheando uma revista de moda – A gente viu e ouviu a conversa toda, meu querido. Achei tão fofo ele te dando uma cantada e você ficando mole que nem gelatina.

– Porra, vocês são fofoqueiras pra cacete hein?

– Ali as amadoras chegando - Thais anunciou baixinho apontando para a Leona que vinha junto com a sua amiga que fazia parte da matilha das cachorronas - Aquela ruiva ali não é a Sabrina que ficou quase um ano inteiro fora da escola por motivos desconhecidos?

– Tá mais magra ela. Deve ter emagrecido uns dez quilos, no mínimo – Bianca observou a barriga dela – Deve tá tomando algum Shake emagrecedor, só pode.

– Gente, como é que uma criatura vem para escola com um short desse tamanho? – Thais criticou o short que a Leona estava usando – Parece até um cinto essa merda.

– Por isso que o Brasil não vai pra frente - Falou a Bianca.

* * *

Finalmente tinha chegado o dia da festa do Jordan. Sim, eu estava ansioso para vê-lo naquela sexta feira apesar da nossa maior conversa aquela semana ter sido feito somente por contato visual e as duas únicas feitas por linguagem verbal terem durante um pouco menos de trinta segundos.

Escolhi usar uma camisa vermelha xadrez, um coturno preto e uma calça jeans azul escura. Thais estava usando um vestido preto de renda e a Bianca um vestido bege tomara que caía. Quando chegamos na festa, não tinha nenhum garoto que não estivesse olhando para os peitos da Bianca.

Fiquei perplexo com a quantidade de pessoas presentes na casa, quase todos os alunos da escola estavam ali. Provavelmente a Leona devia ter patrocinado a festa por uma gratinada. Esse tipo de coisa combinava muito com ela.

Por falar em gratinada, foi só eu me distrair que a Thais largou a mim e a Bianca para correr atrás do seu cavalheiro das trevas, vulgo Isaac. Pedi para a Bianca que ela ficasse do meu lado porque eu não queria ficar sozinho por ali, mas de nada adiantou. Ela disse que voltaria em pouco tempo e foi conversar com um carinha moreno que estava perto da piscina. Me sentei num banco próxima seu jardim e fiquei observando melhor aquela casa. Ela era bem ampla, tinha dois andares e sua fachada pintada de um tom claro de vermelho. Ali do lado de fora, alguns convidados pulavam na piscina, uns jogavam ping pong numa mesa apropriada e outros só faltavam esfregar a xavasca no chão enquanto dançavam. Por um segundo eu me senti dentro do filme "Projeto X" porque até uma máquina de fazer casquinha tinha naquele casarão. Eu só queria saber aonde se encontrava o anfitrião da festa. Ou melhor, onde estavam os pais dele que deixavam o filho organizar uma zoeira daquelas?

– Vai ficar aí sozinho? - Thais veio até a mim com o Isaac.

– E eu tenho outra escolha? Já que vocês me abandonaram aqui.

– Ai, Vincent. Para de drama.

– Drama? Vocês que insistiram para que eu viesse numa festa de um cara que eu não conheço, com essa galera metida a besta que eu não suporto para chegar aqui e vocês saírem correndo atrás de macho?! - Isaac arregalou os olhos com o que eu disse e riu.

– Que tal se a gente for lá pra dentro? - Ela sugeriu ignorando a minha reclamação.

– Fazer o que lá dentro?

– Sei lá, comer alguma coisa. Tô morrendo de fome.

– Grande novidade – Falei enquanto Thais me puxava pelo braço até o interior da residência. Lá dentro, avistei a Leona sentada no sofá beijando um garoto. Era gozado como sempre que trocávamos olhares um com o outro só faltava sair faísca ou um de nós dizer algo como "Essa cidade é pequena demais para nós dois..."

Bianca entrou na casa e apresentou para mim e a Thais o moreno que ela tinha conhecido, e trocado alguns beijos. Renan era seu nome, ele cursava o mesmo ano que o nosso, porém era de uma outra turma. Eu, Isaac e Thais cumprimentamos ele quando a empregada da casa estendeu uma bandeja de salgados perguntando se alguém queria alguma coisa.

– Eu quero – Thais lançou a mão em duas coxinhas e um rissole.

– Tem o bastante para todo mundo tá colega? – Eu disse a ela brincando – Vem cá, cadê o dono dessa bagaça que saí e deixa todo mundo aqui na casa dele?

