Boa Leitura !!
Acordei às três da manhã, ainda com aquela sensação, mas estava melhor que antes. Fui beber água. Apoiei-me na pia da cozinha, pensei “Como dói tudo”. Caiu uma lágrima. Subi e fui dormir.
Pela manhã, cinco horas (hora em que gosto de me levantar), não tinha vontade de me levantar. “Repetir toda aquela rotina?“, pensei contrariado a fiz. Desci todo arrumado. Mamãe me pergunta:
— Ontem fostes dormir cedo, Por quê? Cida que me falou que estavas cansado.
— Ah, sim, foi. Estava desacostumado já ¨¨ — falei, meio desanimado.
— Filho, que está te acontecendo? ‘Tás’ meio cabisbaixo, por quê? Seja sincero! — Meu pai abaixou o jornal.
— Ah, não é nada, já não disse? — respondi com uma retórica, em tom de malcriação. — Senhor ainda não vai? — falei manso.
— Não, por quê? — falou meu pai num tom de falsa fúria. Todos rimos. — Tem alguma coisa importante para chegar mais cedo, filho? — falou num tom normal.
— Não, se fosse por mim, eu chegava sete horas; saia sete e um segundo. — Tentei rir, mas ninguém rira comigo. Meu pai e minha mãe me olhavam, estava muito tenso o clima. Levantei-me. Fui beber água e me apoiei no balcão, de frontispício à pia. Logo aparece meu pai.
— Filho, tem alguma coisa que você queira me falar? — Encostou-se ao balcão, de costas.
— Não! — Já estava cansado de dizer isto, por mais que não fosse verdade. — Parem de me perguntar isto! Aff, já vou! — Minha cabeça estava revirada.
Sai peguei minha mochila que não tinha mexido desde ontem. Coloquei meus fones e, numa faixa aleatória começou a tocar “Scorpions – Wind Of Change”. Que porcaria isso significava? Ou não significava nada, eu estava ficando louco? Peguei na alça da porta de entrada, ela era toda de mogno, com uma faixa na vertical.
Sai andando. Quando estou quase saindo do condomínio, vejo Bruno. Ele estava saindo daquela mesma alameda, pensei “Droga!”. Acelerei o passo. Acho que ele não me viu. Eu estava decido em não ir à escola. Próximo passo: pegar táxi. Jesus, que sofrimento! Acenei para uns quatro, e nas minhas últimas gotas de esperança aceno para o quinto; era um Fiat Uno 2010. O carro era prata e tinha a usual marca dos táxis do DF, uma faixa nas cores verdes e amarelas. Entrei e um senhor, deveria ter seus quarenta e poucos anos me questiona:
— Aonde o senhorzinho gostaria de ir? — Eu ri do humor
— Ao Parque da Cidade, por favor! — falei de modo calmo e depressivo.
Recebo umas chamadas de mamãe e papai, mas também de meus colegas de escola, mas coloco no modo “Fora de área”.
Enquanto as paisagens passavam, meu pensamento voava, sim estava muito distante dali. Pensava em como seria bom ter alguém que eu pudesse abraçar beijar, dividir a pipoca no cinema, acarinhar. Quando menos espero já estou no Parque da Cidade. Demoraram uns quinze minutos.
— Bom dia e obrigado! — Pago o táxi e saio.
Vou para uma área coberta onde costuma ter uma mesa de cimento e uns bancos feitos do mesmo. Abri o livro “Histórias Extraordinárias, de Edgar Allan Poe” estava no conto “Gato Preto, O”, mas também estava comendo batata chips com Coca-cola. Recebo um telefonema de casa. Atendi. Era Cida ¨¨
— Menino onde estás? Estás louco?
— Alô, o que é Cida? — Indago, num tom desinteressado.
— Menino, vem para casa, todos estão te procurando! — exclamou
— Aff, para com isso Cida, só ‘tou’ no parque lendo um pouco. Nada fora do normal, não é mesmo? — falo normalmente.
— ‘Tá’, porém estamos preocupados! Ligaram do teu colégio! E um colega teu disse que te viu pegando um táxi. Teus pais estão fazendo um B.O! — continuou exclamando e me atropelando. — E o Deco não está com uma cara boa. O que ele comeu?
— ‘Tá’, ‘tá’, ‘tô’ saindo daqui! — falei desligando.
“Droga! Que bosta de modo de volta das férias!” Pensei, guardando meu livro
Aparece um garoto, uma criança, de rua me olhando. Percebo que esta olhando para minha lata de batata chips. Penso “Uma criança de rua? Nunca vi nenhuma por aqui”.
— Oi! — falo —, tome para você. Deve estar morrendo de fome! Estás Perdido? — Completo, coloco minha mochila em meu colo e lhe entrego a Coca-cola com a batata chips intocada.
— Mu¨¨ mui¨¨to obrigado! — respondeu hesitante.
— De nada, menino bonito — Abri um sorriso. Ele coroou.
