Quase uma semana havia se passado, e a convivência com a Ana tornava-se cada vez mais complicada. Os sorrisos provocativos direcionados a mim era constantes, assim como a blindagem feita pelo Murilo com o auxílio do Victor. Os dois simplesmente não deixavam que ela se aproximasse muito, inventando desculpas capazes de a deter.
Em um dia, após os nosso colegas terem saído após o término das aulas, meu grupo de amigos, mais a Ana, permaneceu por lá para terminar um trabalho. Foi quando, eu sentado ao lado do Victor senti por baixo da carteira uma perna esfregando na minha. Olhei para os lados e todos estavam concentrados nos afazeres, menos ela que sorria descaradamente para mim. Fiz cara feia para ela e continuei escrevendo.
Após alguns instantes, ela voltou a esfregar sua perna na minha.
_Dá pra parar?
Todos olharam, e quando perceberam que minhas palavras eram para ela, começaram a encara-la.
_Desculpe, foi sem querer.
Percebi que o Murilo ficou de olho, mas acabou continuando o que estava fazendo. O Victor por outro lado passou a observar os movimentos dela. Obviamente, sentindo que estava sendo observada, não tentou mais nada.
Algum tempo depois, aconteceu mais uma vez, o que me fez perder a paciência.
_Ana, já que você gosta de se esfregar em alguém, procure uma pessoa que não tenha compromisso.
Mais uma vez todos ficaram olhando. O Victor saiu da sala, e o Murilo ocupou o seu lugar, ao meu lado.
_O que está acontecendo aqui?
_Acho que Ana está me confundindo com alguém, porque não para de se esfregar em mim.
As meninas olharam horrorizadas para ela, que tentou se explicar, dizendo que não passava de um mal entendido e tal. Como o nosso trabalho ainda demandava de grande atenção, acabamos deixando isso pra lá.
Em um momento, percebi que ela continuava me olhando, e rapidamente o Murilo notou também. Ele se levantou, olhou pra ela e começou:
_Olha aqui garota, eu acho que você tá se fazendo de burra! Dá para parar ou está difícil?
Mais desculpas, que desta vez não foram ignoradas.
_Eu não quero saber, não meche com ele mais, ou então as coisas vão ficar feias pro seu lado. Só não vou te dizer mais nada porque não estamos com tempo pra isso, então, pare!
_Claro, entendo – Nisso o Victor entrou na sala com um copo d’água- eu só estou esticando as pernas por ter ficado muito tempo sentada e....
Foi rápido, porém todos viram. Propositalmente, o Victor simulou ter tropeçado em uma mochila e derrubou a água do copo nela.
_Ana!!! Oh meu Deus! Que desastrado eu sou!! Me desculpe!!
Ela o fitou, e por um momento, percebi um olhar raivoso, que rapidamente se dissipou, dando lugar a um sorriso sem graça.
_...eu.. ah, tudo bem. Acontece.
_Eu acho melhor você ir pra casa se trocar, se não pode pegar um resfriado. Se quiser eu te levo! Não precisa se preocupar com o trabalho, nós colocamos o seu nome.
_Obrigada Victor, mas deixa. Eu estou de carro.
Levantou-se, guardou suas coisas rapidamente e saiu.
Depois disso, todos caímos na gargalhada. Confesso que tinha sido melhor do que se o Murilo desse continuidade a seu ataque de ciúmes. O Victor, após seu ataque de risos, olhou para nós e disse:
_El já estava me enchendo! Kkkkkkkkk
Todos concordaram. Assim, continuamos com o trabalho, até que, após muito esforço conseguimos terminar. Combinamos de sair e tomar umas cervejas para comemorar.
Fomos a um barzinho que sempre frequentávamos, e lá acabamos ficando até a madrugada. Neste dia, em casa, o Murilo me deu um sermão referente ao meu comportamento “passivo” diante da garota abusada. É claro que eu entendia os seus motivos, mas mesmo assim, não gosto quando alguém discute comigo por algo que eu não tenho culpa.
O meu problema, é que sempre eu me preocupei de mais com os outros, fazendo com que em algumas situações, o prejudicado fosse eu mesmo. Personalidade é triste, e dizem que você nasce e morre com ela, então....
