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Bem, a aula foi muito legal, acho realmente que estou no curso certo, e essa matéria de estatística aplicada me absorve realmente. No intervalo conversei com alguns amigos que havia tempo não nos falávamos, inclusive com o Rubinho que reclamou em tom de brincadeira que eu estava sumido demais da conta.
Uma das amigas que Luiza e eu temos em comum me informou que ela havia enviado um e-mail dizendo que logo voltava e perguntou por todos, fiquei desconfortável com isso, mas não demonstrei, às vezes me sinto roubando algo de alguém, contudo não quero me afastar de Marcelo, mas não gosto de lembrar da Lu com um fantasma ameaçador embora a sinta dessa forma hoje, isso não é fácil para mim em razão de sermos amigos e dela gostar muito, Bem isso é mais um espeto que tenho que amolar. Uma das meninas comentou baixinho o ouvido de outra algo relacionado a Luiza que não pude identificar, mas que não dei importância, pensei ser coisa do tipo fofoca, o que amigas sempre fazem entre si.
Depois da aula voltei para o estacionamento onde esperei Marcelo que não tardou, mas como Guto me enganara mais cedo, mesmo que sem intensão expressa, me senti logrado, eu fiquei de sobre aviso. A moto se aproximou e vi o condutor fazer um sinal com a cabeça para que eu subisse sem nada dizer enquanto me entregava o capacete. Acho que exitei por um segundo daí Marcelo tirou o capacete e me disse sorrindo “Coelhinho, sou eu, não precisa ficar com medo não, não foge de mim não. Guto me falou no susto que ele te deu.” Mordi os lábios e pus o capacete, mas quando ia subindo na garupa ouvi “não está faltando nada não? Agora é só o Guto que ganha abraço?” Marcelo me disse em tom de brincadeira.
Eu desci e dei um o abraço mais apertado que pude nele. Que retribuiu me dando um beijo no nariz porque eu estava de capacete; ele disse “Eu estava precisando desse abraço, coelhinho, eu estou morto de cansaço e amanhã vai ser uma guerra, mas as coisas já estão prontas pra gente acampar no feriado”. Daí ele me deixou em casa, descemos da moto e sentamos no cordão da calçada, digo, meio-fio. Conversamos um pouco e ele me relatou tudo que havia passado e como alguns diretores estavam irritados com o ocorrido, me disse que marcou uma entrevista pra mim na próxima sexta à tarde e que estava torcendo por mim, mas que sabia que eu ia conquistar a galera.
O salário é simplesmente o dobro do que ganho agora e se isso for verdade, meu Deus. A certa altura, senti que ele estava meio cansado e disse que era melhor ele ir pra casa descansar, mas ele quis ficar mais um pouco. Os olhos dele já estavam meio vermelhos, acho que era o sono e o desgaste de horas na frente da tela do computador. “Estou mesmo um trapo de tão gasto de cansaço, há problema se eu dormir com você hoje?” Ele me perguntou ao que respondi que não e que ia mesmo oferecer porque não estava certo se ele ia guiar até a casa sem problemas. Ele guardou a moto na garagem dentro do bicicletário e subimos.
Minha mãe me esperava e disse a ela que Marcelo dormiria aqui em casa, (outros amigos e amigas já dormiram aqui e ela não estanhou), mas como o Marcelo está fazendo um ótimo trabalho de conquistar meus pais, ela achou até legal e arrumou o quarto que era da minha irmã para ele. Eu emprestei um pijama meu, mas Marcelo me devolveu dizendo que ia ficar pequeno daí minha mãe emprestou um do meu cunhado que havia ficado aqui da última vez junto com outras roupas. O tamanho era quase igual ao que Marcelo usa que é G e ia ficar melhor e mais confortável que o meu ficaria nele.
Daí ela disse a ele poderia usar o banheiro do quarto e lhe entregou umas toalhas e sabonete, (minha mãe é muito atenciosa com as visitas e mantém o quarto da minha irmã sempre arrumado para recebê-la quando ela vem). Ela disse também que se ele precisasse que qualquer coisa que fosse era só me pedir, me deu um beijo e foi de deitar. Fiquei no quarto assistindo televisão enquanto ele tomava um banho, quando saiu ele estava um gracinha, a calça do pijama estava grudada no corpo e a camisa ficou baby look marcando o corpo todo dele e mostrando um terço do abdômen. Ele deu um sorriso percebendo que havia ficado muito apertado, mas disse que tudo bem e que era só para dormir mesmo.