Era um menino maltratado, pele queimada e de cabelos bagunçados; deveria ter uns dez anos de idade. Em meu intimo, me perguntei “Que droga de capital é essa? Onde uns comem caviar e arrotam peru, enquanto há outros que esmolam por aí? Ah, sim, essa é a capital que é a sombra fiel ao país que representa. Sim, não estou acostumado com isso, admito, mas sei que existem sim essas desigualdades como em todo o país. Não é só no Brasil que se vive de aparências, mas até aqueles que se auto intitulam-se como de “Primeiro Mundo”, principalmente lá. A diferença entre eles e o Brasil.É que eles sabem maquiar muito bem, o Brasil ainda está engatinhando nesse estágio.
— Você está perdido ou o que ? — indaguei.
— Não, minha família mora na periferia. Faço serviços ¨¨ — Explicou.
— Que serviços? — perguntei.
— Às vezes roubo, limpo carros, depende de como está a situação ¨ — falou
— Nossa! Mas você não se droga, não é? Por que não estás na escola baixinho? — questionei. Ainda estava estarrecido.
— Por que queres saber tudo isso ? É policial ? — perguntou-me com um ar desconfiado.
— Olha para minha para minha cara. Sou tão velho assim ? — falei com cara de ironia. Ele rio.
— Não, não ! O senhor é jovem ! Muito jovem ! — falou ele
— Se sou jovem, por que me chamas de senhor? — falei brincando. — Sou Henrique, me chame de você ou Henrique! Tenho idade para ser seu irmão — Ri.
— Tá bom senh¨¨, Henrique. – Rio novamente.
— Pois então você se droga? Por que você não está na escola?— perguntei novamente.
— Não, mas sou um avião. Meu pai trabalhava num construtora e minha mãe era doméstica, veio a crise e eles ficaram desempregados. Eu e meus irmãos estudávamos, mas tivemos que sair, pois não tinha dinheiro para continuar estudando só com o dinheiro que vem da “presidente” (bolsa família, supus) — falou.
— Bom como você se chama? — perguntei.
— Vladimir — Já estava comendo de novo. Deveria estar morrendo de fome
— Bom, Vladimir, eu tenho que ir, mas fica com isso peguei uma nota de R$ 20,00 e dei-a para ele. Deus está te olhando viu?! Compra comida para você e sua família! E procura o Centro de caridade brasiliense, eles vão ajudar a sua família. Volte a estudar! Tchau, foi um prazer te conhecer!
— Tchau, tio Henrique!
Tinha dado todo meu dinheiro para o Vladimir, fiquei só com o dinheiro da passagem para voltar. Meu Deus, Deco!!! Fui rápido até o ponto de ônibus. Apanhei um ônibus rápido, por sorte, achei um que parava bem próximo ao condomínio. Demorou meia-hora para chegar ao condomínio.
Fui correndo que nem um doido para casa. O que estava acontecendo com meu Deco? Quando chego em casa, meus pais começam a me brigar. Deco está no cantinho, começo acarinhá-lo, ele está muito estranho, talvez solitário, como eu, não quero que ele fique assim. Começo a chorar, ele levanta a cabeça tipo “Que, que tu ‘tás’ fazendo?”. Eu começo a rir e ele a me lamber.
“Cida mentiu para mim!”, penso.
Levo aquela bronca dos meus pais, começando por papai:
— Menino está louco? Que diabo te sucede? — Furioso
— Fale a verdade Henrique Damião Arantes Lusitano! Vamos castigá-lo, retirar seus livros, computador, celular, videogame tudo, até que eu fale toda a verdade!
— ‘Tá’, mas tipo que verdade? — Fiz minha cara “totalmente sínica”
— Chega! Vá para seu quarto! Agora! Estou no meu limite! Nós queremos lhe ajudar, você não quer?! Então tá, ótimo! Saia agora desta sala para seu quarto! — disse meu pai alterado.
Fiquei hesitante, meu Just Dance! Minha mãe olhou-o. Ela me guiou da escada até meu quarto, falou:
— Por que você faz tanto isso, Henrique? Por que se auto prejudica ? — falou cabisbaixa.
— Mãe, a senhora e o papai já foram adolescentes, mas eu sou diferente. Eu não quero falar, da para entender! — exclamei. Falei qualquer besteira, mas até que fazia sentido.
— “Tá” bom, mas diga tchau para tudo que gostas e que não é educativo! — Tirou todos os livros, cabos e baterias, todos estavam no seu colo.
A campainha toca, a Cida chama a mim e a mamãe. Mamãe dá tudo para Cida segurar, fica se equilibrando. Sigo mamãe, mas esta diz :
— Não! VOCÊ AQUI!
Jogo-me na cama e, penso “Que saco!”.
Troquei de roupa, olhei para a varanda de Ricardo. Fiquei imaginando nós dois juntinhos agarrados, de repente saio do transe. Decido descer.
Desço e vejo uma figura. Imediatamente reconheço esta [...]Muito obrigado por comentarem, assim sei que estão gostando. Muitas beijocas e abraços!