Mesmo querendo ficar em casa para tirar a limpo a história da foto do “amor maior não há”, eu fui com todos por sítio. Meus pais foram no carro deles, e o Murilo foi comigo e o meu irmão. No caminho fomos ouvindo músicas, contando piadas e tudo mais. Um clima bem leve mesmo, nem parecia que eu estava no mesmo carro que ele.
Quando chegamos no sítio nos instalamos na casa e fomos rapidamente dar uma volta pelo pasto. Meus pais ficaram na casa, curtindo o sol à beira da piscina. Então fui com os dois.
No trajeto ficamos comentando a respeito do quanto é bom estar em lugar natural, no qual as coisas fluem de forma tranquila e aconchegante. Estava uma tarde linda, ensolarada e alegre. O bom clima da viajem estava presente. O Murilo não tocava em qualquer assunto que poderia estragar o momento, assim como o Matheus. Agradeci silenciosamente os dois por isso.
Eu realmente precisava recarregar o fator mental. Apesar de ter pensado que o Murilo seria um obstáculo para isso, ele acabou tornando-se uma ajuda. O bom humor dele somado com a sua capacidade em arrumar diferentes assuntos interessantes me faziam esquecer de tudo por instantes, deixando que a alegria de estar ali com os dois entrasse em meu corpo, gerando paz e espírito. Fascinante.
Quando chegamos perto do rio que passa por lá, nos sentamos em um barranco em baixo de uma árvore. Nem parecia que eu estava naquele mesmo sitio. Da última vez que estivera por lá minha confusão de sentimentos deram espaço a certeza de que eu deveria me entregar aos meus instintos, não me importando com o que eu considerava ser certo ou errado. Fora ali que tudo começou de forma direta e indireta. Talvez, depois do meu quartinho dos fundos na casa dos meus pais, aquele era o lugar em que o Murilo preenchia meus pensamentos com mais intensidade.
Por um momento naquele dia pensei em convidar o Higor pra vir também, mas preferi deixar ele de fora. A presença do Murilo gerava incertezas quanto a minha força, referente a minha resistência. Apesar de ser um momento bacana, me lembrei do Luiz.
Que alguma coisa estava acontecendo era fato. Porém eu torcia para que não fosse nada referente a uma provável “interação” dele com indevidas pessoas. O fato de ele não voltar no momento antes estabelecido fazia com que incertezas a respeito da veracidade dos fatos que me eram expostos.
Por alguns dias eu havia levantado a hipótese de pedia ele em namoro oficialmente. Porém a minha insegurança somada as ações de Murilo e Cia me deixaram com um pé atrás. Apesar de considerar o Luiz como um cara perfeito, eu nunca senti com ele o conforto, o prazer e a paixão da qual o Murilo sempre oferecera. Triste porém verdade.
Ver o Murilo rindo com o meu irmão me fez ver que talvez eu devesse me esforçar mais no que tange à inclusão do Murilo em minha vida social num futuro próximo.
Meu irmão sempre me apoiou. Mas agora era contrário as minhas decisões, fazendo com que minhas certezas fossem questionadas a todo momento. Talvez ele estivesse com alguma razão. Porém para quem está vivenciando um fato de fora é fácil opinar.
_Rafa, Murilo, eu quero ir até o lago. Vocês vem também.
Pensei em ir, mas desisti. O lugar estava muito confortável.
_Não. Vou ficar aqui mais um pouco.
_Eu vou com você Matheus.
Mais uma vez o Murilo me surpreendeu. Ele realmente estava me fornecendo mais espaço.
Quando os dois partiram peguei o celular e coloquei algumas músicas para tocar. Algumas me lembravam momentos e pessoas, e quando ocou uma em especial me lembrei dos momentos em que o Murilo e eu ficávamos em casa, no período da noite, no sofá, largados, rindo feito loucos, trocando beijos de vez em quando e fazendo planos para um futuro próximo. Era nostálgico recordar tais momentos, porém foi involuntário.
Quando pensei em ir embora, já algum tempo depois, vi os dois voltando, rindo como sempre. Porém o Matheus seguiu o rumo da casa, deixando o Murilo ir ao meu encontro sozinho. Droga!
_Ué, onde o Matheus está indo?