Ficamos conversando deitados na cama vendo um programa qualquer e ele em certo momento colocou a cabeça no meu colo (fiquei com certo receio de meus pais verem, mas não é costume abrirmos portas lá em casa sem antes bater, mas mesmo assim não consegui relaxar, embora estivesse apreciando ver meu anjo de cabelos cor de trigo sorrindo pra mim com aqueles olhos azuis, agora avermelhados de sono, com a cabeça no meu colo. Continuamos a assistir tv. Em certo momento, fiz uma pergunta que ele não respondeu e percebi que ele respirava mais profundamente; havia dormido; eu o cobri, e me levantei para apagar a lâmpada do banheiro.
A roupa de baixo de Marcelo e as outras estavam penduradas na alça da parede. Senti o perfume dele que exalava de sua camisa e lembrei como era bom amar Marcelo. Fiquei parado um tempo olhando ele dormir de bruços e espalhado sobre a cama de casal que, em certo momento, me pareceu pequena para Marcelo que é muito grande. Uma onda de felicidade me invadiu enquanto eu estava ali, olhando o meu bebê gigante. Quando ia saindo de mansinho para não fazer barulho ouvi Marcelo dizer “coelhinho”. Voltei e passei a mão sobre a sua testa e vi que ele estava dormindo. Era verdade o que Luiza dizia. Marcelo realmente falava enquanto dormia. Fui para meu quarto e dormi feliz por Marcelo está tão perto.
Hoje de manhã acordamos e tomamos café, juntos na cozinha, meus pais e minha mãe saíram mais cedo para o trabalho. Marcelo me deixou aqui no estágio, mas disse que iria passar na casa dele para tocar de roupa “Estou fedendo” disse ele sorrindo. Na verdade é um exagero, ele é muito cheiroso e sua roupa estava com o cheirinho dele, mas é correto mudar de roupa todo dia hahaha. Bom, nos despedimos com um abraço e ele me disse que volta à tarde para me buscar, levar até a casa para eu arrumar minha mochila e irmos para a casa dele para então esperarmos o André pegar a gente, iremos no carro do André, o pai de Marcelo vai viajar também e não pode emprestar o carro desta vez.
A sexta-feira passou leve. Não ouve sobressalto algum e toda sorte de problemas, parecia estar distante. A supervisora havia viajado e nós, a equipe da minha unidade, restávamos a sós, sem ela. No almoço, mais uma vez, Marcelo e eu não pudemos estar juntos em virtude dos problemas tantos que ocorreram no sistema da empresa onde ele trabalha, mas saber que nos veríamos mais tarde era um alento. “Coelhinho, mal posso esperar pra te arrastar comigo, estou louco pra poder descer um paredão com você” Marcelo me disse.
Conversamos amenidade e desligamos. A tarde foi preguiçosa e houve tempo para por em ordem papéis da faculdade e imaginar como seria a entrevista que Marcelo me havia conseguido, senti um acréscimo de estima por mim mesmo e me permiti ser vaidoso por um breve instante. Minhas colegas de estágio têm me dito que estou parecendo mais bonito e que é certo que estou apaixonado. “Como é o nome do seu novo amor?”
Ouço isso delas sempre ao que respondo com um sorriso mudo que tudo entrega, bem sei, entendo que esse segredo tão somente existe para mim porque já notei que quando Marcelo vem me apanhar elas se entreolham e comentam baixinho, contudo procuro ser o mais amigo, correto e profissional; se discordam do modo como sou guardam para si. Jamais fui destratado por elas que, de certa forma, empenham um apoio mudo que só pode ofertar aquele que entende o quão doce é o açoite de amor complicado como o que sinto por Marcelo.
Durante à tarde refleti sobre como as coisas ora se encaminham, ponderei sobre os desdobramentos que haverá para mim, para Marcelo e para Luíza, Sofri por nós três, estive na posição de cada um. Do lado de Luiza provei do dilema solitário de estar ao lado da avó, mulher que a criou, neste momento tão difícil e ter de deixa a sua vida para trás, senti o amargor da solidão que está ma boca de Marcelo em suas queixas contidas, ele frágil como todo homem é, se viu privado da companhia de Luiza e de como me sentia mal por ser possível fator de desagregação entre eles; mas considerei que seu relacionamento não mais brilhava como antes, em verdade, havia tempo a empolgação de ambos havia embaçado e estavam sós, embora juntos a solidão a dois a que se referia o poeta.
Ambos, Luíza de quem amizade sincera sempre frui e Marcelo este homem a quem aprendi a amar e respeitar e ao lado do qual me descubro também homem a cada dia, a cada reencontro. Como de hábito pensei, decidi, voltei atrás, sofri, fiquei feliz, chorei, sorri... tudo por dento e em uma velocidade lancinante. Enquanto pensava em tudo e como tudo é, verifiquei minha caixa de e-mails e para minha surpresa havia recém chegado um e-mail de Luísa, tive receio de abrir, cheguei fazê-lo, mas não o li, não sei o que, realmente evitava, desejava dela saber, mas pensei que talvez fosse melhor... não sei... Ainda penso estar roubando algo de alguém.
Tentei me concentrar na viagem logo mais à noite e de como seria bom encontrar os garotos e é claro, Marcelo, mas não pude esquecer por completo que ela teria algo para me dizer, algo que ignorei. Mal pude esperar a hora de sair e quando era 18h lá estava na garagem. Marcelo me avisou por celular que André me apanharia aqui no trabalho. André é extremamente educado, sem frescuras, mas de uma cordialidade encantadora.
Tem um sorriso de anjo, verdes olhos tímidos que olham pra baixo quando sorri e um cabelo louro e todo encaracolado, não pude separar a imagem dele da do ator que interpreta o profeta naquela novela daquela emissora. Ele fica todo ruborizado com as brincadeiras de Guto que de tímido coisa alguma guarda. “Claudinho, tudo bem? Vamos lá?” Disse-me André ao chegar. “Tudo bem, com você, cara, com está?” Completou.
Ele anda meio triste nesses dias, pois fiquei sabendo que sua noiva desmanchou o noivado que havia tempos se arrastava, sei que na verdade ela o traíra com um amigo de trabalho, mas não comento, apenas ouço o que Guto deixa escapar e me faço de surdo, como na verdade convém. Tenho certa pena, André é um rapaz excepcional, trabalhador e estudioso, delicado, mas não se sabe o que passa com o coração, não posso julgar mal a sua ex-noiva, dela não sei e tampouco no coração dela estou para saber quais motivos a levaram a tal conduta, afinal já ouvi um ditado popular que diz “coração dos outros é terra onde ninguém pisa”.
Ele guia com uma prudência que contrasta com o jeito aventureiro que beira a irresponsabilidade de Guto. Viajaríamos no carro dele e imaginei com nos acomodariam todos lá, é um Ford Ka e os meninos são grandes, mas pensei que encontraríamos uma solução razoável. Ele me deixou na faculdade e nos despedimos combinando para as 23h, nos encontrarmos no apartamento do Guto.
Pensei ser estranho viajar na madrugada, mas segundo eles é o melhor horário, e ademais queriam amanhecer por lá para aproveitar todo o sábado. Bom, se assim querem, pensei não haver problemas. A aula foi leve, rápida e num piscar de olhos estava de volta ao estacionamento onde Marcelo e Guto já me esperavam no carro do Guto que estava no banco do carona. “Coelhinho estudioso demais disse Guto sorrindo completou sorrindo: e completou: “Sua mãe não quer dar você pré mim não?” e me deu o banco da frente para ir junto a Marcelo que me fez um carinho na cabeça; Guto do banco de atrás me enlaçou com os braços o pescoço e viemos conversando.
Já estou acostumado com esse modo carinhoso deles, tenho aprendido a tocar sem receios e as vezes me recinto do fato de haver sido criado em uma família onde o abraço só era dado, de forma tímida, em velórios. Marcelo me contou como foi o dia e Guto emendava comentários sobre de como eles deveriam trocar o cabeamento da intranet da empresa de Marcelo. Chegamos à minha casa e subimos para eu apanhar minhas coisas. Guto logo se sentiu à vontade e abraçou minha mãe e a meu pai chamado-os de tio e tia, às vezes queria ser dado como ele, mas charme é próprio de cada um e cada um tem o seu, mas certamente o de Guto é de cunho interpessoal, talvez isso explique seu sucesso junto às mulheres e no trabalho.
Marcelo é tão simpático quanto, embora seja ligeiramente mais contido. Depois de todas as recomendações de minha mãe ouvi o clássico ”não esqueça da camisinha!“do meu pai, que Guto, Marcelo e eu completamos junto com ele em coro e rimos depois, minha mãe como sempre o repreendeu dizendo que éramos rapazes de família e aquilo é coisa de moço desajuizado (queria ter coragem par questionar minha mãe quanto ao significado da palavra juízo, na sua concepção, mas não fui criado para questionar dogmas).
