Obrigado por todos so comentários.... para mim é uma verdadeira honra!
O coração de Priscila Soares naquela ensolarada manhã estava totalmente despedaçado. A única vez que ela ficou tão abalada com a morte de um paciente foi quando ela teve seu primeiro óbito quase um ano atrás. No barco, Priscila olhava para o nada e ainda estava com Helena em seu colo. Ela não queria deixar o corpo da criança para trás, já que corria o risco de ela ser enterrada como indigente.
Priscila se desmontou quando enxergou a família que também emocionados esperavam do outro lado. Naquele momento um filme passou pela cabeça de Priscila, de todos aqueles que sua nova personalidade atingiu. Ela pediu perdão aos pais, aos irmãos e principalmente ao noivo. A família estava feliz até que se lembraram de Duarte.
- Ele deve estar bem... – disse Luciana.
- Temos que fazer uma busca. – disse Pedro ao lado de Mauricio.
- Calma, a estrada cedeu... estamos presos aqui, por isso que eles demoraram. – disse Mauricio.
- Eu não aguento! – disse Paula chorando. – Eu perdi um filho e ganhei outro de presente. Eu não posso perder o meu Phelipinho.
- Calma mulher... eles ficaram no sitio devem estar bem. – disse Rodolfo tentando se manter otimista.
- Onde está o meu filhinho?! – gritou a mãe de Duarte.
- Meu Deus... você está bem? – perguntou Paula.
- Sim... querida... onde está o Duarte? Eles conseguiram voltar do sitio? – perguntou.
- Ainda não, mas vamos montar uma busca. – disse Pedro.
- Claro! Eu quero participar também. – disse ela.
- Vamos trocar essa roupa. – disse Paula.
- Oh querida... foi horrível... a empresa onde eu trabalho ficou debaixo d’água. – disse ela chorando e acompanhado Paula.
- Pai... Mauricio... nós temos que ir atrás do Phelip... eu tenho que saber como está o meu irmão.
- Calma amor... tudo vai ficar bem... mas eu preciso ir para o hospital... as pessoas estão chegando em grande número.
- Sim, eu também vou... posso ajudar. – disse Pedro.
- Doutor Mauricio... o senhor pode pedir para um desses moços me levar até em casa? – disse Dora.
- Eu prometi que ia com você... podemos deixar primeiro o Pedro no hospital e nós vamos. – falou Mauricio olhando nos olhos dela.
Pedro ficou no hospital para ajudar nas chamadas de baixa emergência, uma vez que teve treinamento de enfermagem. Mauricio, Dora e dois soldados seguiram para uma área próxima ao hospital. A mulher entrou em desespero e apontava para um local onde havia apenas água.
- Calma! – gritou Mauricio segurando Dora.
- Meus bebês!!!! – ela gritou, querendo se jogar na água.
- Pelo amor de Deus! Calma!!! Dora!!! Calma!!! – ele disse.
- Não!! Seu Mauricio me ajuda... meus filhos!!! Pelo amor de Deus!!! Me ajuda... meus filhinhos estão lá em baixo.... me ajuda!!!! – ela gritou.
- Calma, Dora! – abroçou Mauricio beijando sua empregada. – Calma! Pelo amor de Deus!!
- Me leva!!! Um filho tem que ver a morte dos pais e não ao contrário!!! – ela gritava chorando igual a uma criança.
- Vamos para o hospital. – disse Mauricio para o saldado responsável pelo barco.
- Agora mesmo.
Realmente aquele acontecimento veio para modificar de alguma forma a vida das pessoas. Pedro estava ao lado de Vinicius naquela tarde e ao acordar ele ficou surpreso de vê-lo ali.
- Boa tarde dorminhoco.... – disse Pedro sorrindo.
- Olá? – ele disse sem olhar para o amigo.
- Há algo de errado? – perguntou Pedro.
- Não... não... quer dizer... na verdade tem sim. – ele disse. – Pedro eu sou... eu sou... apaixonado por você... eu sei que isso não é nenhum segredo depois do beijo que eu te dei, mas... eu não quero interferir na nossa amizade.
