-O que você quer? - perguntou Bruno me encarando com os olhos vermelhos.
-Quero conversar com você. - Eu respondi me sentando ao seu lado.
-Sobre o que? - ele perguntou se arrumando na cama para mim poder sentar ao seu lado.
-Sobre o Luca. Sabe... você acha que o que você fez com ele foi certo?
-Foi. - Ele disse desviando o olhar.
- Você pisou nele. O garoto quando soube o estado em que você estava veio do Brasil pra te ver! Pra te ver! - eu disse começando a me irritar.
-Eu não chamei.
-Claro que não! Não mesmo, até porque você estava gemendo e falando o nome dele 24 horas por dia. - Eu disse.
Ele me encarou, absolutamente sem palavras.
-Eu não te acho homem de palavra, me perdoa. Lembra daquele dia em que eu me fudi pra fazer você ver o Luca no aeroporto? Você se lembra? - perguntei o encarando.
-Sim. Foi... incrível. - Ele sorriu.
-Então. Você prometeu pra ele que ia ama-lo para sempre.
-Eu não deixei de cumprir minha promessa.
-E por que você age assim com ele? Acha isso justo? Sabe, que idiotice, você tratar ele assim, até hoje não consigo entender a lógica disso.
- Amanda. Vamos conversar agora. - Bruno me encarou sério.- Olha, você não vê o quanto de sofrimento eu já trouxe a ele? Você não vê isso? Eu prefiro sofrer sem ele, e saber que ele está bem, do que saber que ele parou a vida dele por mim. Não acho isso justo, na verdade, eu não me acho digno dele. - Bruno começava a ter uma grave emoção na voz. - Eu já zuei muito com ele. Coisas que me arrependo eternamente, eu quero admitir a mim mesmo que perdi, até me contaram que ele estava com outro garoto. E eu fiquei feliz. Por isso me senti incrivelmente surpreso quando o vi aqui. Amanda, quem ama de verdade, fica feliz com a felicidade do amado. - Bruno engoliu em seco.
-Bruno. Ele nenhum desses 4 meses deixou de pensar em você um único instante, ele ama você. O melhor na vida dele é você. Ele nunca vai te esquecer. -Eu me levantei e me encaminhei a porta. - Bom. Ele te ama. E só você pode fazê-lo feliz. -Eu saí rumo a porta e a fechei. - Pense nisso.
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Eu estava incrivelmente irritada, eu saí para fora e observei ao redor, já era fim de tarde e nada de você aparecer. Puta que pariu, Nem falar onde eu iria para o taxista eu não poderia.
Eu me sentei de frente ao hospital e nesse exato momento o Doutor César passou as mãos pelos meus ombros.
-Ola garotinha. O que faz por ai sozinha? Vamos para casa? - ele sorriu para mim e me ajudou a levantar.
Não se via mais aquela cara súbita de dor em que aquele homem vivia antigamente, agora ele estava com aquele sorriso súbito que eu sempre estava acostumada a ver quando ele morava no Brasil.
Qualquer dia eu fazia questão de viajar com você até os E.U.A, e te deixar perdido no Central Park ( o que eu já fiz, porém, você aprendeu a língua e infelizmente, foi vingança Fail ).
Eu sorri para ele e o segui.
-Como vocês souberam que o Bruno hmm... tinha acordado? - ele perguntou me encarando , estávamos indo rumo ao estacionamento.
-A gente entrou na sala e ele meio que esculachou o Luca. - Eu disse suspirando.
-Mas espera... ele esculachou o garoto que veio do Brasil para vê-lo? Espera. Eu sempre fui um pouco contra meu filho ser... homossexual, mas poxa. Isso já foi idiotice. - Ele disse com um grave som de irritação. - Onde o Luca está?
-Não faço a mínima idéia. Mas ele sabe se virar, o grande problema era eu. Que nem o caminho para casa não sabia. - Eu suspirei.
-Vamos la então. Espero que ele não tarde à chegar.