Meus pais talvez iriam visitar minha tia Hortência neste feriado. Bom, seguimos para casa de Marcelo onde apanhamos as coisas dele e seguimos para o edifício onde Guto mora. O carro de Guto que estava com o IPVA atrasado, por displicência dele como ele próprio diz, Começamos a beber na varanda do apartamento enquanto esperávamos, Guto fez tocava aquela música da Marisa monte “não é fácil” ele adora e eu também. Estava olhando para o céu perdido em meus pensamentos e nem percebi que Marcelo me olhava . “Olhando o céu?” Ele perguntou ao que respondi sorrindo que sim. “Você adora a Mariza não?” ele me perguntou enquanto me abraçava a cintura por trás. Eu respondi que sim. “Você está feliz?” Marcelo me perguntou e respondi que sim enquanto nos mexíamos como que dançando juntos.
Guto abraçou Marcelo por trás e disse imitando voz de criança “Eu também estou feliz” Conversamos e rimos muito, Guto é uma figura e é uma festa estar ao lado dele, Marcelo cantou umas coisas ao violão , mas começamos a perceber que André se demorava. Com quase duas horas e meia de atraso, percebemos que algo havia ocorrido. O telefone dele estava sem carga e nos preocupamos, mas logo em seguida descobrimos que um pneu furou no caminho e ele estava sem estepe daí teve que buscar um lugar para remendar dois no meio da noite, foi uma confusão; conseguimos contato com ele e durante esse tempo de espera perguntei a Guto se podia verificar minha caixa de e-mails “Claro, meu coelhinho; na casa do Gutão você pode tudo”.
Guto respondeu com aquele jeito conquistador que faz pra tudo quanto há de mulher e para alguns caras também, já percebi. Guto mora só faz um ano e sua casa é para os amigos um lugar de pleno relaxamento e liberdade; as festinhas na casa dele são famosas. “Está esperando algo de alguém” perguntou Marcelo perguntou fazendo uma carinha de desconfiado e sorrindo, mas logo após completou dizendo: “Brincadeirinha, coelhinho da sorte, vai lá”.
Fui até o computador de Guto que fica no quarto para ver minha caixa do gmail, aquele e-mail de Luiza me incomodava, mas novamente não quis lê-lo. E dei uma olhada em outras coisas e acabei abrindo meu perfil no orkut e li alguns conselhos que vocês deixaram para mim, mas tomei o cuidado de apagar o histórico. Bem, pouco depois Andrezinho chegou, se desculpou e explicou a situação, Guto, como não podia deixar de ser zuou com a cara dele. Embarcamos e tivemos que fazer certo malabarismo com as mochilas, mas coubemos nós quatro direitinho, André e Guto na frente, Marcelo e eu atrás.
Viajar a noite é coisa nova para mim, mas procurei curtir. Abrimos mais algumas garrafas de Orloff Ice contamos algumas piadas e cantamos, bem alto ao estilo da turma do Marcelo; diversão. Eu já um pouco alto ouvi de Guto “Esse vai ser o feriado”, “Vai ser perfeito” Marcelo completou e me passou o braço por sobre meus ombros perguntando no meu ouvido se eu não estava sentindo frio. Adorei estar abraçado com ele, ali juntinho, estava gostando de estarmos na companhia de André e Guto que são fantásticos e animados.
A certa altura do caminho, coisa de duas horas depois de havermos deixado a casa de Guto, eu me sentia sonolento quando André pôs um cd romântico; já nos primeiros acordes o Guto soltou um uivo e uma gargalhada dizendo “Meu Deus, isso é bom demais, vem cá Andrezinho tô precisando beijar alguém” e deu uma risada e um beijo no rosto do André que o afastou dizendo “sai daqui seu tarado” e ambos riram juntos. André é um dos caras mais românticos que conheço e ele gravou Fonte da saudade, Paixão e Nem pensar do Kleiton e Kledir em seguida Pessoa na voz da Marina. Muito romântico,. Marcelo vendo que eu estava sonolento perguntou-me “Você não tem o costume de viajar a noite não é coelhinho? Dorme um pouco, põe a cabeça no meu colo” e completou me fazendo um cafuné.
