Apenas amor… - Prólogo
Atendendo ao pedido de um amigo, eu vou postar a minha história. Não vai ser nada demais, não tem grandes fatos, grandes acontecidos. Até porquê se for para ter estupro, morte e essas coisas eu fico com a minha profissão mesmo, estou satisfeito com a minha rotina monótona com a pessoa que me faz feliz,
Para princípio de história, neste conto usarei nomes fictícios, não quero comprometer ninguém, até mesmo tendo em vista que não tenho o direito de expor as pessoas, principalmente as que não gostam desse tipo de site. Chamar-me-ei de Rafael, pelo simples fato de ser um nome que acho muito bonito. Irei contar a minha história e do Lucas.
Eu nasci em janeiro de 1987, sou aquariano. Apesar de não acreditar que a data do nosso nascimento seja capaz de ditar a nossa personalidade, tenho que confessar que sou um poço de calmaria, chegando a ser bastante parecido com o personagem Camus de Aquário do anime mais famoso de nossas infâncias (para quem tem mais ou menos minha idade, 25 anos), sou bastante frio e calculista, faço o cálculo custo-benefício em praticamente tudo na minha vida.
Eu sou de Belo Horizonte mesmo, minha família tem uma vida tranquila, meus pais se separaram ainda quando criança e alguns anos após – poucos por sinal – minha mãe se casou novamente, gosto bastante do meu padrasto, que é mais que um pai para mim.
Sempre estudei em escola particular, apesar de morar na região da Pampulha, estudei no Colégio Santo Agostinho. O ensino de lá é muito bom, mas muita gente não salva lá não, as pessoas são extremamente metidas e se acham melhores que todo mundo, pelo simples fato de, a grande maioria, ser de classe A ou B.
Hoje eu meço 1,91m, tenho 87kg, corpo definido, mas nada demais, minha pele é parda, meio desbotada pois odeio sol, isso é fato! Uso protetor solar fator 60 todos os dias o dia todo. Tenho cabelos lisos, um pouco grandes, repicados, estilo Kyo Kusanagi do game The King of Fighters, na verdade eu só uso esse corte por causa dele, sou muito fã desse jogo. Uso roupas normais, mas com muito estilo. Gosto de moda, gosto de marcas caras, mas para satisfazer a mim mesmo, são os fetiches que a mídia e a indústria cultural nos impõe e não faço questão de ir contra a maré. De todo, sou muito calmo, tranquilo, racional demais, mas sempre tive um sonho, desde criança. Sempre quis constituir família, tenho uma necessidade muito grande de companhia.
Acho que não posso deixar de falar que sou muito aéreo, demoro a entender piadas, metáforas não são o meu forte e se disserem gírias comigo? Eu entenderei coisa alguma. Fui treinado para ser o melhor em qualquer coisa que eu faça, assimilar qualquer teoria e solucionar qualquer problema utilizando de tecnologias e metodologias avançadas e diversas. Fui, sou e sempre serei o típico nerd chato que ninguém gosta no colégio e faculdade, mas todo mundo faz amizade para receber a cola durante as provas. Se eu passava? Claro, isso é eliminação de concorrência. Se eles colam, eu sei o conteúdo e eles não, eu domino as ciências, eles são simplesmente reprodutores. Contudo, isso não vem ao caso, o importante é contar algumas coisas que aconteceram desde a minha adolescência até os dias atuais, porém eu serei sucinto, não me sinto muito a vontade para expor minha vida.
Estudava no Colégio Santo Agostinho, como disse, na época eu estava com 14 anos, no primeiro ano do ensino médio, era ano de 2001. Tudo continuava a mesma mesmice, eu saída de casa cedo com o meu padrasto, que me levava de carro até a escola. As aulas eram normais, mas eu sempre era atormentado por um garoto, um dos mais populares, mas popularidade negativa, diga-se de passagem. O nome dele é Lucas, tinha 18 anos, estava no terceiro ano – só para constar e não confundi-los, eu me formei no ensino médio com 16 anos. Nessa época ele tinha um corpo normal, era alto – eu tinha com essa idade, cerca de 1,80m a 1,83m, e ele já tinha seu 1,90m, mas bem magro, como eu também era na época – a pele dele muito branca, praticamente dava para ver as veias dele, e quando ele jogava futebol, voltava da educação física todo vermelho, feito um tomate extremamente maduro.
Ele vivia me atormentando, me chamando de nerd filhinho da mamãe, ou de nerd cratera de vulcão, por causa das minhas acnes horrorosas. Sempre fica a pergunta, se sua família tinha recursos, qual a razão para a não administração da isotretinoína, vulgarmente conhecida como Roacutan®? Simples, vários problemas de saúde: asmático, nefropata e portador de um tipo raro de trombocitopenia, que é o raleamento do sangue, podendo acarretar uma futura leucemia e doenças autoimune, além da anemia falciforme. Sim, muita doença para uma criança só. Então, por esse motivo, nada de Roacutan, mesmo ele já sendo um velho fármaco, sintetizado em 1982.
Esse Lucas era um tormento em minha vida, ele me zoava, fazia brincadeiras sem graça, e uma vez colocou minha cabeça na privada e deu descarga. Aquilo foi nojento e me rendeu uma infecção que me afastou da escola por seis semanas. Sim, eu fiquei seis semanas livre dele, certo? Errado. Uma coisa que esqueci de citar é que o Lucas era o meu vizinho e os pais dele sempre foram muito amigos dos meus, o pai dele é dono de uma grande empreiteira, e meu padrasto constrói prédio para revenda dos respectivos apartamentos. A mãe dele é executiva de uma empresa multinacional e minha mãe professora universitária.