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EU DE NOVO. BEIJOS.
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Eu definitivamente já estava cansado de andar e vagar por ai meio sem rumo.
O clima ao redor já me assustava.
Eu já tinha olhado o pôr do sol e chorado muito. Então decidi deixar a entidade Marimar pra la e voltar para casa bem divo.
Eu me levantei e tirei meu celular do bolso.
Olhei minha aparecencia no espelho e definitivamente estava péssima. Meus olhos estavam parcialmente vermelhos. Nada que, em alguns minutos dentro de um táxi em pleno horário de trânsito caótico, não resolvesse.
Procurei o ponto de táxi mais perto por ali.
Eu com certeza deveria estar em alguma praça famosa de Buenos Aires, em frente havia um enorme monumento, ao lado um enorme mapa da cidade, e também, um pequeno ponto de táxi para salvar minha linda pele.
Eu acenei ao taxista e o repassei o endereço.
Ele sorriu e foi rumo onde eu havia pedido.
Dentre outras coisas, ele era um senhorzinho bem simpático, eu disse a ele que estava ali a passeio e tal.
Logo cheguei na fachada do condomínio onde minha ' ex sogra' morava.
Eu respirei fundo e subi pelo elevador.
Dentro entrou um outro garoto. De barba preta e cabelos pretos, não eram pretos. Era tipo, muito preto, ele era branco e pálido como a neve.
Não era neura gay, mas ele estava me encarando. E isso já estava me incomodando, eu não contava os segundos para aquela merda subir logo.
17,18,19, 20.
Entrou mais uma garota, e o garoto saltou para o meu lado em uma velocidade súbita.
21,22,23,24,25.
Por que essa porra tinha que ter tantos andares?!
26,27,28,29,30.
O Elevador apitou e eu rapidamente saí.
O garoto também saiu.
Eu fui abrir a porta do apartamento e ele segurou no meu braço.
Eu o olhei pasmo.
-Me solta por favor? - eu suspirei o encarando.
-Eu... nunca lhe vi por aqui. - Ele disse sorrindo.
Uau. Ele tinha o sorriso bem bonito até.
-Espera. Você fala português? Como sabe que... eu sou brasileiro? - eu perguntei o encarando.
-Bom, na hora que você subiu e entrou dinheiro ao taxista, eu percebi que você tinha ' reais na sua carteira.'
-Nossa. Você é quase um psicopata. - Eu ri. - Pode me soltar agora? - eu perguntei sorrindo.
-Aaah. Desculpa. Perdão. - Ele me soltou e me olhou cabisbaixo. -Tá más... o que você quer comigo? E ah. Você não fala português por completo, você tem sotaque espanhol. - Eu disse rindo.
-Eu como você, não sou brasil, tenho tios e família que mora la. Sempre viajo para São... São... Paulo? - ele disse isso ao mesmo tempo me perguntando. O que era muito engraçado e fofo.
-Más enfim, o que você quer? - eu perguntei sorrindo.
-É que... um dia desses eu te vi com uma garota. E eu... achei ela linda. - Ele disse arrumando a posição da sua mochila.
-Uma garota moreninha? Dos cabelos castanhos claros? - eu perguntei sorrindo.
-Sim. Sim. Sabe. Eu sabia que ela não era daqui, as garotas aqui não tao... como falam em Brasil? Sem sal. - Ele disse sorrindo.
-Aaah. Entendo. É. Amanda tem uma bunda grande. E é a melhor Pessoa que eu já conheci na minha vida.
Ele riu como uma criança.
-Aceita ir tomar alguma coisa na minha casa? Pra gente conversar melhor ou algo assim? - ele perguntou abrindo as portas do seu apartamento. Que era outra cobertura, assim como a do Bruno.
Eu relutei por alguns instantes, mas encarei a porta da casa da Tia Fer. Não deveria ter ninguém em casa. E aquele garoto não me queria, não ia de maneira alguma me estuprar no elevador.
