O sol claro cegava a minha visão, demorei alguns minutos para me acostumar. Levantei, me despreguicei e levantei meio desajeitado limpando a areia no meu corpo. Vi uma pessoa na praia olhando para o mar, sabia quem era, me aproximei e fiquei ao lado dele.
- Não é incrível como voltamos para o mesmo lugar? – meu irmão Paulo falou.
- Hum... eu deveria estar surpreso, mas por algum motivo, eu não estou. – falei rindo.
- E como estão as coisas em casa?
- Pensei que você pudesse ver tudo... – falei me despreguiçando novamente. – Afinal você agora é o Gasparzinho.
- Você superou mesmo a minha partida né? – ele disse olhando para mim.
- Não... pior que não. Você ainda faz muita falta para mim. Mas é a vida, você se foi e eu fiquei, tive que me acostumar sem você, me adaptar a nova realidade. – falei chorando.
- Toda vez que eu te ver agora você vai chorar? – ele perguntou me abraçando.
- Claro... idiota... você morreu. – falei aproveitando o máximo que eu pude o abraço. – Aí Pedro... eu queria tanto, mas tanto poder voltar.
- Eu sei... sabe como... como é difícil saber que eu nunca vou te ver... as vezes acho que você está viajando... e cada dia é uma nova espera.
- Sinto muito... me perdoa por não ter sido forte o suficiente para estar ao seu lado. – ele disse me abraçando mais forte.
- Tudo bem!!! Eu entendo... era o seu momento, mas queria tantos conselhos seus!!!
- Pedro... você tem que seguir o seu coração... em outra vida talvez a gente venha a se juntar... mas agora você por sua própria conta.
- Eu vou ter que acordar agora?
- Se você quiser, podemos nadar um pouco?
- Vamos sim...
- Então o último que chegar na água é mulher do Padre! – ele disse correndo para a água.
- Do Padre? Não poderia ser bombeiro ou policia... seria mais valido para mim. – falei tirando a camisa e correndo em direção ao mar.
Nossa como aquela água estava gostosa, e a brisa batendo no meu rosto. Não haviam problemas, discussões ou ressentimentos. Eu não me divertia tanto assim há muito tempo. Jogávamos água para todos os lados, corremos pro quase toda a extensão da praia. Caímos na areia e eu comecei a chorar.
- O que foi? – perguntou o Paulo.
- Isso é um sonho... porque você aparece apenas para mim? Nunca apareceu para mãe, o pai? E a Priscila?
- Você pode me responder isso também? Quem é que me procura? – ele disse deitando a cabeça no meu peito.
- Eu te amo. – falei beijando a cabeça dele.
- Eu também, mas você sabe o que tem que fazer... – ele disse passando a mão no meu rosto e começou a pressionar.
Quando eu percebi o pé do Phelip estava no meu rosto. Arrumei o meu irmão e deixei ele dormindo, afinal era domingo. Peguei meu filho e passamos o dia abrindo presentes. Ele ficou muito animado, não sabia com qual brincar. Foi a alegria da casa naquele dia. Minha irmã chegou com novidades não muito agradáveis para mim.
- Pedro... eu ouvir dizer nos corredores do hospital que o Mauricio achei um emprego no Rio de Janeiro.
- Como assim... viajar?!
- Não sei... são boatos... Pedro... nós temos que fazer alguma coisa! – ela disse triste.
- Não posso fazer nada... se... se... ele quer continuar a vida dele... o que eu posso fazer?
- Pedro... não deixa a Marcela ganhar... pelo amor de Deus.
- Ontem... eu sonhei com o Paulo.
- De novo?
- Sim... na praia. Acho que eu vou pra lá. Levar o Paulinho para passar o fim de semana.
- Pode ser infelizmente eu não posso ir, tenho que terminar o meu TCC.
Estava na varanda descansando quando o meu irmão chega meio cabisbaixo, senta ao meu lado, cruza as pernas e respira fundo. Perguntei o que estava acontecendo e ele falou que o Duarte não retornava as ligações dele. Pedi para ele ter paciência que apesar de constrangedor aquele acontecimento seria insignificante depois de alguns dias. Falei para ele dos meu planos de ir a praia passar o final de semana.
- Eu posso ir?
- Claro... hum... e se quiser levar o Duarte pode convidar ele.
- Pedro, vamos lá na casa dele comigo? – ele pediu meio sem graça.
- Vamos. – falei. – Deixa eu pegar a chave do carro e pedir da mamãe para cuidar do meu filhote.
Eu não sabia como a casa do Duarte era tão longe. Levamos uns 50 minutos para chegar, ele morava numa parte afastada da cidade, agora entendi porque a mãe dele estava tão preocupada naquele dia no hospital, era muito longe. Não sei como era a logística deles, mas dava trabalho. Pedi para o Phelip se acalmar que eu iria dirigir a conversa. Bati na porta e a mãe dele atendeu, parecia triste.
- Oi tudo bom? – perguntei dando um sorriso forçado.
- Olá... em que poderia te ajudar? – ela perguntou com a porta entre aberta.
- A senhora lembra-se de mim? Do hospital? Eu levei seu filho para dormir na minha casa? E por coincidência ele estudou com o meu irmãozinho.
- Oi dona Leticia. – falou o Phelip.
- É que agora eu estou um pouco ocupado, vocês poderiam voltar outro momento? – ela disse.
- O Duarte está ai? – perguntou o meu irmão.
- Sim está no quarto dele... hum... se vocês quiserem podem entrar... – ela falou.