- Claro... esse é o principal... nós temos um laço agora Vinicius, e eu sou muito grato a você por me fazer lutar pela a minha vida... principalmente nos momentos que eu quis desistir.
- Você também cuidou de mim... foi como dois amigos devem ser... – ele disse.
- Sim... eu tenho que ver se alguém está precisando de mim... – ele disse se aproximando e beijando o rosto de Vinicius... Ahhh... e quando eu cheguei aqui havia um soldado gatissímo olhando para você enquanto dormia. – falou Pedro baixinho. – E ele está de vigia na porta. – concluiu piscando o olho direito e rindo.
- Sério? – perguntou Vinicius arrumando o cabelo.
- Sim... Vinny, eu não sou para você, e não porque você não mereça... pelo contrário... se um dia nós ficássemos seria apenas por prazer... e nós merecemos mais que isso... eu amo o Mauricio e nada pode mudar isso... tenta ver as possibilidades... abre o teu coração... quem sabe o guarda não seja o teu Mauricio?! – ele falou antes de sair.
- Pedro. – disse Vinicius sorrindo. – Obrigado.
- De nada. – ele falou saindo pela porta e olhando para o guarda. – Boa tarde.
- Boa tarde... – disse o saldado se assustando.
Naquele hospital haviam muitos feridos e desabrigados. Aos poucos a ajuda chegava, doações de vários lugares também. Água, alimento e roupas eram artigos necessários para aquelas pessoas. Na empresa, Priscila se recuperava ao lado de Caleb, sua família e amigos. Ela fez uma grande reunião na sala do pai dela.
- Eu queria dizer... que essas últimas semanas eu tenho sido uma idiota... quero pedir desculpas a vocês... foi preciso uma enchente me carregar e me colocar ao lado de uma criança tão cheia de luz, para perceber que o meu comportamento era raiva... raiva de mim por não ter aceitado o meu filho... e raiva por perder ele, pois, no fundo eu estava com um misto de medo e felicidade... eu machuquei muitas pessoas, mas nenhuma delas se comparam a vocês, mãe e pai... e a você também Caleb... – ela disse chorando e abraçando a todos.
- Nós entendemos amor... sabe de uma coisa... eu fiquei furioso quando você anunciou que ia tirar o bebê... odiei você... odiei o mundo, mas o meu amor por você é mais forte que tudo... eu poderia ter agido igual a você, mas se eu não apoiasse a mulher que eu amo que tipo de homem eu seria? – ele perguntou.
- Sim minha filha... você é nova e vai ter quantos filhos quiser.
Eles começaram a ouvir uma gritaria no andar de baixo e foram verificar do que se tratava. Era um homem alto e bonito chorando sobre um lençol que cobria a pequena Helena. Priscila se aproximou e apenas o abraçou e chorou junto a ele. Palavras não seriam suficientes para a dor daquele homem. Priscila sabia muito bem disso... sabia o que era perder um filho.
Duarte se recuperou bem, não tinha mais febre e o gesso já estava começando a coçar. Ele passou o dia pensando na mãe e chorando copiosamente. O médico entrou e fez alguns exames.
- Você está bem... a febre diminuiu... os seus amigos estão aí fora... você quer ver alguém? – perguntou o médico.
- Eu quero ver a Fernanda... você pode chamar ela aqui? – perguntou Duarte.
- Claro. – disse o médico saindo.
Phelip e Fernanda se assustaram quando o médico apareceu. Eles haviam passado alguns minutos procurando um lugar para ficar. Acharam um hotel simples, mas que oferecia tudo aquilo que eles não tinham no momento, um teto e cama confortável.
- Como ele está Doutor? – perguntou Phelip.
- Ele está bem... quer ver a namorada dele... – disse o médico rindo. – Você pode ir lá. – falou enquanto pegava no ombro de Fernanda e a levava para o corredor.
- Mas... o namorado dele sou eu... – disse Phelip baixinho.
Ao entrar no quarto do hospital, Fernanda não conseguiu segurar a emoção, os dois assim como Pedro e Vinicius, estavam ligados por algo muito forte. Ela se deitou na cama e eles choraram por alguns minutos juntos.
- Nós temos que ser fortes. Eles estão bem. – disse Fernanda se alinhado na cama.