Eu deite no colo dele e encolhi as pernas para poder deitar no banco, ficamos conversando eu com a cabeça no colo dele olhando para cima, para seu rosto e ele olhado para baixo, para o meu, naquele momento eu me senti tão próximo de Marcelo, tão dele que acho que nem sei lá. Fechei os olhos e em me permitir curti aquele momento. Senti o cheirinho de Marcelo e ouvia as vozes de Guto, André e Marcelo cantando a canção Paixão da dupla Kleiton e Kledir. Dormi no colo de Marcelo e acho que foi o sono mais gostoso que já tive.
Devo ter cochilado por meia hora quando então despertei, haviamos parado num posto de gasolina não sei onde ao certo. Gosto de viajar e parar em lugares no meio do nada, é um prazer à parte. “Vem descer comigo um pouquinho, Claudinho” Guto falou baixinho pra mim que me espreguiçava naquele colo quente. Descemos Marcelo e eu ele foi ao banheiro, eu tomei algumas informações, descemos o lixo, compramos mais algumas garrafas e retomamos a estrada. Guto guiava agora para revezar com André . Como Marcelo seria o próximo a dirigir disse que dormiria um pouco, mas seu 1,95m não permitiram muito conforto. Eu disse a ele que ele podia por a cabeça no meu colo pra ficar mais esticado ele deitou a cabeça no meu e me agradeceu com um beijo na minha barriga.
Fiquei fazendo carinho nos cabelos dele que logo dormiu, enquanto eu fazia um cafuné nos seus cabelos (cafuné já ficou comum entre nós) Enquanto contemplava a estrada à noite conversei um pouco com André e observávamos a estrada que estava um breu só. A certa altura Guto disse que estava ficando sonolento e perguntou se Marcelo estava acordado e o próprio Marcelo respondeu que sim daí paramos e eles trocaram, Guto estava meio destroçado e automaticamente pôs a cabeça no meu colo e não tardou a dormir abraçado a minha cintura, meio que como uma criança. Acho que 20min depois disso Marcelo notou que André e Guto dormiam e disse: “Coelhinho, conversa um pouco comigo pra eu não cochilar.
“Vocês todos deveriam viajar durante o dia porque são todos uns dorminhocos” eu disse em tom de brincadeira, Marcelo riu, concordou, mas disse que a noite era mais gostoso e não fazia calor. Fiquei conversando com ele e quando era por volta das 4h chegamos ao local onde armaríamos acampamento. Todos acordaram meio que amassados e encostamos o carro ligamos o alarme. Armamos a barraca colada ao carro, enchemos os dois colchões infláveis um de solteiro e o outro de casal que juntos cobriam todo o chão da barraca, tiramos os sapatos e Marcelo apanhou a pistola que levara; tenho receio de armas mas quando ele viu que fiquei meio assustado ele disse que não era pra ficar com medo e pediu desculpas.
Deitamos para dormir, Marcelo ao meu lado Guto atrás de Marcelo e André na outra ponta. “Vê se não me amassa viu Marcelo” disse Guto zoando com Marcelo que prometeu ficar quieto. Quando deitamos ele me falou baixinho: “eu só trouxe a arma em caso de extrema necessidade, não fica com medo não, coelhinho, não vai acontecer nada,ok? Você está comigo” eu respondi com um sorriso.
Não demoramos nada para dormir e durante aquele sono picado lembro de ter virado de costas para ele que me abraçou pela cintura e me deu um beijo na nuca, como estávamos muito cansados continuamos dormindo. Mas lembro de ter sentido Marcelo me apertar mais forte durante o sono e jogar a perna sobre mim, eu achei muito gostoso sentir o peso de sua perna sobre mim me cheguei mais a ele que reagiu me abraçando mais, mesmo estando dormindo, senti que ele estava excitado. O frio apertou e nós quatro nos abraçamos mais ainda. Assim passamos a noite.
Quando acordei havia virado e era eu quem estava abraçado a Marcelo que estava de costas pra mim. Eu estava com a pena sobre ele e quando abri os olhos logo identifiquei aqueles pontinhos nas costas de Marcelo (Sim, ele tem uns pontinhos de sarda nas costas, não são muitos só o suficiente para amar a cada um deles). Esse ato simples de acordar ao lado dele, abraçado a ele e sentir o seu cheiro pela manhã é, para mim, uma das coisas mais maravilhosas que eu poderia em vida desejar. Ouvi um sorriso e em seguida: “Você também se vira a noite inteira, coelhinho” disse Marcelo se virando para mim e sorrindo um bom dia de lírios.
