Capítulo vinte e dois.
Foi duro, mas tive de aguenta-lo ali diante de mim. Não havia alternativa agora que ele sabia sobre mim e Gabriel. Deveria aguentar as consequências, pois afinal de contas, aquilo tinha sido escolha minha.
— Eu vou te matar! — Enzo bufava de ódio. Um ódio tão intenso que eu sentia emanar de seu corpo para o meu me corroendo.
— Calma Enzo — pedi mesmo sabendo que era inútil — Eu posso explicar.
— Explicar o que? — debochou — Que você me usou esse tempo todo para chegar a... A... A ele? — apontou para o irmão sem conseguir dizer seu nome sem vomitar — Que me enganou todos esses anos me fazendo achar que era meu amigo, mas só queria era comer o cu do meu irmão?
— Não é bem assim... — tentei explicar.
— É assim sim — Gabriel me interrompeu — Ele fingiu que era seu amigo por que me queria. Te convenceu a me deixar por que me queria. Riu por trás de você por que me queria. Ele sempre me quis e te fez de idiota!
Olhei estarrecido para Gabriel. Aquele menino que eu via sorrir sadicamente em minha frente não era o mesmo garoto que conheci e levei para o cinema. Onde estava o garoto meigo que corava quando cantava na frente de sua família? Onde estava aquele menino tímido que conheci e que me apaixonei?
Gabriel desviou o olhar de Enzo que estava prestes a desmoronar e me lançou um olhar de triunfo.
— Ele causou seu sofrimento — Gabriel disse sem fazer o menor esforço para esconder seu sorriso — Foi ele que nos separou só para ficar comigo. Agora me responda Miguel, valeu a pena?
Senti uma onda de choque percorrer todo o meu corpo, tamanha era minha incredulidade. Era óbvio que ele havia armado aquilo para me desmascarar para Enzo.
— Por que, Miguel? — Enzo perguntou começando a chorar — Por que? Eu era seu amigo! — agora ele estava gritando — Eu era seu único amigo de verdade! Os outros só eram seus amigos por causa do seu dinheiro, mas eu não! Fui o único que se manteve ao se lado durante todos esses anos e você me apunhala pelas costas! — seus gritos eram um misto de desespero e agonia.
— Eu o amo — foi a única coisa que consegui dizer naquele momento.
— E como eu fico? Eu o amo com toda a minha vida! Me jogaria na frente de uma bala todos os dias para ficar com ele. O amo tanto que preferi sofrer para liberta-lo. O amo tanto que ignorei tudo o que eu acreditava para poder toca-lo. Convivo com o medo e com a culpa me corroendo cada dia que ele dizia que me amava e mesmo assim eu queria ficar com ele. Só o deixei por que achei que seria melhor para ele. Achei que ficar comigo seria muito doloroso para ele. Por que esse é o tipo de amor que eu tenho por ele.
— Mas isso é errado Enzo — tentei argumentar — Ele é seu irmão...
— Foda-se que ele seja meu irmão! — Enzo estava ficando completamente descontrolado. Olhei para Gabriel que se divertia com isso — Eu não me importo se ele é meu irmão, meu filho, meu pai ou o vizinho. Ele Morreu para mim.
Pode ver o sorriso triunfante de Gabriel desaparecer e se transformar em uma expressão retorcida de dor e confusão.
— Como assim? — pode ver que ele foi pego desprevenido por isso.
— Sei que foi você que enviou o DVD para o Daniel — nessa hora fiquei confuso, pois não sabia do que ele falava — Você não magoou só a mim Gabriel. Magoou também uma pessoa inocente. Mas eu estava disposto a perdoa-lo. Voltei correndo para casa pensando em arrumar nossas coisas e partirmos para bem longe, mas o encontro nos braços dele.
— Agora sabe o que senti quando me deixou. Sabe a dor de ser enganado por alguém que diz que te ama e depois te larga sozinho e ainda diz que é para o seu bem. Eu não vivi depois disso Enzo! Eu era apenas um corpo sem alma que vagava por ai tentando voltar a sentir qualquer coisa. Por isso eu mudei. Você me matou por dentro. Você diz que tinha medo de eu não ser feliz, mas nunca perguntou o que eu achava sobre isso. Eu tinha medo sim Enzo. Tinha medo dos nossos pais descobrirem. Medo de nunca ser aceito. Medo de nunca ser feliz, mas sabe qual era meu maior medo? — Enzo sacudiu a cabeça negativamente — Meu maior medo era de te perder. E você fez esse medo se tornar real. A vocês dois — ele se virou para mim como se tivesse acabado de se lembrar que eu existia.
— Eu nunca quis o mal de vocês. Verdade mesmo. Mas eu também queria algo. Eu o queria e estava disposto a tudo por isso — admiti — Sou gay — assumi em uma súbita onda de coragem — Sou gay e me apaixonei pelo seu irmão desde a primeira vez que o vi. Te usei sim para poder vê-lo. Te achava até meio chatinho e esquisito, mas te suportava por causa dele. Eu o queria a todo custo. Com o passar do tempo me acostumei com você e acabei aprendendo a gostar de você e virei seu amigo. Hoje em dia nossa amizade é verdadeira, mas não escondo o fato de ter passado por ela para separa-los. Eu o queria para mim. Ele era meu e só meu. Te mataria se fosse preciso, mas Gabriel seria meu — dei um risada feliz por finalmente poder abrir meu coração — Confesso que foi muito fácil te enganar. Foi só apelar para sua culpa. Você é tão culpado que chega a ser irritante! Duas palavras e uma semana depois Gabriel era livre novamente. Só que meu plano não saiu completamente comi eu planejava. Ele tentou me matar e eu resolvi me afastar um pouco. Todas as vezes que eu ia para a casa dos meus pais nos finais de semana, eu procurava uma forma de vê-lo mesmo que a distancia. Não podia falar com ele, pois sabia que ele ainda me odiava. Vi aquele menino inocente se acabar aos poucos enquanto você não estava nem ai para ele Enzo. Eu me preocupei com ele quando do você o largou...
Fui interrompido por um soco em meu rosto tão forte que me derrubou. Enzo não suportou ouvir a verdade e partiu para a agressão e eu não iria deixar barato.
— Seu viado! — me levantei e dei-lhe um soco no nariz que estalou e começou a escorrer sangue.
Enzo me empurrou e começou a chutar minhas pernas em uma tentativa ridícula de me derrubar.
— Eu vou te matar! — Gritou quando eu o imoblizei no chão.
— Não vai mesmo — debochei — Você agora vai pegar suas coisas e voltar para onde você veio. Nossa amizade acabou.
Eu o soltei e ouvi o som da campainha e depois uma batida forte na porta como se alguém tentasse arromba-la.
— Abre essa porra dessa porta Enzo! — ouvi aquela voz conhecida — Eu sei que você está ai!
Fomos os três em desespero para a sala onde a porta era esmurrada. Nem precisamos perguntar quem era, pois pela voz eu já sabia. Enzo abriu a porta e foi surpreendido por um gancho de direita de seu paiEspero que tenham gostado de mais esse capitulo.
Estava vendo alguns curtas no YouTube e encontrei um que achei vem legal e me emocionou bastante, pois fala de algo que eu tentei fazer (suicídio) e ainda por cima causado pelo mesmo motivador que a minha ( bullying). O curta é em inglês e não tem legenda, mas fica a dica para quem sabe inglês e queira ver.
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