Travesti (1/1000)
Sou o segundo filho dos meus pais que se separaram logo depois que nasci. Eles casaram-se novamente e tiveram outros filhos. Passei a morar com meus tios que também tem 3 filhos. Duas meninas e um rapaz, o maior.
Tenho contato com meus pais e meus outros irmãos, mas, eu percebo que eles não gostam muito que eu os procure. Não entendia por que. Hoje já sei a razão. Pelo meu jeito afeminado, todas as pessoas me olhavam de uma forma diferente. Dava para notar que o tratamento não era igual ao dispensado às outras crianças. Se a atitude não era fria, era carinhosa demais, me dando até enjoo.
Com o tempo, os moleques da vizinhança e da escola me provocavam e me ofendiam dizendo coisas desagradáveis. As vezes eu escutava os comentários de que eu era um viadinho, delicado. Me incomodava muito isso. Não gostava de ser chamada assim.
Conheci outro garoto parecido comigo, só que mais velho. Foi com ele que entendi certas coisas. Ele me explicou que a gente era diferente dos outros meninos. Podia ser alguma coisa do nascimento: a gente tinha um pouco de menina misturado com menino, então, isso tinha que ser aceito. Pela gente e por todos.
Esse garoto que chamava-se José Carlos, era chamado por alguns meninos como Tatiane. Conforme viram que fiz amizade com ele, passaram a chamar-me de Vanessa e depois de Vanessinha, já que era franzino e delicado.
Ficava furioso com essa brincadeira. Ainda mais, que as vezes até outras pessoas me chamavam assim também. Não estava gostando nada de ser reconhecido como um "viadinho". Estava muito infeliz com tudo isso.
Um dia, li em uma revista uma história que ajudou-me a entender muita coisa sobre mim.
Era a história de uma travesti: ela contava como tinha se tornado uma travesti.
Foi chocante. De certa forma, a história dela se parecia com a minha. A diferença é que ela havia sido seduzida por um cara, um filho do inquilino de seu pai. Com ele, ela descobriu o sexo e sua vocação para servir os homens.
Pensei muito sobre aquilo e perguntei à Tatiane se ela já tinha se envolvido com alguém. Ainda não tinha muita intimidade e ela se retraía pela nossa diferença de idade. Mesmo assim, me contou que sim. Que já fazia algumas coisas que as mulheres fazem para os homens. Perguntei-lhe o que, por exemplo ?
Depois de enrolar ela abriu o jogo: masturbava garotos e fazia boquetes. E mais, eles ainda estavam lhe pagando por isso. Ela até já usava esse dinheiro para comprar coisas de mulher, usava à noite, escondida da família. Alguns dias depois desse papo, Tatiane mudou-se da vila.
Comecei a ligar as coisas. Eu realmente tinha umas vontades parecidas. Quando minhas primas deixavam alguma roupa encima da cama, ou no banheiro, eu me vestia por uns instantes com aquelas roupas. Sentia uma sensação gostosa que não sabia explicar. Em um dia que fiquei sozinho em casa, usei as roupas por um tempo maior.
A sensação agradável apenas aumentava, quanto mais tempo eu ficava.
Descobri a masturbação. Me deliciei brincando com meu sexo e assustei quando vi aquele liquido branco sair de meu pinto. As outras vezes foram melhores ainda.
Aumentava cada vez mais o risco de me pegarem. Não demorou e aconteceu.
Meus tios descobriram e não aceitaram. Não queriam uma bichinha morando com eles. Apesar disso, agradeço a eles por terem me criado por aqueles anos. Agora eu iria me virar. Saí da casa e passei alguns dias na rua. Na primeira noite, literalmente dormi embaixo da ponte. Um inferno. Mendigos sujos e embriagados. De dia, eu andei pela cidade procurando algum lugar para ganhar algum dinheiro, alguma coisa para sobreviver. Levava uma mala velha com minhas roupas. Essa mala foi roubada por uns maloqueiros. Fiquei apenas com a roupa do corpo.
Um senhor chamado Jorge, viu que eu estava muito limpo para aquela vida e ofereceu ajuda. Pediu para acompanha-lo até seu apartamento. Ele morava sozinho em um prédio deteriorado. Uma kitnete no Centro de São Paulo. O lugar que agora estava sendo minha casa.