Fiquei meio envergonhado e ele, ao notar, brincou com o indicador no meu nariz dizendo que também se vira durante a noite inteira e que agora éramos dois contra um, o Guto que vive reclamando disso que se cuide. Guto e Andrezinho já haviam levantado e haviam saído para dar uma olhada à volta. Marcelo apoiou sua cebeça em uma das mãos e guardou a outra sob a axíla contrária. Ficou olhando pra mim, parecia estudar meu rosto e isto me deixou sem jeito, mas como era bom estar ali sentindo o cheiro dele, e a proximidade do seu corpo. “O que você está olhando?” interrompi assim sua observação. “Você fica diferente quando sua barba começa a crescer” ele respondeu. “Diferente é bom ou ruin?”
Perguntei incerto do que dizia. Ele passou as costas da mão no meu rosto percorrendo minha barba como que querendo conhecê-la, sentir sua textura. “Ela é macia e o pelo é cumprido, acho que a minha é mais dura, compare” disse ele pegando minha mão e passando no rosto dele. O Maxilar de Marcelo é projetado e anguloso, sua barba é grossa e cheia,mas tão macia quanto a minha, toquei seus lábios ao passar a mão espalmada por seu rosto enquanto estudava sua face e me perdia entre os pelos avermelhados, acho que nunca jamais toquei queixo mais rijo.
Ouvi a voz de Guto que se aproximava e André que parecia segui-lo. Não sei porque levantei, mas fui contido por Marcelo que me puxou para baixo e começou a fazer cócegas “Guerra de Cócegas” gritou ele; Guto entrou e começou a fazer cócegas em Marcelo que gritava “Socorro coelhinho”, essa brincadeira deles dura desde a infância e Guto, ao que parece sempre ganha. “Vocês parecem adolescentes, duas crianças” disse André rindo, e completou dizendo “vamos tomar uma atitude adulta” e começou a fazer cócegas em Guto que pediu arrego.
Acho que a convivência com eles está me deixando mais infantil, no bom sentido da palavra. Gosto das brincadeiras inocentes que ainda há entre esses primos. Gosto de céu na boca, comer morango com a mão e apertar companhia e sair correndo, são coisas que me recordo quando brincamos juntos. “Pra fora, vai fazer o café pra gente, Marcelo” Gritou Guto a Marcelo que respondeu “porque eu?”. “Porque você é quem melhor cozinha por aqui” respondeu Guto apoiado por André.
Enquanto Marcelo cozia Guto e André me disseram que havia mais cinco barracas a pouco mais de cem metros de nós e que era uma galera grande, coisa de umas trinta pessoas mais ou menos Guto já havia até feito contato com umas garotas segundo André. Depois do café, que estava ótimo, (acho que Marcelo tem o secreto intento de engordar o mundo, tudo que ele faz fica muito bom) buscamos uma parede para descer. Caminhada meio dura de hora e inteira sob o sol. Paramos Marcelo e eu, Guto e André seguiram rompendo caminho mais adiante. “Acho melhor passar mais protetor solar Marcelo” disse a ele que estava com a pele toda avermelhada. “Você passa em mim”, “Claro que sim” respondi devolvendo aquele sorriso simpático.
Ele tirou a camisa e espalhei o gel protetor sobre suas costas e pescoço. Marcelo quis esconder, mas não era só aparente a satisfação que ele sentia, Ele pediu pra eu passas em seu tórax porque queria tirar a camisa por causa do calor. Ele me olhava pra mim, arfava o peito e respirava forte pela boca enquanto eu tentava esconder que aquele era um dos momentos que mais me prenderam. Absorto na textura macia da pele de Marcelo encontrei o real significado da palavra desejo, não o simples que já conheço, mas um que se mesclava ao cheiro de suor e protetor solar que se desprendia dos seus mamilos rosados.
Aquele segundo e meio durou uma eternidade e um calafrio quente correu pelo meu corpo. Seu sorriso era pleno de satisfação e sorvi seu hálito em uma comunhão estranha de querer e receio. Despertei abruptamente ao ouvimos o: “ Rôôôôppííí, vambora galera!!!”de Guto que estava mais a diante uns cinqüenta metros metros talvez. Já havia me virando e abandonando o que fazia obedecendo ao chamado de Guto quando senti a mão de Marcelo no meu ombro que mais carinho fazia do que se apoiava em mim. Caminhamos por mais uns trinta minutos até encontrarmos uma cachoeira com um paredão legal pra gente descer. O sol estava inclemente e o calor fez tirarmos quase toda a roupa, Marcelo preferiu permanecer só de bermuda.