No outro dia, ela não compareceu no período da manhã. A Patrícia e a Thaís estavam loucas por ela ter se transformado rapidamente em uma piranha. A ordem era passar a ignora-la. Após o almoço, eis que ela reaparece, toda produzida e com um sorriso cativante no rosto. Cumprimentou a todos como se nada tivesse acontecido, e depois de perceber que ninguém respondeu, ficou sem graça e sentou-se em seu lugar de costume, atrás do Murilo, que se sentava às minhas costas.
A aula transcorreu normalmente, até que o professor dividiu a sala em grupos de 10 alunos. Ela acabou ficando no nosso. O trabalho seria complicado, e iria levar um tempo considerável para ser concluído. Tentamos conviver apenas de forma “profissional”, deixando um pouco de lado a situação tensa entre ela e nós.
Durante os estudos, recebi uma mensagem de um número desconhecido. “Acho que começamos errado, eu não queria dar impressão de ser uma puta”
Então respondi:
“A impressão que você deixou foi a de puta mesmo”
“Me desculpe”
“Pare de se desculpar! Você está sendo falsa!”
“Eu quero você. Pronto, sem falsidades.”
“Fique querendo. O meu NAMORADO está de olho em você”
“Ele não te merece. Ele é legal, mas não está à sua altura”
“Não admito que você fale mal dele, fica na sua! Me deixe em paz”
“Você não percebe? Não tem como fugir de mim. Eu sei que você me quer também!”
“kkkkkkkkkkkkk”
“Sai da sala. Me encontre no estacionamento”
“Se liga!”
“Vamos, garanto que não vai se arrepender”
Então perdi a paciência. Mais uma vez eu estava tentando ser educado, mas isso não iria funcionar.
“Se você não parar eu vou agir, e você não vai querer isso, tenha certeza!”
“Eu não quero confusão, só quero você”
_Caralho, fica na sua VADIA de merda!
Não costumo me exaltar, mas naquele monto as palavras (gritos) saíram sozinhos.
O professor, assim como o restante da sala passou a me olhar.
_Sr. Rafael, sugiro que melhore o seu vocabulário em minhas aulas, caso contrário, retire-se.
_Desculpa professor. Garanto que não vai acontecer mais.
O Murilo mandou uma mensagem para encontrar com ele no banheiro. Ótimo!!
Ambos saímos da sala em um intervalo de tempo seguro para não gerar desconfianças.
No banheiro, quando cheguei, ele estava com as mãos na cabeça encostado no balcão das pias.
_Eu não consigo mais Rafael. Ela está me triando do sério. Eu já não sei o quanto ela é perigosa.
_Eu sei. Eu estou tentando evitar, mas nada funciona.
_Seja mais enérgico porra!
_Você não viu o grito que dei na aula?
_Ao invés de gritar deveria ter jogado um livro na cara dela! Pô, não olhe pra ela, não fique perto dela, não olhe pra ela! Assim, não tem como ela querer dar pra você! Poxa, seja mais durão, deixe de ser educado, coloque aquela vadia no lugar dela. Eu te amo, e não vou te perder. Dessa vez, eu vou fazer de tudo para que ninguém de fora interfira no nosso namoro.
_Eu sei. Eu vou ser mais enérgico, juro.
_Eu confio cegamente em você, mas não nela. Então fica esperto.
Se aproximou de mim e me beijou. Depois saiu e voltou para a sala. Fiquei lá pensando mais um tempo, até que chegou um cara lá e me deixou sem graça. Saí e fiquei vagando pelo pátio. Estava sem cabeça pra voltar pra aula, sem contar a vergonha pelo professor ter quase me expulsado.
Me sentei em um banco no bloco de outro curso e por lá fiquei. Algum tempo depois, o Murilo mandou mensagem perguntando onde eu estava, por que ela não estava na sala. Respondi fornecendo minha localização e o tranquilizei dizendo que estava só.
Minutos depois, ele apareceu por lá. Se sentou ao meu lado e ficamos em silêncio.
_Desculpa por ter brigado com você.
_Murilo, relaxa, você está no seu direito.
_Pode ser, mas é que eu fico louco sabendo que ela não está se importando com nada do que dizemos, e continua tentando conquistar você.
_Ela não vai conseguir.
_E como eu posso ter certeza.
