Meu instinto inicial foi de ignorar completamente ela. Há muito tempo que eu não parava para pensar nela ou nos meus irmãos. Mas o fato de ser minha mãe aliado à curiosidade de saber o que ela havia ido fazer ali me fizeram caminhar até ela. Ela levantou a vista ao me ver e notei um olhar de felicidade.
- Meu filho. - Ela pulou me abraçando. - É tão bom saber que você está bem. Eu tive tanto medo, meu Deus.
- O que a senhora quer mãe? - Indaguei friamente. - E como a senhora me achou aqui?
- Me disseram que você tinha passado pra universidade ai eu fui ver onde era e descobri que era aqui. Você tá tão bonito, bem cuidado. Mais ainda do que quando vivia comigo. Sabia que você tinha futuro filho.
- Mãe, eu te conheço. Para a senhora ter vindo aqui, deve ter acontecido alguma merda com o ernesto não é?
- Ele morreu.
- Hã?
- Morreu. De tiro. Faz 2 meses. Ai apareceu um irmão dele e mandou desocupar a casa, ameaçou. Eu descobri que a casa não era dele, era da mãe dele que morreu. Ai tive que sair. Tô morando em um quartinho. Eu e teus irmãos. Aí eu pensei que nada mais me impedia de vir atrás de você. Eu to passando muita necessidade. Mas se você tivesse mal, podia ir ficar comigo e se estivesse bem eu queria uma ajuda.
Finalmente tinha entendido o que ela queria e o ar de fome do Vinícius, meu irmão mais novo, deixava claro que estavam mesmo passando necessidade.
- Tudo bem Vinny? - Falei cumprimentando meu irmão de nove anos.
- Tudo bem. Vai voltar a ficar com a gente?
- Não posso. O mano agora tem outra vida.
- O que você anda fazendo filho? - Perguntou minha mãe, provavelmente curiosa com as roupas boas que eu estava vestindo.
- Eu sou garoto de programa, faço sexo por dinheiro. Foi assim que sobrevivi. - Falei na lata. Após o que ela havia feito comigo, não me sentia na obrigação de ser delicado.
Ela colocou a mão na boca, assustada:
- Meu filho. Como isso foi acontecer?
- Acontecendo. E não precisa ter pena de mim, estou melhor que vocês. - Falei abrindo a carteira. - Pega. - Completei entregando R$ 200,00 a ela. Pode vir toda semana que dou esse mesmo valor.
- Filho, esse dinheiro...
- Mãe. Eu não estou sofrendo fazendo o que faço. Um dia eu vou parar, estou me formando, até lá é o melhor que posso fazer pela senhora e pelos meninos. Como está o Clailton e a Monique?
- Estão bem. - Falou ela pegando o dinheiro, dobrando-o apressada e enfiando nas roupas. - Visite a gente qualquer dia. Tô morando perto da tua tia Das Dores.
- Apareço sim. - Falei me virando. - Tchau Vinny, dá um beijão na Monique por mim. - Completei assanhando os cabeços do meu irmão caçula e me dirigindo para a aula.
Eu tinha que visitar e ver como estavam, podia estar em condições de total penúria pelo que eu via. Pior que morando nessa quartinho que ela falava, provavelmente não tinha onde fazer as lavagens de roupa, que eram a única fonte de renda dela. Devia estar comendo o pão que o diabo amassou e embora tivesse me abandonado, o sangue fala mais alto e eu sofri pela minha mãe. Minha vida não era das mais luxuosas mas não ia deixar ela passar necessidades. Nem os meus irmãos.
No fundo, gostei de saber que o inútil do Ernesto tinha passado desta para uma melhor. Quer dizer, nem sei se ele estava em uma melhor, mas eu certamente estava melhor por ele ter partido. As vezes ainda tinha medo de ele aparecer e fazer algo comigo e sentia falta dos meus irmãos. Agora sabia que podia ir até eles quando quisesse, mas também teria que me esforçar para ajudar a sustentá-los.
As aulas daquele dia passaram rápido e pouco liguei para elas porque ainda pensava na minha mãe. Quando estava descendo as escadas recebi uma mensagem do Fábio.
“Quer carona?”. Respondi rapidamente um “sim”. Não podia recusar uma carona vinda em uma hora tão providencial.
Ele já me esperava na saída da facul, pulei dentro do carro e então lembrei que ainda não tinha gozado. Imaginei se ele não toparia um oralzinho de cortesia, meu saco tava doido.
- Posso te fazer umas perguntas, Diego? - Indagou ele dando partida no carro depois que entrei.
- Pode.
- Você é garoto de programa desde quando?
- Quase um ano. - Respondi vagamente.
- Você vive disso?
- Vivo.
- Ganha quanto por semana?
- Essa pergunta é indiscreta demais. - Respondi.
- Desculpa. É que eu queria te fazer uma proposta.
- Pode fazer. - Incentivei desanimado, imaginando que meu oral tinha ido para o espaço.
- Quero te pagar para namorar comigo. Topa?
Continua.
P.S: Até amanhá pessoal. Sobre o novo conto “A Cigarra e a Formiga” pretendo postar uma nova atualização por dia, apenas. Hasta Luego.
Revisei essa parte para ver se aparece o link para todo mundo.