Então ele pôs o equipamento em mim e fez um milhão de recomendações, parecia até um pai dizendo ao filho como se portar no primeiro dia de aula. Descemos sem problema algum, essa parede não tinha mais que 40m e lá embaixo havia um prêmio, um laguinho que a cachoeira formava. Alguém duvida que mergulhamos feito desesperados naquela água deliciosa? Hahahahaha! Bom, daí aproveitamos o resto da tarde e concordamos que depois de uma caminhada longa de sei lá quanto tempo, merecíamos voltar sob o sol fraquinho da tarde. Dividimos o lanche que levamos entre nós, chocolate, sanduíche, mate, que a essa altura já não mais estava gelado e refrigerante.
Estivemos horas largateando ao sol e tomando banho naquele lugar que parecia um pedaço do paraíso; isolado e sem ruídos senão o do vento e dos pássaros que por perto lá estavam. À tardinha resolvemos retornar à barraca. Com o anoitecer acendemos uma fogueira e Marcelo, quando chegamos, logo preparou um lanche ótimo, estávamos famintos, acho que o mato faz isso na gente. Depois de comermos ouvimos que estava rolando um trance legal no acampamento da galera que esta mais a diante. Resolvemos ir lá fazer uma visita, pois segundo Guto já nos haviam convidado de manhã.”Acho que vou de jaqueta porque já está frio” Disse Marcelo.
Parecia ser uma galera legal e na maioria era gente da nossa idade. Eles haviam levado muita bebida e havia muito churrasco, o som estava, como diz o Guto “irado”. E por falar em Guto, não demorou muito para ele sumir com uma garota, depois eu o ví com outra; contei seis, mas André no dia seguinte me informaria o total de oito. Bom André também se arranjou com uma morena muito bonita e restamos Marcelo e eu sentados um ao lado do outro. Marcelo foi muito assediado, algumas vezes até de forma grosseira, havia umas três garotas que já estavam muito altas que insistiram muito e de forma muito agressiva o que deixou Marcelo visivelmente chateado.
Eu me levantei para ir buscar uma cerveja para mim e outra para Marcelo atrás de uma barraca e quando lá cheguei o Guto estava conversado com duas garotas em uma situação um tanto, diferente, ambas pareciam muito disposta a “aquece-lo”. Guto conversou um pouco comigo, recordo daquela sua voz pastosa, ele já havia bebido muito...
Uma terceira garota se aproximou e ostensivamente me cantou, tentei me fazer de desentendido, mas vocês devem saber como mulher é não? Quando elas querem passam a mão na gente, mas quando o homem passa é assédio. Resultado disso é que ela me beijou a força. Isso só pelo asco que tenho em relação a beijar uma mulher já seria ruim, mas o pior era que Guto já se havia evadido com suas duas singelas companhias e assim que essa garota terminou de me beijar, vejo Marcelo me observando; ele havia saído em minha busca, talvez não tenha eu prestado atenção que já estava longe dele havia certo tempo.
A garota colocou um preservativo em meu bolso e Marcelo viu isso também. Ele não ficou muito tempo lá e logo o vi se afastar, me pareceu visivelmente aborrecido. Quando me desvencilhei daquela garota insistente que fedia a um perfume doce, já não mais encontrei Marcelo onde o havia deixado, Procurei por não sei quanto tempo de um lado para outro, perguntei a Guto e a André que não souberam me dizer nem poderiam, estavam “ocupados” em outras atividades. André reclamava do frio da madrugada, mas de Marcelo nada sabia. Morri por dentro e lamentei mil vezes haver levantado para buscar aquela cerveja. Marcelo exitou um pouco antes de aceitarmos o convite de Guto, antes tivéssemos ficado em nossa barraca.
Fiquei muito aborrecido, muito triste e me sentei perto da fogueira tentando disfarçar um pouco. Acho que nunca odiei tanto uma mulher quanto odiei aquela garota. O que senti era um misto de raiva dela e de mim mesmo; devia tê-la empurrado e corrido para ver como Marcelo estava. O que estaria ele pensando agora? Conhecem a sensação de haver feito tudo errado e sentir o pior dos piores? Foi isso que senti. Tudo havia corrido tão bem naquele sábado e a madrugada do domingo era isso então? Resolvi voltar para nossa barraca.