- Claro... e...e....
- O Phelip está bem, conseguimos um lugar para ficarmos. Quando você sair vamos te levar. Ele passou a madrugada acordado cuidando de você.
- Eu... me lembro... mas Fernanda o que eles fez comigo... é imperdoável. – disse Duarte.
- Eu entendo que você está chateado... e sei que você o ama... e ele também te ama... eu sou a ex-namorada dele... e estou te falando isso... nunca pensei que fosse, mas estou... o Phelip te ama... ele apenas precisa se encontrar.
- Esse que é o problema, desde que ele não se encontrou eu só me meto em confusão.
- Para ele é algo novo... ele me contou que passou um tempão para vocês ficarem juntos realmente... e o amor de vocês sobreviveu. – disse ela.
- Verdade. Eu também tenho medo... mas quando eu olho nos olhos dele fica tudo claro... tenho medo que ele não veja isso em mim... que eu seja apenas um passatempo nas mãos dele.
Aqueles jovens estavam segurando a barra muito bem. Melhor do que muitas pessoas que se sentiam sufocadas nas lembranças.
- Dora!!! – disse Pedro correndo para ajudar o seu marido.
- Seu Pedro... a minha casa... eu... vou... morrer. – disse ela.
- Segura ela amor. – disse Mauricio correndo.
- Ei... calma... você não vai morrer... eu não vou deixar. – disse Pedro sentando com ela. – Eu não vou abandonar você entendeu? – disse ele se emocioando.
- Porque.... porque comigo seu Pedro!!
- Eu não sei... as coisas simplesmente acontecem... Dora... olha para mim... olha... não importa o que aconteça eu e o Mauricio vamos cuidar de você... estamos aqui para você!! – ele disse a abraçando.
-Eu quero meu filhos!! – disse ela dando. – Aiii! – ela gritou enquanto de surpresa o Mauricio aplicava uma injeção.
- O que foi isso? – perguntou Pedro.
- Eu... eu não aguentava... – disse Mauricio com os olhos vermelhos.
- Seu Pedro... – disse ela apagando.
- Doutor Mauricio – gritou uma enfermeira.
- Eu tenho que ir... leva ela para um quarto. – disse ele saindo.
- Eii... você!! – gritou Pedro para um saldado. – Me ajuda a levar ela para um quarto.
- Sim.. – disse ele.
Pedro tinha muitas qualidades e apesar de frequentar academia não era o homem mais forte do mundo. Ele e saldado tiveram dificuldades em levar Dora para o quarto.
- Me chamo Jean... Tenente Jean Salgado. – ele falou puxando assunto.
- Prazer... Pedro Soares. – disse ele falando com dificuldade.
- Eu meio que ouvi a sua conversa com o Vinicius. – ele falou ficando completamente vermelho.
- Ouviu. – disse Pedro. – Eu sei que deve ser complicado, mas não vou contar nada para ninguém. – disse Pedro com um sorriso forçado.
- Ele gostou de mim? – disse o homem.
- Não sei... você gostou dele? – perguntou Pedro.
- Sim... muito... ele tem um rosto lindo e quando eu troquei a roupa dele... fiquei embasbacado com o corpo que ele tem. – disse Jean.
- Olha só... Jean... estamos numa situação um pouco complicada... assim que tudo isso acabar... nós conversamos. – disse Pedro tentando não parecer mal educado.
- Desculpa.
- Não que é isso... é apenas... você deve estar acostumado com isso... de estar em situações de emergência... eu ainda to um pouco abalado pelo o que aconteceu...
- Tudo bem eu entendo sim. – ele disse rindo.
- Nossa como a Dora é pesada! – disse Pedro com o rosto suado.
- Vamos coloca-la nesse quarto. – disse Jean.
O pai de Helena havia ficado preso em uma estrada e com a ajuda dos saldados conseguiu chegar a cidade. Ele falou que estava desesperado em busca de sua filha mais nova.
- Como foi? – ele disse sentado enquanto tomava um copo de água com açúcar.
- Ele foi eletrocutada por um cabo de força e resistiu bravamente por algumas horas... – disse Priscila chorando.
