Devido aos pedidos para que o conto não acabasse agora (obrigado galera!), vou contar mais um fato que marcou minha relação com o Murilo, esse mais recenteApós o agitado comecinho de ano, as coisas voltaram ao seu lugar. As aulas retornaram, e com elas a convivência com os bons amigos, além de toda a pressão de um curso superior. O Murilo, mais do que nunca era minha sombra em qualquer lugar. Combinávamos de que quando um fosse passar o final de semana da casa dos pais, nunca iríamos marcar no mesmo dia, para que assim os dois viajassem juntos e não separados. Parecia que quanto mais ficávamos juntos, mais apegados ficávamos.
Com o início do semestre, alguns alunos de outros anos que tinham trancado sua matrícula voltaram para a universidade. Portanto, minha sala tinha alunos “novos”. Dentre os novatos, ressalto duas pessoas: Pedro e Ana.
O Pedro era o tipo durão, porém depois que se enturmo conosco, percebemos que era muito brincalhão e extrovertido. A Ana, além de inteligente, é muito linda. Quando a vi prela primeira vez, pensei que se existisse alguém dono da beleza, tinha que ser ela. Corpo perfeito, sorriso cativante e muito atenciosa. Perfeita! Todos, inclusive eu, ficaram babando por ela. Mas até então, eu apenas a encarava como uma linda garota. Eu estava namorando, e o relacionamento ia de vento em polpa.
Conforme os primeiros dias foram avançando, Pedro e Ana foram ficando mais próximos da minha turma. Como todos os meus amigos sabiam sobre mim e o Murilo, em um dia deixaram escapar uma piadinha na frente dos dois. Lembro que o Pedro riu como se fosse uma piada sem fundamentos, mas a Ana aparentou ficar sem graça. Depois ela perguntou se era verdade, e eu confirmei.
_Jura? –espantou-se ela- Nunca iria perceber se vocês não tivessem contado essa piada.
_Nem eu!
Fiquei receoso por um momento, já que eles eram novos em nosso meio.
_Tudo bem pra vocês?
_Claro-disse Pedro- Minha mãe se separou do meu pai pra casar com outra mulher, então pra mim tudo bem.
Não que fosse engraçado, mas o modo como ele contou fez todos caírem na gargalhada. Porém a Ana demonstrou ter ficado tímida com o assunto.
_Hã, claro!
Neste período, as aulas ainda eram normais, sem provas ou trabalhos, o que significava tempo de sobra nos finais de semana. Em um deles, resolvemos marcar um churrasco na casa do Victor. Convidamos nossos novos amigos, além do Manoel, que apesar de continuar estudando, ficava mais distante de nós. Porém ele não deu as caras no dia marcado.
O humor do Pedro é algo surpreendente, e com uma coisa que passava despercebida por todos ele inventava uma grande piada, arrancando risadas de todas as pessoas. Como os pais do Victor não estavam e deram carta branca para nosso churras, a bebida rolou solta. Neste dia (um domingo) o Murilo tomou tanta tequila que tombou rápido em um sofá na área de lazer da casa. Como eu sou um pouco mais forte pra bebida, estava apenas “alegre”, rindo à toa. Lembro-me que após o almoço, todos acabaram pegando no sono, seja no chão ou em algum sofá ou cadeira de beira de piscina.
Como eu não consigo dormir após o almoço, permaneci desperto. Fui até o quarto do Victor (eu era de casa) e peguei um livro e o seu fone de ouvido. Retornei para onde a galera permanecia dormindo, me sentei em um cadeira na beira das piscina e fiquei ouvindo música e lendo um pouco para me distrair. Apesar da bebida, a história ainda faziam sentido e as letras das músicas me mantinham longe do mundo real, permitindo que os personagens do livro tivessem livre acesso à minha mente.
Após algum tempo, senti uma mão em meu ombro. Olhei para a pessoa que me despertou do momento leitura. Com um sorriso no rosto e um biquíni provocante, lá estava a Ana me encarando.
_Oi!
_Olá, já cansou de dormir?
_kkkkk por aí. Tá fazendo o que?
_Lendo e ouvindo música.
_Bacana.
Ficamos um tempo discutindo a respeito do livro, que ela já havia lido (eu também), e depois entramos em assuntos dispersos sobre muitas coisas, até que o assunto era o meu namoro.
_Eu juro que não iria descobrir sozinha que você e o Murilo são um casal.
_Sério? Kkkkkk depois de um tempo você iria descobrir rapidinho. Estamos sempre juntos e tals.
_Isso é. Mas me conta uma coisa, antes dele você ficava com outros homens?
_Ah, não! O Murilo foi o primeiro e único.
_Então antes você era “hétero”?!
_Por aí.
_Entendo. Mas é um pouco complicado, né?
_Por que?
_Bom, existe muito preconceito a respeito e tal. Sua família já sabe?
_Sim, e a do Murilo também.
_Que bom para vocês.
_É um peso e tanto longe dos nossos ombros.
_Imagino. Mas me diga uma coisa, você atualmente se considera gay ou bissexual?
Pensei um pouco até encontrar a resposta.
_Apesar de ter um histórico mais hétero do que gay, hoje diria que sou gay, porque o Murilo é a única pessoa que se destaca em minha vida.
_Ah sim. Que legal! E você descobriu como?
Não estava entendendo o porquê de tanta curiosidade, mas....
_O Murilo estava morando comigo, e acabamos descobrindo esse sentimento um pelo outro.
_Ele é um cara de sorte. Você é lindo.
No momento fiquei sem graça.
_Ah, obrigado. Mas eu também tenho sorte, ele é tudo o que eu preciso.
_Claro. Acho lindo um casal gay que se dá tão bem.
_....
_Olhe, falando nele, parece que está acordando.
Então notei que o Murilo estava levantando-se do sofá. Logo focalizou o local onde estávamos e se juntou a nós.
_Tô meio tonto!
_kkkkkkkkkkkkkkk depois de toda aquela tequila....
_Me lembre de não beber tanto da próxima vez.
Ver a cara de bêbado dele era tão hilário. Tentei roubar um beijo dele, mas ele saiu de perto.
_Acho que se você me beijar eu vou vomitar. Tô enjoado.
_kkkkkkkkkkkkkkkk então volte pro sofá e descanse mais um pouco.
_Vem comigo.
Olhei para a Ana, que levantou as mãos e disse:
_Não se importe comigo.
Sendo assim me deitei com o Murilo no sofá, ficamos abraçados por lá por algum tempo. Depois, pouco a pouco a galera foi recobrando a consciência, despertando o meu bêbado particular.
_Tá melhor?
_Não kkkkkkkkkkkkkkkkkk você tá girando!
Deixei ele no sofá e fui ajudar o Victor com o tempero do restante da carne para o período da noite.
Notei que a Ana estava prestando muita atenção nos meus movimentos, e quando ia até o Murilo para dar ao menos um beijinho ela ficava sem graça.
Antes do anoitecer, o Pedro teve que ir embora, já que sua namorada tinha sofrido um pequeno acidente doméstico.
O Jeferson e o Guilherme não estavam com a Patrícia e a Thaís, portanto o número de participantes do churrasco se reduziu a apenas 6.
Finalmente, após escurecer, o Murilo ficou mais desperto de sua bebedeira, então pudemos curtir o restante da noite ( no refrigerante). A Ana ficou até o fim, o que achei ser uma surpresa. O Victor convidou a todos que ficassem lá para posar, já que todos havíamos combinado de não ir às aulas da manhã da segunda. Porém as meninas ligaram para seus pais irem busca-las, ficando apenas a Ana com nós. Antes de ela ir embora também, enquanto o Murilo tomava um banho e o Victor arrumava um pouco da bagunça, eu fui com ela até o portão para esperar o pai dela que estava a caminho.
_Foi um dia ótimo. Vocês são muito animados.
_Ana, você não viu nada!
_kkkkk é sério. Vocês são todos muito legais, principalmente você. Cavalheirismo seu vir até aqui comigo. Caso contrário ficaria sozinha.
_Sem problemas.
Conversamos mais um pouco, e após um tempo ficamos sem assunto.
_Hã... meu pai tá demorando.
_Pois é.
_Rafael, é uma pena que você esteja namorando.
Ela jogou isso na lata, do nada.
_Não. Estou feliz assim.
Nisso ela se aproximou ficando cara a cara comigo.
_Você não tem vontade de experimentar outras coisas de novo?
Se aproximou mais ainda, numa tentativa clara de me roubar um beijo. Apenas dei um passo ao lado. A fitei incrédulo.
_Oh meu Deus Fael, me desculpe!
_Ana, eu já disse. Eu estou muito bem assim.
Logo um carro foi parando junto à calçada, o seu pai.
Antes de entrar no carro ela me lançou um sorriso sem graça.
Quando me virei para retornar para a casa do Victor, o mesmo estava me encarando da porta. Ele estava com um saco de lixo, o qual deveria estar levando para a lixeira na calçada. Sua expressão indicava que ele tinha visto a cena.
Ao me aproximar, a confirmação.
_Mas que porra foi aquela?
.....
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