_Ah, ele disse que está cansado e que vai deitar um pouco. E você, não se cansou de esperar?
_Nem, fiquei ouvindo música.
_kkkkkkkk normal, né?!
_Tava pensando em que?
_Ah, nada de mais. O seu irmão é muito engraçado.
_É.
_Rafa, eu queria te pedir uma coisa.
_O que?
_Diz pra mim que tú não quer mais nada comigo.
_Hein? Como assim?
_Talvez eu esteja errado. É possível que você esteja mesmo concentrado em seguir adiante sem mim ao seu lado.
_Eu preciso de você Murilo, mas não mais do jeito que você deseja.
_Eu nunca iria me afastar de você por completo. Mesmo que isso me doa, eu estaria até disposto a suportar ver você com outro.
_Onde você quer chegar?
_Se você me convencer, aqui e agora, de que eu não mereço mesmo uma segunda e última chance, eu desisto de tudo. Por você.
_Eu sinto muito. Mas a minha decisão... está tomada.
_Diga em voz alta.
_.....Eu...hã, não acho que daria certo tentar de novo. Eu conheci o Luiz, que é um cara espetacular, e é com ele que eu estou agora.
_Você tem certeza?
_Sim.
_kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk você ainda mente mal pra caralho!
_Eu estou falando a verdade.
_kkkkk não, não está. E sabe de mais uma coisa, eu já cansei desse teatro todo.
Nisso ele me agarrou já me beijando. Levei um susto, mas ainda assim, eu poderia ter evitado. Porém não consegui me mover.
O beijo dele era algo surreal, intenso e feroz. Sua mão estava na minha nuca. Por um breve instante retribui de maneira voraz também. Como era bom sentir mais uma vez aquele beijo que tantas vezes me incitou a ficar ao lado dele.
A minha respiração já estava ofegante quando decidi por fim naquilo. Depois que nossos lábios se separaram, nos encaramos por intermináveis instantes.
Seus olhos estavam divertidos, cheios do lado criança dele que eu sempre curti. Acho que eu estava de boca aberta ainda, sem reação pós-beijo.
_Diga alguma coisa. Me bata, me xingue, ou me beije de novo.
Ao invés de dizer qualquer coisa saí de lá vagarosamente, deixando ele sozinho. Não demorou até que ele me alcançasse.
_Você não vai dizer nada?
_Murilo, eu pensei já ter dito.... acabou.
Por que era tão difícil dizer isto?
_Você retribuiu. Admita que eu ainda estou no seu coração!
_Está, e é por isso que eu sofro tanto. Eu preciso ter você longe de mim, para que eu...
_Não caia em tentação?
_Isso.
_Não segure suas vontades. Me perdoa rafa, por tudo que é mais sagrado, eu ofereço meus arrependimentos, que não são poucos para você. Eu juro que tentei, mas não consigo ficar longe de você. Eu te amo, e não tenho mais medo de dizer isso.
_Murilo...
_Não diga nada agora. Pense mais um pouco, e hoje, ao anoitecer você deverá dar sua resposta.
Fiquei ali, parado, processando todas as informações.
Maldito, sem querer ser pertinente mas já sendo ele desarmou todas as minhas defesas com simples manobras. Pela primeira vez eu tinha vontade de gritar para todos o quanto eu o desejava de volta.
Quando cheguei na casa, todos estavam conversando a beira da piscina. Meu pai, todo alegre assim como minha mãe. Eles realmente gostaram dele. Mas e se soubessem de toda a verdade? Como seria? Será que todas as coisas que eles haviam contado para o Higor era verídico? Eu ainda não estava pronto para descobrir.
Resolvi ir fuçar o facebook. O Luiz não estava online, e sem fotos novas em sua timeline nas últimas horas.
Quando estava distraído, recebi uma mensagem do Victor.
“O Luiz está perguntando sobre o Murilo de novo. Sobre onde ele está. O que eu faço?”
“Diga a verdade” Respondi.
Passaram-se mais um tempo, e logo estaria escurecendo. O que eu iria dizer ao Murilo?
.....
Pessoal, gostaria de agradecer pelos comentários e pelos e-maisl. Para quem quiser interagir comigo, mande um e-mail para rafael_hanchuka