– Eles foram comprar bebida e até agora não chegaram - Respondeu o Renan.

– Eu já volto – Bianca se dirigiu ao banheiro junto com a Thais.

Renan e Isaac foram para outro canto e a Leona surgiu na minha frente com seu famoso ar de superioridade e o nariz quase encostando o teto.

– Vincent, fico tão feliz que você veio!

– Também fico feliz por eu ter vindo.

– Quem foi que te convidou mesmo?

– Jordan. O anfitrião.

– Tinha que ser. Ele adora ajudar os fracos e oprimidos.

– E vocês? Estão ficando?

– Só nos beijamos umas duas vezes, nada demais.

– Humm... Então ele também deve adorar fazer a alegria de patricinhas superficiais.

– É de mim que você tá se referindo?

– Não, imagina. Eu jamais pensaria uma coisa dessas de você.

– Que bom. Tá gostando da festa?

– Adorando. Ainda mais porquê foi você quem organizou.

– Quem sabe eu te convide para minha de dezoito anos daqui a duas semanas? Vai ter brinde.

– Se eu for convidado, vou fazer questão de te dar um presente a caráter.

– E qual seria? Adoro ganhar presente!

– Um sininho para você colocar no pescoço. Toda vaquinha que se preze deve ter um.

– E de brinde eu posso te passar um remédio para tirar essa espinha imensa na sua testa. Ele é tiro e queda para tratar de cravos e espinhas. O nome dele é Adobe Photoshop CS6, já ouviu falar?

– Antes de qualquer coisa, posso te dar um conselho?

– Se conselho fosse bom, não seria gratuito. Mas vá em frente.

– Respira, se concentra e me engole ou então me vomita. Ficar mastigando não rola – Depois dessa frase de efeito, dei as costas para ela pela segunda vez. Fui para a varanda nos fundos da casa e me sentei numa poltrona quando alguém surgiu bem do meu lado. Charlie.

– Pensei que você nem viria – Afirmei.

– Por quê? – Eu quis saber.

– Você é sempre tão calado e na sua.

– É que eu sou assim com quem eu não tenho muita intimidade – Explicou ele.

– Entendi. E não é só você que é assim. Quem fala comigo pela primeira vez me acha tímido mas depois de alguns minutos ela percebe que estava enganada.

– Na verdade, eu nem queria vir. Só que o meu pai insistiu tanto que acabou me convencendo. Ele falou para eu sair um pouco porque eu não sou um suricato para ficar sempre na toca.

– Que coincidência. Minhas colegas também fez quase a mesma coisa. Eu não sei porque as pessoas acham que ficar dentro de casa não é divertido.

– Tem tantas coisas legais que você pode fazer sem ter que sair - Opinou.

– Mas não é? É tão bom ficar em casa lendo, vendo televisão...

– E tem coisa melhor do quê isso? – Ele perguntou.

– Acredito que não. Qual livro você tem lido ultimamente?

– Estou lendo pela segunda vez o "Quem é você, Alasca?"

– Esse eu comecei a ler no final do mês passado e já estou na metade.

– Mas tá gostando do que já leu? – Ele indagou.

– E tem como não gostar?

Ficamos batendo um papo sobre nossos gostos literários até que o Renan foi na varanda e disse que a Leona estava me chamando do outro lado da casa perto da piscina. Disse para o Charlie que eu já voltaria e caminhei lentamente até lá esperando mais uma rodada de troca de alfinetadas com ela em que eu quase sempre ganhava. Leona estava com a sua amiga, Sabrina e mais outros rapazes com copos de refrigerante em mãos.

– Você me chamou, Leona?

– Chamei, sim senhor.

– E o que você quer?

– Queria te adiantar o seu brinde.

Ela e todos ali presentes jogaram suas bebidas em cima de mim. De todas as humilhações que eu já tinha sofrido, aquela foi com certeza a pior delas, e olha que eu já tinha tolerado muitas. Vendo as pessoas ao meu redor rindo de mim e me fazendo de chacota, não tive outra reação senão chorar.

Olhei para a Leona e descontei nela toda a raiva que eu sentia dela naquele momento. Me aproximei dela e lhe dei um tapa forte no rosto antes de joga-la em direção a piscina.


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Comentários

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Está muito massa! Continue logo, autor! Queria que você despertasse de uma vez o que há de romântico em seu conto.

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