Deu-me um prato básico de arroz, feijão, frango e salada que era um verdadeiro banquete, tamanha minha fome. Depois tomei um banho e deu-me roupas limpas.
As roupas ficaram muito folgadas. Bem desajeitadas mesmo.
Então ele abriu um baú e tirou outras roupas. Um short, uma camisete. Logo vi que eram roupas femininas. Falou que era um baú de roupas de suas filhas quando estiveram ali por uns dias.
Um pouco constrangido, vesti as roupas que ficaram bem confortáveis. Apesar da vergonha, senti uma excitação em estar com as roupas na frente do senhor Jorge.
Ele sorriu maliciosamente e notei que também se excitou. Disfarçamos o clima.
Ele falou que eu poderia ficar uns tempos por ali, enquanto não me ajeitasse em outro lugar. Arranjar um emprego, talvez. Pelo menos por ora estava perfeito.
À noite, depois de assistirmos tv ele saiu. Eu não conseguia pegar no sono e resolvi dar umas voltas lá por baixo. Para sair decidi usar alguma daquelas roupas.
Não poderia ser um shortinho. Tinha uma caça jeans de lycra. Vesti-a. A cintura baixíssima impedia até o fechamento do zíper. Forcei bem meus apetrechos e deitando na cama, consegui fechar. No começo ficou bastante desconfortável, mas, pelo menos daria para disfarçar. Coloquei uma blusa, o mais discreta possível, já que não encontrei outra menos decotada. Era justa e deixou meus seios bem delineados.
Já tinha notado que estava com peitinhos parecendo menina moça.
Usei meu próprio tênis, que apesar de estar surrado, combinou com o conjunto.
Saí à rua e caminhei pela calçada sentindo aquele clima mágico de luzes e pessoas. à noite vista dessa forma é muito melhor. Não existem preocupações nem problemas. Um mundo de fantasia. Caminhei poucas quadras. Ouvi alguns gracejos. Minha presença despertou curiosidade mesmo naquela região. Dúvidas, será ele ou ela ?
Ouvi. Até sorri um pouco.
Passei entre algumas meninas. Sim, eram meninas mesmo. Nas portas dos hotéizinhos elas se ofereciam. Senti uma certa tensão. Estariam alguém invadindo a área. O que me protegia era a dúvida. Também, minha forma de caminhar decidida que transparecia um objetivo. Para mim era não me expor demais.
Mudei a direção do passeio e fui para o outro lado do bairro. Já tinha descoberto que os travestis ficam para lá. Minha curiosidade e excitação foi aumentando. Eu encontraria o meu mundo.
Logo avistei as primeiras. De todos os tamanhos e formas ( e idades ). Como tem viado no mundo. Se tem tanto é por que outros gostam - pensei.
Passei por um grupo que logo percebeu o que eu era a me intimidaram. Uma delas me segurou pelo braço e iria dar-me uma bofetada, se não fosse, outra que a segurou.
Era Tatiane. Incrivelmente produzida e estonteante de beleza. Usava um vestido com brilhos. Com uma maquiagem carregada. Sobrancelhas feitas.
Ela logo reconheceu-me. Vanessinha ? - Menina, isso não é lugar para você. Falou.
As outras travecas nos deixaram conversar. O clima acalmou. Tatiane era respeitada ali, também, uma mulher daquela se impõe mesmo.
Falei da minha expulsão de casa e que estava tentando fazer alguma coisa.
Ela olhou-me e falou que com aquelas roupas eu só encontraria algum papa anjo.
Ela não aconselha eu entrar nessa vida, mas, se entrar é para cair de cabeça. Tem que entrar rasgando mesmo. Ser muito gata. Uma vampira. Sugar tudo que puder. E ficar preparada para dar e levar porrada e principalmente correr.
Fiquei até assustada ouvindo isso. Eu imaginava algo mais tranquilo. Namorados procurando namoradas com algo a mais. Não, não. Isso é ficção. Este mundo é de luxuria, podridão. As vezes rola algo mais love. É raro. O normal é porrada mesmo.
Retornei ao apartamento e meu coração estava a mil. Encontrei seu Jorge dormindo no sofá, bem bêbado pelo jeito. Para dormir coloquei uma camisola que encontrei no baú. Era confortável e a noite estava quente. Me ajeitei na cama e dormi.