Eu sorri.
-Claro.
-Vem. - Ele me puxou pelos ombros e me direcionou a sua casa.
Bem. Era uma linda casa.
-Pode sentar-se. Eu vou... buscar alguma coisa para tomar. - Ele sorriu e foi ao que parecia sua cozinha.
Eu decidi segui-lo.
-Você mora aqui sozinho?
-Não. Moro com o meu irmão. - Ele disse sorrindo.
-Legal... então. Você quer minha amiga? Você tem que contar quais suas pretensões com ela. - Eu disse levantando as mãos e apontando para ele.
-Aaah. Calme Calme. - ele riu. - Como saber se ainda não... ficar com ela?
-Eu sequer sei seu nome. Vai. Anda. Quero sua ficha completa.
-Bem, meu nome é Portan. - ele disse me encarando.
Eu sufoquei uma risada.
-Quem se chama Portan?!
-Eu. Eu acho. Sabe. Nomes estranhos e exóticos são costumes em meu país. - ele pegou um copo de energético e me passou.
Eu peguei o copo e tomei um gole .
- O que veio fazer em Argentina? - ele perguntou me encarando. - O que vieram fazer em Argentina ?
-Problemas sentimentais. Sabe. Eu vim visitar meu... aahh... não sei mais o que ele é meu entende? Ele estava de coma... e ele acordou e me xingou. - eu disse na maior naturalidade.
-Como assim? Ele é teu irmão? Primo? Família? Amigo?
-Não. Ele é meu ex. - Eu disse encarando a porta.
Ele me encarou um pouco assustado.
-Bem. Sabe. Você acho que não leva numa boa isso. Me desculpe, estou saindo e obrigado... - eu disse me levantando de cima do cavalete da cozinha americana.
-O! Não! Nem. Eu levo super numa boa. Meu irmão é homossexual sabe? Mas eu só fiquei... hmm... esqueci la palavra... surpreso? - ele disse.
-É. Você falou a palavra certa. - eu sorri .
-Então. O que aconteceu entre vocês?
-Bem... eu conheci ele a quase dois anos atrás... ele era um daqueles idiotas da escola, que andava com homofobicos e tal. E...
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Logo depois que eu contei a história da minha vida para aquele completo estranho, ele parecia meio bolado com tudo aquilo.
-Nossa. Ele fez isso mesmo? - ele perguntou pasmo.
-Sim. - Eu dei um sorriso meio sem graça. Suspirei fundo. -Eu acho que... está na minha hora de ir embora, mas... eu prometo trazer Amanda aqui. Comigo junto. Óbvio. - Eu ri.
-Tudo bem , deixa eu te acompanhar até a porta. - Eu e ele caminhamos por longos segundos.
-Então. Boa noite, e obrigado por ter escutado a história da minha vida. - eu sorri.
-De nada. Amigos? - ele sorriu.
-Amiguissimos. - Eu ri e saí rumo ao apartamento de tia Fer.
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-Oi? - eu disse abrindo a porta e encarando ao redor.
-LUCA. - disse Amanda vindo em minha direção.
-Oi. - Eu disse me sentando no sofá e olhando para ela.
Que aliás, para alguém que havia ficado perdida em um país desconhecido, estava ótima.
-Onde você estava?!
-Andando por aí ... - eu sorri meio sem graça.
Eu peguei o tablet de Amanda dentro do quarto e entrei em sites de passagens aéreas.
-O que você está fazendo? - ela perguntou se sentando ao meu lado.
-Trocando nossas passagens, quer dizer, a minha. Eu quero ir Embora. - eu disse a encarando.
-Você não vai me deixar aqui. Óbvio que eu quero ir também... Mas ... era pra gente voltar só no Domingo. - Ela disse mordendo os lábios. - Eu entendo que queira ir. - Ela passou as mãos nos meus ombros.
-Que bom. - Eu disse finalizando a troca. - Partimos amanhã cedo.