- Não... a senhora deve estar ocupado. Voltamos outra hora. – falei.
- Não seja bobo. Pode entrar filho o Duarte está no quarto dele.
Entramos e o meu irmão foi direto para o quarto do Duarte. Sentei na mesa e a Leticia começou a preparar algumas coisas em cima da mesa. No andar de cima o meu irmão fez uma surpresa para o Duarte, chegou escondido e colocou as mãos nos olhos dele. O Duarte ficou sem reação e quando começou a tatear o braço do meu irmão não encontrou
outra resposta.
- Phelip?! – disse ele se levantando da cadeira.
- oi... já que você não atendia o telefone eu resolvi passar aqui.
- Eu nem sei o que dizer... eu sinto muito. Mas fiquei morrendo de vergonha do Pedro... do que ele viu.
- Para Duarte o Pedro é gay também... ele já está acostumado em ver homens pelados.
- Eu sei, mas e se ele contou para alguém.
- Jamais... o Pedro mesmo disse que nos ajudaria... por isso eu vim aqui... você gosta de praia?
- Sim...
- Então prepara as tuas melhores sungas... nós vamos para a casa de verão. O Pedro está passando por alguns problemas e vai quer ir no próximo fim de semana para a casa de praia.
- Tenho que pedir da minha mãe.
- O Pedro está lá em baixo conversando com ela. Espero que ele consiga porque eu quero muito ter esse tempo para nós dois.
- Obrigado amor... – ele disse abraçando o meu irmão e se constrangendo.
- hehehe... sem problemas... – disse o meu irmão ficando vermelho.
Aquele abraço significava uma batalha na vida do Phelip, nós ainda enfrentaríamos muitos problemas por causa dessa relação. Mas no que eu pudesse ajudar eu faria. Na cozinha, eu e a Leticia conversávamos sobre trivialidades. O tempo, preço da cesta básica e afins foram os tópicos que nós discutimos. Até que ela veio com uma facada no meu coração.
- Você e aquele doutor Mauricio formas um belo casal.
- Oi? – perguntei fingindo que não estava entendendo.
- Tudo bem... eu seu que você é homossexual... e também sei que o meu filho é... mas tenho medo. O meu marido é muito violento... E eu temo pela segurança do meu filho. Ele me contou do relacionamento que está tendo com o teu irmão. Como se diz né... não adianta prender, que eles fogem. Então dei esse voto de confiança para os dois.
- Tudo bem... é sobre isso que eu vim lhe procurar... eu também fiquei muito preocupado no inicio, mas lhe asseguro que assim como eu, o meu irmão é um rapaz honesto e descente.
- Não tenho dúvidas, depois do que você fez. Não é qualquer um que dá carona para um adolescente que não conhece.
- Leticia esse fim de semana eu e a minha família vamos fazer uma viagem para a nossa casa de praia fica no litoral e nós gostaríamos que o Duarte fosse... claro se a senhora e seu marido permitirem.
- Hummm... não sei.... tenho que falar com o meu esposo.
Saímos no final da tarde, passamos na pizzaria para comprar a nossa janta e fomos para casa. Eu ainda não havia esquecido o que a Priscila havia me contando. Seria o Mauricio capaz de deixar o filho dele e viajar para outra cidade?
Eu resolvi ligar para ele, mas perdi a coragem quando eu vi uma foto nossa no meu celular, meu coração ficou apertado e eu lancei para longe o aparelho. Fui para o meu quarto e comecei a ver álbuns antigos da minha família.
Como éramos felizes naquela época, no final do álbum havia algumas fotos nossas que tiramos meses antes do meu irmão falecer. Eu, ele, o Mauricio, a Luciana e a Priscila. Nossa como as coisas mudaram em um ano. Adormeci olhando as fotos.
No hospital eu continuava a fazer os trabalhos publicitários, a minha equipe me apoiou muito naqueles meses de dificuldades, mas sempre me relatavam tudo o que acontecia. Eu tinha uma reunião com o Doutor Emanuel para mostrar os novos folders do hospital e quando eu fico em frente ao Elevador o Mauricio chega.
- Boa tarde...
- Oi...
- Então... – falamos os dois juntos.
- Pode falar. – disse abaixando a cabeça.
- Recebi outra carta do advogado... eles são rápidos né? – ele disse dando um riso forçado.
- É... ei... eu soube que você aceitou um emprego no Rio de Janeiro?
- Nossa as coisas correm nesse hospital. – ele disse rindo. – Mas eu estou visando umas propostas... – ele disse quando o elevador se abriu e entramos.
- Mas que bom...
- Pedro... vamos parar de cinismo... eu te amo... e você me ama... eu não vou conseguir viver sem meus filhos e eu não vou conseguir te enfrentar no tribunal, falei para o meu advogado que eu assino o que for preciso... se isso te deixar feliz. Você me tirou tudo... seu amor, quer me tirar o Paulinho e até os dois que ainda não nasceram, você não pode fazer isso comigo. E sim, eu estou aceitando uma proposta, porque, não vou conseguir sem vocês, então preciso me afastar. – ele disse saindo do elevador.
- Então... se você quiser... pode ficar com o Paulinho esse fim de semana. – falei olhando para o chão. – falei segurando a porta do elevador.
- Claro... eu pego ele com a sua mãe. – ele disse antes de virar as costas.
Eu estava acabado. Estava ansioso para o final de semana. Precisava de um tempo só para mim. Os advogados cuidariam do processo de divorcio. Eu estava completamente cego... e isso poderia me custar um preço muito alto.
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