Existem momentos na vida em que chegamos à beira do abismo. Todo mundo se não passou ainda passará por uma situação destas. Elas mudam nossa forma de ver o mundo, revolucionam nosso modo de viver. Uma pessoa que comia de tudo sem nunca regrar nada, pode mudar da água para o vinho depois do primeiro enfarto. O ativo comelão que sai pegando todo passivo que passa pela frente como um rolo compreesor, sem ligar para os sentimentos de ninguém, pode se tornar um verdadeiro cordeirinho no dia que se apaixonar por um passivo bem escroto que maltratar ele bastante sem querer nada sério.
E certamente, ter uma arma apontada para você com uma ameaça de morte é algo que mexe em alguma coisa dentro da gente. E não era a primeira vez que aquilo acontecia comigo. Mesmo para alguém que nasceu e cresceu em um ambiente familiar e social violento, estar de cara para a violência urbana de forma fatal várias vezes não era exatamente a regra.
Alguns dias atrás eu havia me decidido a enterrar o Dee prostituto. A partir de então só viveria o Diego, apaixonado pelo Thor e estudante de letras. Antes que o corpo do Dee esfriasse na tumba, fui obrigado a trazê-lo de volta para realizar um último serviço sujo para o Kaue e o Ferdinando. Esse serviço sujo estava quase acabando mal e Dee precisava voltar com sua carga total para escapar vivo dali e permitir ao Diego viver sua vida e curtir o amor junto com seu namorado policial.
- Vamos Dee. Abre logo essa boca caralho. - Insistiu Samuel mais violento ainda diante da minha hesitação.
- Sam, eu já disse o que eu queria. Não acredito que você me entendeu mal. - Falei nervoso.
- Tá me achando com cara de idiota, seu putinho de merda. Acha que me gabelou com essa história de jerico. Eu vou contar até três para você me contar qual a real desse encontro, depois começa a levar tido.
- Sam, eu senti saudade. - Insisti usando o truque de encarar ele com meus olhos azuis para ver se tinha algum resultado desta vezPorque você tem que ser assim tão duro?
- 2. Fala caralho.
- O Kaue está vivo.
- O quê?
- O Kaue está vivo. Eu falei com ele. Ele pediu pra eu marcar um encontro assim para te ver de novo.
- Não brinca comigo. Eu matei ele.
- Matou não. Mandou matar. Quem você mandou matar ele não fez o serviço?
- O quê? Conta tudo que você sabe porra ou te mato.
- Eu encontrei o Kaue na faculdade. Ele se apresentou, disse que te amava e contou tudo que ouve. Ele disse que chorou dizendo que te amava para o cara e que você iria se arrepender de mandar matar ele e sofreria muito. Por isso o cara deixou ele ir. Ele disse que sumiria uns tempos e depois voltaria para te dar uma segunda chance. E ele voltou Sam. Ele que pediu para eu marcar esse encontro.
- E onde está ele.
- Ele pediu pra eu ver se você queria ver ele de novo. Na boa. Na paz. Tentar recomeçar. Antes dele vir.
- E o que tu tá ganhando com isso?
- Cinco mil reais.
Ele gargalhou forte.
- Sabia que um putinho como você não ia intermediar essa conversa só por caridade. Pode ligar para ele e mandar ele vir.
- Mas você tem que garantir que vai conversar de boa. Sem violência.
- Liga logo porra, senão te mato. - Esbravejou ele.
Peguei meu celular trêmulo e disquei para o Ferdinando.
- Alô, Kaue. Cara, já contei tudo ao Sam, tive que contar porque ele desconfiou de tudo. Mas ele está de boa, quer te ver. Se arrepende muito daquela decisão louca impulsiva. - Falei tudo de uma vez assim que a chamada foi atendida.
- Dee. - Respondeu Ferdinando. - Acho que as coisas não foram muito bem para você né? Se ele está armado e te ameaçando, fala estamos aguardando no ponto. Se ele está calmo, fala estamos aguardando na paz.
- Estamos aqui te aguardando. No ponto. - Falei pausadamente e desliguei antes do Sam ter a ideia de pedir para falar com seu ex pelo celular.
- Pronto Sam. Só esperar ele agora.
- Ótimo. Ele não teve ciúme de você não? Por você ter ficado comigo várias vezes?
- Teve, claro. Ele te ama.
- Quando ele chegar pode ser que eu te mate para mostrar a ele que você não significa nada.
- Isso não vai ser preciso Sam. Ele não quer esse tipo de prova. Só quer você de volta.
- Cala tua matraca, vagabundo. Não te mandei falar nada não.
Apenas sentei em uma cadeira e fiquei quieto esperando.
- Fica de boa, Leque. Se o Kaue tiver de boa eu só dou uma grana e te mando cair fora para nunca mais aparecer. Tá certo?
- Tá certo Sam. Te agradeço.
- Tem que agradecer pica nenhuma não. Apenas fica na tua.
- Está bem. Mas sério, eu também nunca te agradeci direito por ter mandado matar o Bill. Aquele matador lá é caro.
- O Ferdinando?
- É.
- Tu nunca entendeu não, leque? - Falou ele rindo. - Eu nunca mandei matar o Bill.
- Como?
- Eu te falei isso naquele dia. Eu mesmo iria invadir no dia seguinte. Quando você ligou e falou aquilo, eu comuniquei tudo a outra pessoa e essa pessoa que mandou o Ferdinando. O Ferdinando não é matador de aluguel, ele trabalha para uma pessoa só. Um chefão. Por isso só o Bill foi apagado. Todos os outros ficaram vivos. Os guardas só foram desacordados. Os outros garotos todos foram liberados. Eu ia para matar todo mundo, deixar só você e seus amiguinhos. O chefe do Ferdinando não curte derramar sangue, é meio mole. - Falou ele enquanto meu queixo caia. Quem diabos era o Ferdinando afinal? E quem era esse chefão? Seria o Kaue?
Continua....
P.S: