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A História de Caio, completa e revisada para leitura on line e download e contos inéditos no meu blog:
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No cap. 24 fiz uma dedicatória aos colegas gays, este então não poderia deixar de ser dedicado a todas as lésbicas. E as lésbicas de modo geral. Admiro muito todas vocês, que pertecendo ao chamado sexo frágil precisam do dobro de coragem e do dobro de determinação para se impor a um mundo que além de homofóbico é incrivelmente machista.
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- Sa. Eu estou enxergando uma miragem?
- Não Ca. É o Ro e o Daniel mesmo. Você não disse que ele era louco por ti?
- Disse. Até ontem ele estava se arrastando aos meus pés.
- Bem, parece que não está mais.
Entramos na sala mas eu não conseguia prestar atenção em porra de aula nenhuma. Que merda era aquela que eu tinha visto? Que falso o Dan. Dizer que me ama e no outro dia estar de mãos dadas com o Roney. Eu não sabia se o que eu sentia era ciúme, raiva e nem sabia se era direcionado ao Dan ou ao Roney. Mas aquilo me incomodou de tal forma, que até esqueci a questão do Carlos e minha briga com o Yoh. Eu precisava colocar aquilo a limpo.
Minha chance veio quando vi o Dan sair para o banheiro já no segundo tempo. O segui. Ele entrou em um box e eu fiquei do lado de fora esperando, ainda bem que não tinha ninguém além da gente. Quando ele saiu, naturalmente achou estranha minha presença:
- Me esperando?
- O que está acontecendo?
- Como assim?
- Não se faça de santinho. Você e o Roney?
- Quando foi que eu passei a te dever satisfações?
- Quando disse que me amava, seu falso. Como tem coragem de um dia depois da gente ter uma conversa você estar com outro?
- Caio, eu nunca estive com você. E se você parar para analisar, a culpa é sua. Então: vê se não enche.
- Tudo bem que já que não rola entre a gente você procure outro. Mas o Roney? Francamente, você me deixa de lado por um viado como ele?
- Porque? Porque ele é afeminado? Você não tem vergonha de ter preconceito mesmo após ter sido agredido várias vezes e até estuprado por preconceito não? Te enxerga Caio. E quer saber. Eu já comi vocês dois, você é muito mais mocinha quando está dando do que ele. Ele aguenta tudo calado, como macho.
Tentei dar um tapa nele mas ele segurou minha mão.
- Sem violência esqueceu? Não queremos ninguém com membros decepados. - Falou largando minha mão e saindo rapidamente do banheiro.
Eu não conseguia acreditar naquilo. Fiquei com um vazio tão forte na barriga. Não sabia dizer o que era aquilo. Tudo que eu queria era me enfiar num buraco e me esconder. Fugir daquela dor estranha que estava sentindo. Como podia, há menos de 24 horas um cara estaria disposto a fazer tudo por mim e agora falava tudo aquilo na minha cara.
Voltei para a sala e ele não olhou na minha cara. Tampouco o Roney me olhou de qualquer forma. Aquilo só poderia ser para me atingir. Ficar com o Roney e ainda ter a cara de pau de dizer que eu sou uma mocinha na cama. Foda-se se eu sou uma mocinha. Aquele idiota não tinha que falar aquilo daquela forma.
Quando eu não tinha grana, tinha meus amigos e dois homens atrás de mim. Agora que eu tinha grana tinha perdido os amigos e os dois homens. Parecia que dinheiro não trás felicidade mesmo. Mas eu ainda podia consertar as coisas. Mas nem pensar em tentar investir no Dan agora, primeiro que eu estava odiando ele, segundo que ele estava me odiando, terceiro que se eu tomasse outro homem do Roney a essa altura do campeonato, possivelmente a Samia não me perdoaria.
Eu precisava ter um plano de ação. Primeiro, precisava que o Yoh acreditasse em mim, precisava falar com ele de novo, mas primeiro esperaria uns dias para ver se ele ligava e pedia desculpas. E ainda tinham as questões da empresa, não tinha sequer ido ver o relatório, resolvi fazer isso na tarde livre.
Na saída do colégio, por azar topei com o Roney, a Samia estava do meu lado e foi se despedir dele, eu fiquei me coçando para xingar aquele viado mas me controlei. Ela veio para mim toda sorridente, sei que no fundo ela gostaria que a gente voltasse a se falar. Talvez isso ocorresse. Quando o sertão virasse mar novamente. Até lá, queria distância daquela bicha lazarenta. Meus anseios de vingança estavam incluindo ele já, mas eu tinha contas mais fortes para acertar. Com o que houve com o Carlos, não devia mais me preocupar com ele, mas eu tinha que fazer o Flávio e o Mário pagarem pelo que me fez.
A tarde na empresa foi bem agradável, e quando retornei para casa estava exausto. Estava deitado na minha cama descansando quando o celular toca. Era o Yohan.
- Oi Yoh.
- Queria pedir desculpas. Posso?
- Pedir pode. Se eu vou desculpar, é outra história.
- Desculpa ser agressivo com você. Só queria que você se aceitasse.
- O que eu tinha que aceitar em mim já aceitei Yoh, já me assumi gay. Não tenho vergonha disso. Pronto. Não vou admitir que sou um criminoso.
- Nem para mim?
- Nem pra você e para logo essa conversa senão termina mal de novo.
- Tudo bem. Só queria dizer que eu não te esqueci ainda.
- Bela hora para falar isso. Eu também não te esqueci. Mas deveria. Você mesmo a distancia só me irrita.
- Posso perguntar algo?
- Pode.
- Qual seu nome completo?
- Para que? - riu ele.
- Pra saber se vou acrescentar um sobrenome teu quando a gente casar.
- Ta assim é? Vou mandar por mensagem que tem um nome de pronuncia dificil. - Mas ele falou ouço o bip da mensagem com a mensagem dele.
- Valeu, já chegou aqui.
- Final do próximo mês já posso voltar.
- Que bom, to sentindo falta de um macho na minha vida.
Ele apenas riu do outro lado e desligou. Coloquei o nome dele no google, vi que ele realmente havia passado em um concurso de delegado no Paraná e em outro em Sergipe. Dormi muito bem a noite, com sensação de dever cumprido e acordei com um toque de celular, ao invés do meu alarme habitual. Era a Samia.
- Ca, você já está sabendo?
- De que Sa?
- O Flávio.
- Que tem ele.
- Foi achado de madrugada por uma viatura da polícia que fazia ronda pelo centro. Estava jogado em um beco. Amarrado e amordaçado, com um cassetete de polícia enfiado na bunda dele.
Continua …