Marcamos num bar com muitas mesinhas, muito movimento e pouca iluminação. Vários casais, alguns pequenos grupos. Um dia antes do encontro ele me enviou uma foto da cadeira onde queria que eu sentasse. Combinamos um pouco antes do horário de maior movimento.
Cheguei, a mesa estava vazia. Sentei-me onde a foto indicava, de costas para a entrada. O garçom veio, entregou-me um envelope e abriu uma garrafa de vinho. Encheu minha taça e outra mais, que colocou na frente da outra cadeira, ainda vazia.
Numa mistura de nervosismo e excitação, abro o envelope e começo a ler o bilhete que dentro havia. "Lorena. Nossas conversas anônimas pela internet me fizeram pelo menos duas grandes revelações. A primeira delas, você já sabe - tenho um tesão quase incontrolável por você. Certamente essa taça de vinho a sua frente vai me fazer perder o controle."
"A segunda revelação... na verdade era o objetivo inicial do meu contato contigo. As inconfidências que fizemos, protegidos pelo anonimato da rede acabaram me confirmando uma grande suspeita."
"A situação que se cria e o futuro do meu noivado serão decididos por ti, essa noite. Em quinze minutos vou chegar e sentar-me a sua frente, conforme combinamos. Mesmo assim, você ficará certamente surpresa. Por favor não diga nada. Após me sentar, vou esperar alguns minutos, te olhando. Então, levantarei a taça e oferecerei um brinde."
"Caberá a ti escolher se aceita."
"Aceitando, teremos uma grande noite e você ainda salva o meu noivado. Recusando, o nosso segredo se acaba."
Confusão. Excitação. Confusão. Confesso que não entendi aquele bilhete. Como assim grande noite e salvar o noivado? Eu e ele somos noivos. Nosso encontro é uma obra do acaso. Um capricho da internet que ambos soubemos aproveitar ao extremo. Ao menos até aqui...
A que inconfidências será que ele se refere? Foram tantas... Falei da minha vida sexual, com meu noivo, falei das minhas puladas de cerca enquanto éramos namorados, falei dos meus desejos secretos por outros homens, inclusive namorados de minhas amigas. Falei das histórias secretas das mulheres. Do meu grupo mais íntimo. Das amigas caretas, das mais safadas, das mais discretas. Porém, jamais citei nomes! Inclusive meu próprio, apenas o primeiro nome. Não dei referências pessoais que pudessem me identificar...
Que tipo de revelação uma inconfidência minha pode ter causado... Essa dúvida me atordoou e aumentou minha curiosidade em conhecê-lo pessoalmente. Meu tesão foi às alturas. Comecei a relembrar todas as sacanagens que conversamos pela internet. Todas as vantagens de fazer sexo por sexo, pois ambos já éramos comprometidos e decididos a casar. Será que ele se apaixonara por mim? Será que eu me apaixonaria por ele e acabaria estragando tudo? Difícil... nossas conversas eram sexo puro. Um grau de sacanagem tão grande e umas inconfidências tão chocantes que seria mesmo inviável que ficássemos juntos. E aquela frase... "Aceitando, teremos uma grande noite e você ainda salva o meu noivado." Se ele estivesse apaixonado por mim, ao aceitar, eu acabaria com o seu noivado, ao invés de o salvar. As coisas não estavam fazendo muito sentido.
O tempo estava parecendo uma eternidade, até duas mãos pesadas em meus ombros fizeram o relógio parar. Tontura. Fecho os olhos e o deixo me massagear. Era como havíamos combinado. Aquela massagem me exponenciava o tesão. Relaxei na cadeira. Permancei de olhos fechados. A massagem parou. Escutei-o sentando-se.
Esperei um pouco mais e abri os olhos. Na minha frente, a grande surpresa. Era o noivo de minha amiga. Minhas inconfidências se tornaram claras. O noivo que minha amiga traiu enquanto namoravam. O namorado da minha amiga pelo qual eu sentia tesão. Era ele. Bem ali na minha frente, segurando a taça de vinho à altura dos meus olhos e me oferecendo um brinde.
"Aceitando, teremos uma grande noite e você ainda salva o meu noivado. Recusando, o nosso segredo se acaba."
Aceitando teríamos uma noite inesquecível que eu já fantasiava há alguns anos. O salvamento do seu noivado seria então através de um pequeno ato de vingança... Nessa hora não pude deixar de escapar um sorriso sarcástico.
Recusando, o segredo se acaba. Será que as inconfidências viriam à tona? Ele certamente terminaria o noivado e contaria o motivo. Por consequência, meu próprio noivado também ficaria ameaçado.
Essa pequena ameaça me deixou emputecida. Tive vontade de levantar e sair imediatamente. Porém, abaixei a cabeça, fechei os olhos e respirei fundo... A sensação de haver sido manipulada me irritava. Porém... também me excitava. Durante alguns segundos, em minha cabeça, irritação e tesão mediam forças.
Abri os olhos, segurei o pé da taça de vinho. Tomei coragem e olhei nos olhos dele. Entre nossos olhares, a taça dele estendida à espera de um brinde. Em minha cabeça, a decisão se fez clara...