- Ela sofreu? – perguntou o homem chorando igual a uma criança.
- Eu... eu... posso dizer para o senhor com toda certeza que não... sua filha foi a pessoa mais valente que eu conheci na minha vida. – ela disse enxugando as lágrimas.
- A mãe dela morreu de câncer... ela enfrentou a situação ao meu lado e das irmãs dela. Em nenhum momento ela nos deixou desanimar... a duas semanas, nós descobrimos que ela estava com leucemia... durante os exames e testes ela nunca fraquejou... – disse o homem chorando.
Priscila só sentia vontade de chorar, correu e abraçou o homem novamente.
- Me perdoa... eu poderia ter salvo ela, mas não conseguíamos sair...
- Tudo bem Priscila... eu entendo que você o possível... eu não estou magoado ou chateado com você...
- Priscila... desculpe interromper amor, mas tem um saldado te chamando lá fora. – disse Caleb.
A situação no hospital estava começando a ficar fora de controle. A cada minuto as pessoas começavam a chegar de todos os lugares, alguns em estado grave. Priscila teve que esquecer por completo da última madrugada para se preocupar em salvar vidas. Ao chegar no hospital ela procurou uma pessoa em particular.
- Priscila? Você está bem. – disse Vinicius.
- Oi? – ela perguntou se sentando.
- Que bom que você sobreviveu.
- Depois... de tudo que eu fiz a você, ainda se preocupa comigo? – ela perguntou.
- Nós irlandeses somos assim mesmo... vai se acostumando. – ele disse rindo.
- Eu quero te pedir perdão...
- Não você não precisa... - ele falou.
- Sim... eu preciso. – ela disse segurando na mão dele. – Você é um ser humano incrível... e eu não tenho nada contra você. Me perdoa por cada ofensa que eu te fiz... eu sou uma sem noção.
- Tudo bem. – disse ele a abraçando. – Eu te perdoo.
- Obrigada. – disse ela tendo uma crise de choro.
- Está tudo bem... vai ficar tudo bem. Eu estou ao teu lado também. – ele disse lagrimando.
Eles conversam por mais alguns minutos e Priscila foi ajudar na emergência. Vinicius se sentiu impotente ao ver todos trabalhando duro para salvar vidas. Até mesmo aqueles que não tinham Diploma de médico, como Pedro. Ele se levantou um pouco tonto e foi amparado por Jean.
- Ei... você não pode sair da cama. – disse Jean o segurando.
- Não, eu preciso ajudar os meus amigos... eles não estão dando conta. – ele falou.
- Mas e você... vai conseguir? – ele perguntou.
- Nós irlandeses somos fortes como touros. – ele disse colocando um jaleco.
- Tudo bem... a propósito... me chamo Tenente Salgado, mas você pode me chamar de Jean. – ele disse.
- Sou Vinicius... depois te ensino meu sobre nome... vamos? - ele perguntou se aproximando da porta.
O ser humano pode ser muitas coisas, mas em um momento de dificuldades todos se unem para o bem comum. Brancos, negros, amarelos, heteros e gays esquecendo por um minuto a sua dor, para se concentrar no próximo.
Mãos que são usadas para bater e segurar armas reanimando um coração.
- É dessa forma? – perguntou Jean massageando o peito de uma mulher.
Olhos que estavam com escamas, conseguiam enxergar perfeitamente aquilo que queria ver.
- Preciso de um anti inflamatório para essa menina. – Priscila falou enquanto olhava a garganta de uma adolescente.
Homens fortes e vividos no mundo da medicina abalados com o drama de amigos.
- Preciso de desfibrilador aqui!!! – gritou Mauricio.
Jovens que se uniam para se manter firmes e não desmoronar.
- Eu sei que eu errei, mas eu preciso de vocês. – disse Phelip chorando e se deitando perto de Duarte sendo abraçados pelos os dois.
E aqueles que pensavam que não sobreviveriam.
- Por aqui Senhora! – disse Pedro auxiliando uma idosa.
Realmente... em momento de desespero todos se uniam... e eles iriam precisar dessa união mais do que nunca... uma
vez que as águas abaixariam e relevariam tudo aquilo que eles mais temiam.
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