Todos os dias ele ia lá em casa para levar as atividades que os professores mandavam, como se eu precisasse, sabia bem o que eles estavam ensinando e aproveitava o tempo na cama para ler e estudar. Ele fazia piadas idiotas e quando minha mãe apontava no início do corredor – meu quarto é o último do corredor – ele muda de assunto e deixava de me atormentar.
Ele arrumava sempre um jeito de me ridicularizar, ria de mim, criava apelidos, me chamava de viadinho, nerd, cratera, vírus – por ser muito doente e ele saber disso por sermos vizinhos –, me derrubava na escola e todas essas coisas.
Felizmente, o final do ano chegou, e ele foi embora para São Paulo. Foi fazer bacharelado em Educação Física e Esportes. Eu não acreditei muito, pois ele era um dos piores alunos do colégio, só não foi expulso pela influência dos pais dele. Era até improvável que ele passasse na USP, mas tudo bem. Cada um com seu cada um.
Então, eu me vi mais livre comigo mesmo. Mesmo eu não sendo tão menor que ele, eu era menor e se ele era magro, eu também era. E além de tudo, eu era muito medroso de tudo – ainda sou um pouco, apesar de não precisar mais hoje. Em falar em hoje, sei que aquilo era bullying, mas não me fez ter problema nenhum e nem querer matar ninguém. Aproveito para chamar a atenção de vocês leitores para o que a mídia diz, eles deturpam o significado do bullying, o que se caracteriza como tal e como as pessoas devem ser acompanhadas.
Voltando ao assunto, eu estava mais tranquilo, afinal o cara que me perseguiu desde meus dez anos tinha ido embora, por sorte ele não voltaria tão cedo, e não voltou. Ele ficava o ano inteiro em São Paulo, durante o tempo do curso ele veio à BH umas três vezes, os pais dele que iam sempre pra lá e quando voltavam, sempre traziam um presente pra mim. Teve uma vez que foi um livro sobre vulcões, outra uma seringa e um bilhete dizendo para eu não morrer antes dele voltar. Eu ficava fulo da vida. Fazia cara de agradecido aos pais dele, mas odiava cada presente. Até que no meu aniversário de 18 anos ele me mandou um pênis de borracha de presente, aí que eu fiquei puto mesmo, ele só mandava presente tirando sarro da minha cara, e nem éramos amigos.
Como disse, eu sou muito aéreo e não percebia que ele só queria chamar minha atenção. Mas ele acabou foi me deixando com muita raiva dele, e mesmo se eu fosse gay, e com dezoito anos eu sabia que era gay, apesar de não ter ficado com ninguém ainda, ele nunca teria chance, pois eu era muito bonito – como ainda me acho – e ele era um branquelo, apelidado de Alemão por isso, magricelo, chato e pedante.
Certo dia chego em casa e minha mãe diz:
_Oi, Rafa! Sabe quem voltou e te convidou para uma festa na casa dele? – ela disse aquilo toda alegre, pois ela achava que éramos amigos e essas coisas que mães acham, que os filhos de seus amigos são amigos de seus filhos, só que isso não se aplicava a mim e ao Lucas.
_Não! – disse com a mesma cara inexpressiva de sempre, a famosa cara de merda, sem fazer a menor ideia de quem se tratava, até que minha completa, sabendo que eu não iria perguntar.
_O Lucas! – ela disse radiante, minha mãe é sempre muito radiante, ela ri o tempo inteiro, acha tudo muito lindo, tudo muito feliz e sempre tem algo bom a se absorver em tudo. Sim, ela é psicóloga. – Ele disse para você ir na inauguração da academia dele, aqui mesmo no bairro – vou falar o nome e o bairro não, ela ainda existe, rsrs!
_Ah tá! – Eu disse no mesmo tom monótono, achei que ela estivesse falando de alguém mais legal, tipo a Simone, minha melhor amiga que havia se mudado há um ano para os Estados Unidos. Mas não, era o traste do Lucas, e ia montar uma academia, lógico que iria ser uma merda de academia, pensei, mas sem a merda, aprendi palavrão com ele, antes não falava nenhum. O Lucas é má influência para mim. – Mas eu não vou, avisa para ele.
_Que isso, meu filho! – Ela me disse segurando em meu braço, fazendo que eu parasse ao pé da escada. – Ele sempre te manda lembranças de São Paulo, agora que ele voltou, vai montar uma academia e te convida para a festa e você não vai? Não foi essa a educação que eu te dei! A Desirè não te ensinou que é deselegante recusar ao convite de um amigo?
Desirè foi a minha professora de etiqueta e de francês. Coisas da minha mãe, essa de saber etiqueta, afinal de contas, eu não conheço ninguém que saiba usar todos os talheres e taças em meu convívio. Se essas regras eram pra quando eu me casasse, meu companheiro é um verdadeiro ogro à mesa, mas deixe estar.
_Mas mãe! – eu até tentei, mas minha mãe faz eu fazer tudo o que ela quer, nunca soube dizer não a ela. Resultado? Eu iria àquela festa que mudaria a minha vida.
Espero que gostem. Amanhã pela manhã postarei um novo capítulo de Ossos de Vidro e, possivelmente, a noite, outro capítulo deste conto.
Abraços!