Antes de sair a mesma garota que me criou o mal-estar se aproximou e me pediu pra servi-la um pouco que caldo sei lá do que que estava numa mesa atrás de nós. Cego pelo ódio como eu estava passei a mão num vidro de pimenta enchi um copo e entreguei a ela, saí sem virar as costas; ela deve ter virado o copo de uma só vez na boca, comportamento próprio de uma primitiva como ela além do fato de ela estar muito bêbada. Não me virei para ver apenas ouvi quando ela quase sufocou e suas amigas a socorreram. Aquela, *, deixa pra lá.
Marchei em direção à nossa barraca, não deveríamos ter saído de lá. Mas, ao passar pela última barraca do acampamento daquelas oferecidas não acreditei no que vi, não sei se por conta do quanto havia bebido ou pela tristeza ou ainda pelo ódio... não sei o que foi, mas na penumbra vi o contorno de um casal que se beijava atrás de uma árvore, próxima a última barraca e a um carro, não pude ver ao certo de quem se tratava, mas sobre o carro que esta próximo ao casal e bem iluminado pela lua identifiquei uma jaqueta surrada de couro marrom. Ela tinha a bandeira norte-americana no ombro e era sem sombra de dúvidas a jaqueta que uma vez Marcelo, com todo cuidado me emprestou para que eu não ficasse resfriado.
Ele há havia trazido dos Estados Unidos ao voltar do intercâmbio havia alguns anos e tinha um carinho especial por ela. Senti um misto de desespero e dor que jamais havia provado. Então aquele cara agarrando uma daquelas oferecidas era ele? Meu coração se desfez em mil pedaços e doeu com que se um punhal houvesse sido cravado nas minhas costas. Dor para além do que conhecia se espalhou pelo meu corpo e senti vontade de morrer. Amaldiçoei o mundo e naquele momento me vi num vale de lágrimas comecei a chorar compulsivamente e não conseguia parar de olhar aquela cena que me parecia tão obscena, triste.
Como Marcelo pôde fazer aquilo sem ter me dado a chance de poder explicar? Como pôde ser tão biltre? Porquê, Meu Deus? Se aquilo era sua vingança ele havia me ferido de morte, aquilo me destruiu. Santo Cristo, porque vivi para ver aquilo? Eu não sabia o que dizer tampouco se devia dizer. Procurei em vão minhas pernas que nada me responderam, estava gelado por dentro e tremia. Lembrei de cada momento que estive com Marcelo, sua atenção, às vezes em que sorrimos juntos e de como gostava do som da sua voz. O ar gelado da noite me quebrava o esqueleto e tudo pareceu tingido de negro.
Mergulhei no martírio dos traídos. O que havia me restado? Procurei voltar a mim e segui caminho para a nossa barraca que parecia estar a muitos quilômetros. Sentei em uma pedra no meio do caminho para me recompor, estava tonto, desapontado, trazia um travo de amargura na boca, não sei direito o que sentia. “Luiza, acho que paguei por haver traído você!” Pensei. Pedi perdão a ela e me senti um inseto sujo por ter me deixado envolver por tudo aquilo, mas entendi que não deveria sentir mágoa de Marcelo, ele a mim nada devia, nada de certo existia entre nós para além de amizade. Como pude ser tão ingênuo, como pude pular de cabeça no escuro sem saber se havia água na piscina? “Cláudio, você é um monte de lixo” pensei.
Eu me senti tão sozinho quanto no dia em que meus pais me contaram que eu era adotado aos oito anos de idade. Pensei jamais voltar a senti tamanho sentimento de abandono e tristeza. Fiquei oco e imaginei com deveria tratar Marcelo de ora em diante. Desejei que Luiza jamais houvesse embarcado para BH. Estava ferido de morte e me entreguei a dor. A certa altura minha cabeça manifestava um dor infernal, a música me atravessava à carne e quis o silêncio das línguas cansadas. Juntei o que sobrou de mim e pensei ser melhor continuar o trajeto até a barraca, afinal, como explicar aquele comportamento. Pareceria ridículo aos olhos de André e Gustavo, a Marcelo então, acho que tão somente o divertiria, mas não seria fácil.
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É gente, nem tudo parece que a gente quer né? Espero que vocês gostem...