_Por que foi você quem eu escolhi pra ficar do meu lado. Eu não mudo de ideia, então saiba que não tenho olhos pra mais ninguém.
_Te amo!
_Também te amo, ciumento babão!
_Só estou cuidando do que é meu.
_kkkkkkk tá certo. Vamos pra casa? O trabalho pode ser entregue na semana que vem, então falamos pra galera deixar uma parte pra nós e depois fazemos.
_Não, eu quero terminar isso hoje.
_Mas eu quero relaxar e curtir você um pouco.
_Rafa, nós temos muito tempo pra isso. Deixe de ser medroso e vamos lá terminar aquele trabalho e não ligar pra aquela puta.
_Tudo bem.
Quando voltamos, ela ficou olhando. Não me contive e mostrei o dedo médio em riste pra ela. Todos ficaram espantados, e dessa vez o professor me mandou pra fora da sala. Morri de vergonha, mas o pior foi explicar minha atitude pro coordenador do curso, o qual me deu uma grande lição de moral e grandes ameaças de expulsão e tal, e de que não iria tolerar comportamento de ensino médio.
Por causa disso, acabei ficando de fora do restante do período vespertino. Quando em fim me livrei da coordenação de curso, fui até o estacionamento para esperar o Murilo por lá. Ao chegar lá, ele estava por lá discutindo com a Ana.
Parei de andar, e rapidamente fiquei fora do alcance de visão deles.
_Eu não vou repetir. Não me importo se você é mulher ou não. Fica longe dele!
_Pra que tanto medo? Não se garante? Não estou com paciência pra escutar viadinho, então desencana e saia da minha frente, preciso ir.
_Posso ser um viadinho, mas é comigo que ele dorme todas as noites, e não com você.
Ouvi o sonoro tapa que ela deu nele. Nunca esperei que isso fosse acontecer. Saí de onde estava e fui até o local. No trajeto, vi que ele não reagiu, apenas a olhou com uma cara fechada. Era a primeira vez que eu o via com tanta raiva nos olhos.
_Isso é pra você ficar no seu lugar. E isso ainda não acabou, enquanto eu estiver aqui...
_Saia de perto dele – disse eu me aproximando – você vai pagar por esse tapa.
Ao me ver o desespero percorreu sua face.
_Ah meu Deus Rafael!! Eu não sei o que deu em mim, o Murilo me disse coisas horríveis.
Ignorei o comentário dela, segurei o Murilo pelo queixo e o beijei com toda intensidade possível. Após o beijo a encarei, a qual estava perplexa pela minha ousadia.
_Caso você tenha dúvidas, isso acaba aqui. E da próxima vez que você relar a mão nele ou em mim, eu vou esquecer que você é mulher.
_Rafael, você não deveria ter feito isso. Eu sou quem eu quiser ser, e te dou um conselho: me poupe o trabalho, você será meu a qualquer custo. Não tenho pressa.
Não me importei com seu comentário, só indiquei ao Murilo que entrasse no carro. Partimos e durante o trajeto o silêncio infernal pairou sobre nós.
Já em casa, o Murilo me abraçou, nos deitamos no sofá e ficamos pro lá. Acabamos adormecendo, acordando apenas com o barulho do celular do Murilo.
Ao atender, percebi que era o Victor.
_Ela fez o que??? Eu não acredito!
Fiquei sem entender, mas depois que ele conversou mais um pouco pelo celular, o desligou e me fitou.
_Murilo, o que aconteceu?
_A vadia da Ana saiu de casa, pra morar sozinha.
_E qual o problema disso?
_Ela fez questão de anunciar pro Victor, que sua nova casa é aqui, no nosso mesmo andar. Virá morar com uma amiga que já morava aqui.
Parecia até coisa de filme, uma pegadinha de mal gosto. Mas o que acontece é que algumas vezes, nos deparamos com pessoas movidas pela inveja e pela necessidade em não ver a felicidade alheia. Devido a essa atitude dela, algumas coisas ruins ainda vieram a acontecerPessoal, gostaria de agradecer os comentários e os e-mails. Quanto a dúvida do Jhoen Jhol quanto ao relacionamento do Luiz com a namorada, esclareço que eles estão mesmo juntos, até hoje, sem nenhum incidente. Eu iria contar isso ao término do conto, mas devido a isso adiantei o fato.
Qualquer coisa, me contate por